Marçal Tupã’i e a luta pela Tekoha

Por Alenice Baeta*

Há 35 anos foi assassinado o líder indígena e ambientalista Marçãl de Souza Tupã’i(que significa ‘Deus Pequeno’).  Foi morto por lutar pelo direito à terra dos povos indígenas, sobretudo os que reivindicavam o Tekoha – os territórios ancestrais dos Guarani Kaiowá e dos Guarani Ñandeva. ‘Teko’ significa modo de estar, sistema,lei, hábito, costume. Tekoha, assim, refere-se à terra tradicional, ao espaço de pertencimento da cultura guarani. Marçãl era uma liderança incansável e reconhecida pelo movimento social no Brasil e no exterior, tendo sido indicado, inclusive, para representar os ativistas junto ao papa João Paulo II quando de sua visita ao Brasil em 1980, quando fez uma importante denúncia, cujo discurso abalou na ocasião as castas eclesiásticas e os donos do poder. Marçãl gritou bem alto: “Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos territórios são invadidos. Dizem que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto não, o Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Essa é a verdadeira história.”

Marçãl incomodava muito os latifundiários responsáveis pelas frentes de exploração da erva-mate e da cana-de-açúcar, bem como do ascendente agronegócio voltado à produção de grãos (trigo, soja, aveia) e da pecuária, que cada vez mais avançam sobre os territórios ancestrais do centro-oeste do país, comprometendo as originárias Tehoka indígenas.

Tupã’i foi vítima de uma emboscada quando levou cinco tiros, no dia 25 de Novembro de 1983 no município de Antônio João, Mato Grosso do Sul. Apesar de inúmeras denúncias sobre os mandantes do crime, sua morte está impune até hoje. Não foi o primeiro,muito menos a última liderança Guarani a ser assassinada na região.  Mas Marçal virou mito de luta.    

Em 2015 foi montada a primeira edição do espetáculo teatral-denúncia “TEKOHA – Ritual de vida e  Morte do Deus Pequeno”, que narra a trajetória de Marçãl Tupã’i e a sua histórica resistência na luta pela terra e pelos direitos indígenas.

Em 2017, o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil -UNIC Rio, visitou diversas aldeias no estado de Mato Grosso do Sul, como Marangatu, Kurusu Ambá, Ypoi e Guaiviry para a produção do documentário “Guarani e Kaiowá: Pelo direito de viver no Tekoha” quando relatores especiais enviados pela ONU que atuam nas áreas dos direitos dos povos indígenas e dos direitos humanos afirmaram em Genebra que os indígenas brasileiros estão sendo transformados pelo Estado em cidadão miserável, e que os Guarani no Mato Grosso do Sul sofrem um verdadeiro processo de perseguição, de espoliação e de “etnocídio”. Os conflitos fundiários continuam absurdos e inaceitáveis.

35 Anos de Memória

Resplendor, Vale do Rio Doce, 07 de dezembro de 2018. *Arqueóloga- Membro do CEDEFES

Foto: Líder indígena Guarani Marçal de Souza Tupã’i (Imaginario Maracangalha)

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