Na data do aniversário da sua morte, o PÚBLICO preparou uma fotogaleria da artista mexicana — uma mulher à frente do seu tempo
Por Karla Pequenino, no Público
“Nunca pinto sonhos nem pesadelos. Pinto a minha própria realidade.”
Era assim que a artista mexicana Frida Kahlo se definia. A mulher morena, latina, com sobrancelhas grossas, que viveu com espartilhos e uma coluna partida desde os 18 anos, não tinha medo de se vestir de formar inconvencional e dizer o que pensava. Ficou conhecida pelos seus auto-retratos, e telas mais excêntricas – que misturam montes e vales com figuras a boiar numa banheira – mas Kahlo sempre rejeitou a descrição de “surrealista”. A inspiração, dizia, vinha da sua vida: procedimentos médicos dolorosos, abortos, desilusões e um casamento tumultuoso.
Neste sábado, 13 de Julho, assinalam-se os 65 anos da sua morte. Em seis décadas, a vida da pintora deu azo a inúmeros romances, filmes e exposições. Em 2019, Kahlo continua a ser das figuras mais influentes na história da arte moderna. Na data do aniversário da sua morte, o PÚBLICO preparou uma fotogaleria com a vida, obra, e fãs da artista.
A história por detrás dos auto-retratos
Magdalena Carmen Frida Kahlo nasceu a 6 de Julho de 1907, em Coyoacán, México. Apesar de ser filha de um pai alemão e de uma mãe espanhola e indígena, sempre se sentiu mais próxima das raízes da progenitora e orgulhosa da cultura mexicana. Era frequente vê-la com vestidos com padrões inspirados na cultura Maia, saias compridas e garridas, e colares tradicionais com símbolos indígenas e mexicanos. A fusão saía fora do que era considerado “a norma” na época, uma mensagem sobre o orgulho na sua identidade cultural, e uma critica ao colonialismo.
A infância de Kahlo não foi fácil. A artista cresceu num clima de instabilidade política que, eventualmente, pôs fim a uma ditadura de quase trinta anos. Tinha apenas três anos quando estalou a revolução mexicana (iria durar nove longos anos), e com apenas seis anos sofreu um ataque de pólio. A doença fez com que a perna direita ficasse mais fina que a esquerda (facto que ela disfarçava com saias). Em adolescente, ficou gravemente ferida num acidente de autocarro (a coluna, pernas, e pés foram fracturados). O episódio deixou-a com dores crónicas para o resto da vida. Foi nos primeiros tempos, aborrecida e incapaz de sair da cama, que começou a pintar com aguarelas para passar o tempo. A mãe mandou fazer um cavalete especial para conseguir pintar, deitada.
Em entrevistas terá descrito o acidente de autocarro, enquanto jovem, como um dos dois grandes acidentes na sua vida. O outro, o pior, diz, foi conhecer Diego Rivera. Kahlo conheceu o aclamado pintor mexicano Diogo Rivera, quando lhe pediu uma opinião no seu trabalho. Ele era 20 anos mais velho, mas apaixonaram-se rapidamente e casaram em 1929. A relação tumultuosa, marcada por traições e um divórcio (e outro casamento) pelo meio, foi tema de múltiplos trabalhos de Kahlo. Rivera chamava-lhe “a grande ocultadora”.
“Frida era altamente política, e o que ela fazia estava sempre em linha com aquilo em que acreditava, fosse o comunismo ou o feminismo”, resumiu Lisa Small, a curadora da exposição Appearances Can Be Deceiving, sobre Frida Kahlo, que esteve até Maio no museu de Brooklyn em Nova Iorque.
Kahlo morreu aos 47 anos. Os últimos anos foram marcados por uma operação à coluna, a amputação da perna direita, e uma dependência de analgésicos. A causa oficial foi embolia pulmonar, embora nenhuma autópsia tenha sido realizada.