Christiane, Aida, Marcia, Maria, Adelia: cinco histórias de Margaridas

Mulheres de todas as idades, do campo e da cidade, levaram para Brasília diferentes pautas para o encontro de camponesas; em comum, a intenção de fortalecer a luta por seus direitos 

Por Priscilla Arroyo, em De Olho nos Ruralistas

Luta, esperança e coragem. As palavras resumem os propósitos das milhares de mulheres que ocuparam as ruas de Brasília com um chapéu na cabeça e um sorriso no rosto durante a Marcha das Margaridas, nos dias 13 e 14, maior evento de luta feminina da América Latina. Apesar dos desafios impostos pela política, estavam felizes por encontrar as companheiras e ter as suas vozes ampliadas. Elas falam, cada uma a seu modo, sobre as mudanças que gostariam de ver no Brasil.

Algumas são tímidas. Outras, articuladas. Todas são assertivas. São trabalhadoras do campo, da cidade, aposentadas, que, por motivos distintos e uma causa em comum — a defesa do direito da mulher — viajaram até a capital federal para reforçar o ato.

A marcha de 100 mil mulheres saiu do Parque da Cidade em direção ao Congresso, com centenas de faixas que destacavam suas demandas mais importantes. Primeiro vinha a chamada principal, com o lema do encontro: “Margaridas na Luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência”. Depois, um grupo segurava com orgulho faixa defendendo a agroecologia. Usada em larga escala, essa forma de manejo, que leva em conta saberes tradicionais de cultivo da terra, contribui para a produção de alimentos sem agrotóxicos.

Christiane Gerbauld Catalão, carioca de 30 anos que vive em Alto Paraíso (GO), é uma das defensoras dessa causa. Ela se dedica à permacultura, uma das formas de exercitar agroecologia. “Estou sempre plantando, transformando os meus resíduos em vida”, diz a geógrafa. Segundo ela, este é o momento de as mulheres se fazerem representar. “Temos um chamado de tentar colocar para fora a voz do feminino, assim conseguimos fortalecer a rede e ampliar a nossa voz no Brasil e no mundo”.

Aida Anacleto, servidora pública, saiu de Mariana (MG) para denunciar a mineração. “Sou atingida pela lama da Vale do Rio Doce, aliás, da Vale, que o rio não é mais Doce, porque ela matou”, afirma. “Estamos aqui hoje em defesa de um Brasil que está sendo entregue aos Estados Unidos. O país merece continuar caminhando para que possamos ter a nossa aposentadoria garantida”.

Marcia Maria Silva Pereira, de São Luís (MA), diz que está convicta de que a marcha deste ano “tem um sabor revolucionário”, por conta do enfrentamento de retrocessos propostos pelo governo Bolsonaro. A sua arma do dia a dia é a cultura popular. “Trabalho com o Bumba meu boi, repassando às novas gerações saberes ancestrais: essa é a minha contribuição para melhorar o país e a humanidade”.

Emocionada, Maria do Socorro Souza dos Santos, de Miracema (TO), preside a Colônia de Pescadores do município. “Eu amo pescar, faço isso desde os 6 anos de idade, fui ensinada pelo meu pai, que era pescador”, conta. Ela instrui as companheiras a lutar para exercer em melhores condições essa atividade que considera dura para uma mulher.

“O presidente está fazendo muito pouco pela classe trabalhadora”, avalia. “Nosso trabalho é sofrido, ficamos até meia noite no rio para sustentar a família”. Prestes a se aposentar, ela levou para o ato a bandeira contra as mudanças na Previdência Social. “Temos de dar força (às companheiras) e correr atrás dos nossos direitos”.

Aos 84 anos, Adelia Jardim levanta cedo todos os dias para cuidar da sua plantação de banana, mandioca e milho. Ela saiu de Tuneiras (PR) e seguiu sorridente, a pé, durante todo o trajeto da marcha. Acompanhada de perto pela delegação de seu estado, Adelia resume a sua presença no ato:

— É muita violência para as mulheres. Vim lutar por paz. Eu sou uma margarida que ainda sobrevive e tem força e coragem.

Foto principal: Cartazes com as demandas das mulheres durante a marcha. (Victor Moreira/De Olho nos Ruralistas)

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