Quilombos: nossa vida e trajetória é de luta

por Marcos Lamoreux – Buala

Hoje conquistamos uma vitoria, amanhã sabemos que teremos alguma perda. Éramos invisíveis e agora eles nos enxergam, mas nos odeiam em dobro. Sinônimo de resistência negra, os quilombos são historicamente locais onde os escravos se refugiavam e resgatavam suas origens africanas.

A palavra quilombo é originária do idioma africano Quimbundo, que significa: sociedade formada por jovens guerreiros que pertenciam a grupo étnicos desenraizados de suas comunidades. O Território Remanescente de Comunidade Quilombola é uma concretização das conquistas da comunidade afrodescendente no Brasil, fruto das várias e heróicas resistências ao modelo esclavagista e opressor instaurado no Brasil colônia e do reconhecimento dessa injustiça histórica. Embora continue presente perpassando as relações socioculturais da sociedade brasileira, enquanto sistema, a escravatura vigorou até 1888 e foi responsável pela entrada no Brasil de mais de 3,5 milhões de homens e mulheres prisioneiros oriundos do continente africano.

Com 20 anos de existência, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ segue na luta diária pela demarcação dos territórios e soberania do povo quilombola no país, no enfrentamento ao racismo institucional, ambiental, social, cultural e principalmente na vigília constante para que as Leis sejam cumpridas, a favor daqueles(as) que dela necessitam. Não existe luta quilombola sem a participação feminina: “Em nome de todas as mulheres quilombolas que se encontram privadas de sua liberdade, ameaçadas de morte e por todas que tombaram na luta, que tiveram seu sangue derramado pelo conflito agrário, pela violência doméstica; em nome de cada menina que nasce; em nome de cada mulher que assume o papel de transformar a sociedade racista, machista, patriarcal, é que seguimos firmes, cada dia mais forte na nossas construção de uma sociedade com igualdade, respeito, sem racismo. machismo, seguimos transformando o destino e escrevendo as páginas da história das mulheres quilombolas, seguindo os passos de Dandara dos Palmares, Tereza de Benguela, Zacimba Gaba, Aqualtune e tantas outras líderes quilombolas que tiveram sua história anulada.

Mesmo comunidades já tituladas até hoje sofrem com a ação de fazendeiros, empresas, órgãos do governo, dentre outros. Reivindicam que o processo de regularização fundiária se desburocratize e seja mais ágil, pois essa lentidão implica no aumento dos conflitos. Os conflitos com fazendeiros também são grandes problemas para o povo quilombola. Expulsão de suas terras e ameaças de morte são artifícios utilizados para oprimir ainda mais o povo negro. “Sempre denunciamos ao Ministério Público, mas sabemos que a demora é grande. Às vezes chamamos o Incra, que, quando sai, continuamos a receber ameaças. Alguns foram mortos. Em São Fidélis [Norte do Rio de janeiro], os quilombolas da comunidade de São Benedito estão fora de seus territórios, mas continuam recebendo ameaças”, completa Ivone Bernardo, acrescentando que a Acquilerj está preparando um relatório sobre esses conflitos.

A construção da identidade e a perspectiva que dá forma ao pertencimento são fundadas no território e, também, em critérios político-organizativos. Nesse sentido, identidade e território são indissociáveis. A organização das comunidades quilombolas como um grupo étnico tornou possível a resistência e defesa do território, além de singularizar sua ocupação. O processo de territorialização das comunidades quilombolas está estritamente relacionado com a organização social.

Os elementos que constituem os grupos enquanto próprios e distintos da sociedade nacional, como as comunidades quilombolas, deixam de ser colocados em termos dos conteúdos culturais que encerram e definem diferenças. Conceber as comunidades quilombolas a partir dessa perspectiva tem levantado algumas ponderações sobre as manipulações que podem ser empreendidas pelos próprios sujeitos sociais pertencentes à identidade étnica.

Documentário que estamos fazendo procura evidenciar a identidade das comunidades e reforçar a luta que ja vem sendo travada para titulação das terras quilombolas, de norte a sul do estado do Rio de Janeiro. Contem entrevistas com atuais e ex lideranças quilombolas regionais e nacionais, de musica e danças também quilombolas.No momento o documentário está no período final das gravações e está previsto para lançamento em outubro de 2018.

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