Seminário debate desafios e avanços da educação do campo na Paraíba

Apesar dos avanços nesses últimos 20 anos, a educação do campo vem sendo gravemente ameaçada

Thaís Peregrino, na Página do MST

Nos últimos 20 anos, os trabalhadores rurais, através da luta, conquistaram espaço dentro das políticas de educação. Programas como o Educação de Jovens e Adultos (EJA) e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) vêm transformando a vida de milhares de camponeses.

Em todo país, 186 mil trabalhadores do campo tiveram a oportunidade de completar o ensino básico através do EJA e milhares de camponeses tiveram acesso às universidades públicas através dos 490 cursos ofertados pelo Pronera. A educação do campo vem sendo fortalecida nos últimos 20 anos para confrontar o modelo educacional convencional da educação rural. Entre a década de 1950 e 1990, 12 milhões de pessoas foram expulsas do campo, migrando para a cidades devido à estrutura rural que era extremamente desigual. A educação rural contribuía nesse processo pois negava todo conhecimento popular do campo e se negava a fornecer pensamento crítico.

Ao contrário da concepção de educação rural, a educação do campo vem ao longo desses anos propondo um novo conceito de educação, uma educação emancipadora, que prepara os trabalhadores rurais para permanecer no campo com dignidade.

Apesar dos avanços nesses últimos 20 anos, a educação do campo vem sendo gravemente ameaçada. Os cortes orçamentários estabelecidos durante o governo Temer e os anúncios de criminalização da educação do campo pelo candidato eleito à presidência Jair Bolsonaro (PSL) impõe novos desafios. O governo Temer despertou na educação um projeto de precarização da rede pública e privatização do ensino, por meio dos cortes orçamentários. A educação do campo foi prejudicada pela redução de verba destinada ao Pronera.

Já o presidente eleito Jair Bolsonaro, antes mesmo de ganhar as eleições, fez declarações que ameaçam o ensino em áreas rurais e que criminalizam as escolas conquistas pelo Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). No seu programa de governo, propõe valorizar a educação à distância para as áreas rurais. O programa não esclarece detalhes, Bolsonaro apenas defende a proposta por acreditar “baratear o ensino’’ e “combater o marxismo’’. Na última quinta-feira (25), o ex-militar, em entrevista para a emissora de televisão Aparecida, defendeu ainda o fechamento de escolas em assentamentos do MST, afirmando que as escolas do movimento “estão formando uma fábrica de guerrilheiros no Brasil’’.

As declarações de Jair demonstram o total desconhecimento da realidade agrária do país e sobre os avanços que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e demais movimentos rurais vêm conquistando para educação do campo. As urgências educacionais de Bolsonaro não levam em consideração as reais necessidades dos educandos e educadores. Em discursos, ele mostra que sua real prioridade é fazer uma perseguição ideológica à liberdade de ensino e à autonomia do professor, e sustentar as notícias falsas usadas nas propagandas irregulares de sua campanha.

Na Paraíba

No estado da Paraíba, o fechamento de escolas no campo vem endurecendo a realidade rural. Muitas são as escolas que estão sendo fechadas sob a alegação de economicidade, resultando na evasão dos educandos e educandas.

Diante desses desafios presentes e futuros, o Comitê Estadual de Educação do Campo do estado da Paraíba realiza o seu Seminário Estadual, entre os dias 30 e 31 de outubro, em Campina Grande – PB. O objetivo do encontro é fortalecer a discussão e estratégias para assegurar o direito à educação do campo e celebrar os 20 anos de caminhada da educação do campo e do Pronera.

Para Jonas Duarte, coordenador nacional do Pronera, o seminário passa a ser um ato de resistência por aqueles que pensam a educação do campo. “Nós estamos realizando o encontro dos 20 anos do Pronera e da educação do campo na Paraíba, dentro de uma conjuntura de ameaças concretas pela eleição do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro, por isso, esse encontro se transformou em um ato de resistência para projeção da educação do campo do Pronera, como resistência camponesa, resistência dos povos do campo por educação e pelo seu desenvolvimento’’, ressalta Jonas Duarte.

O comitê Estadual de Educação do Campo da Paraíba, responsável pelo evento, é uma organização composta por representantes da sociedade civil, do poder público e movimentos sociais, como o MST.

Gilmar Felipe, do setor de educação do MST – PB compreende que a educação do campo é um instrumento transformador e por isso está sendo ameaçada. “A educação do campo vem demarcando um importante espaço nos últimos tempos no nosso país, vem sendo um novo referencial educativo para o povo camponês. Com ela, o povo passa a se organizar, pensar novas possibilidade de sociedade, nova metodologia de uma pedagogia que possibilite a libertação do ser humano, por isso está sendo alvo da direita’’, opina Gilmar. Ele também reforça sobre o papel do MST para a construção da educação do campo e a importância de assegurar a unidade com outros movimentos na luta por políticas educacionais. “Nós do MST somos uma peça fundamental na história da educação do campo. Viemos ao longo da nossa história afirmando que o conhecimento é nossa arma, que permite a nossa luta e permite assegurar nossa emancipação, uma arma de luta contra os nossos opressores. Estar com outros movimentos nesse seminário, fortalecendo a unidade a partir das experiências e reflexões, é o caminho para garantirmos o nosso acesso às políticas públicas educacionais’’, completa.

Edição: Heloisa de Sousa.

Imagem: Comitê Estadual de Educação do Campo da Paraíba realiza Seminário Estadual, nos dias 30 e 31 de outubro, em Campina Grande. / Divulgação MS

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