Sem propriedades rurais, Daniel Silveira integra a “bancada ruralista da bala”

Ele representa os deputados violentos que se alinharam com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA); em menos de dois anos votou pela anistia de desmatadores e grileiros e pela facilitação da posse de armas

Por Luís Indriunas, em De Olho nos Ruralistas

À Justiça Eleitoral ele informou não possuir nenhum bem, em 2018. Nem urbano, nem rural. Preso na terça-feira (16) a mando do Supremo Tribunal Federal (STF) por atos antidemocráticos, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) foi arregimentado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) logo no início do seu mandato, conforme levantamento do De Olho nos Ruralistas.

Totalmente alinhado com o discurso bolsonarista, Daniel Silveira é um típico representante da bancada da bala, que se alinha ao agronegócio, formando o que se pode chamar de uma “bancada ruralista da bala”.

O que se espera de um membro da bancada da bala: Silveira votou a favor do Projeto de Lei 3723/2019, que amplia a liberação de armas para civis, alterando a lei do Desarmamento e é autor de um projeto de lei que autoriza professores a usar eletrochoque contra alunos e outro que autoriza a doação de órgãos de pessoas assassinadas pela polícia.

O que se espera de um membro da bancada ruralista: obedecendo à FPA, Silveira votou a favor das Medidas Provisórias 867, que alteraria o Código Florestal anistiando desmatadores, e 910, chamada de MP da Grilagem por prever uma ampla anistia para fazendeiros que ocupam terras públicas.

Sempre atrás de um holofote, Daniel Silveira ficou famoso por transmitir nas redes sociais a destruição de uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco. Companheiro midiático do parlamentar, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ) participou desse episódio e foi um dos protagonistas, ao lado de Silveira, de um ataque gratuito aos povos originários.

DEPUTADOS CHAMARAM INDÍGENAS DE ‘LIXO URBANO’

Em 29 de setembro de 2020, ambos foram à Aldeia Maracanã, antiga Casa do Índio no município do Rio de Janeiro para simplesmente para ameaçar os indígenas que vivem no local. Explicitamente, dizendo que a área vale muito dinheiro, Amorim, Silveira e mais quatro pessoas soltaram diversos impropérios, chamando, por exemplo, os ocupantes do local, de “lixo urbano”. Em plena pandemia, esses xingamentos foram feitos a plenos pulmões e sem máscaras.

O escasso histórico das proposições do parlamentar preso no seu primeiro mandato tem um claro cunho militar e contra a educação. Em um dos seus projetos, o deputado propõe transformar em colégio militar o tradicional colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, local invadido por ele e Amorim em outubro de 2019. Na ocasião eles foram rechaçados pelos gritos dos alunos que pediam justiça pela morte de Marielle Franco.

Nessa mesma linha, Silveira propôs proibir o desenvolvimento de atividades político-partidárias no âmbito das instituições públicas de educação superior.

Na cultura parlamentar brasileira, deputados gostam de propor homenagens e a criação dos mais diversos tipos de efemérides. Silveira não foge à regra e sugeriu uma sessão solene no Congresso pelos praticantes do fisiculturismo e a criação do dia nacional em memória das vitimas do comunismo no Brasil.

COMO POLICIAL MILITAR, SILVEIRA ACUMULA INDISCIPLINA

Como PM, Silveira acumulou 60 sanções disciplinares, 14 repreensões e duas advertências, somando 80 dias de prisão ou detenção disciplinar. Seus superiores disseram que “os atos praticados pelo soldado revelam atitudes incompatíveis com a condição de policial militar”. Entre 2013 e 2017, o deputado federal acumulou atrasos, faltas e mau comportamento. Entre as reclamações contra o PM  já aparecia sua veia midiática: os superiores puniam as gravações e postagens de vídeos ofensivos durante ações de patrulhamento, segundo os documentos revelados por The Intercept.

As tentativas de rasteiras na corporação vêm de antes de sua entrada na Polícia Militar. Silveira não poderia ter sido nomeado PM porque tinha uma passagem na polícia por venda ilegal de anabolizantes. O aspirante a cabo alegou presunção de inocência e conseguiu a nomeação na Justiça.

Outra história de delito do deputado preso foi o uso de atestados médicos falsos para conseguir uns dias de folga quando ainda era cobrador, em 2007. No inquérito, ele é acusado de comprar os documentos de um faxineiro.

Ironicamente, o deputado usou um atestado médico para evitar usar máscara em aeroportos durante a pandemia. Para não usar a “focinheira”, como ele chama as máscaras de proteção, o documento atesta que ele sente dor de cabeça por falta de CO2. Quem assinou o atestado foi Sergio Marcussi, que alegou ter distribuído outros documentos como esse.

O atestado parece não ser falso, mas o deputado continua resvalando em documentos fantasmas. Em junho de 2020, ele foi acusado de pagar R$ 110 mil para uma consultoria fundada no dia seguinte.

Foto principal (Facebook): o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) é um defensor da liberação de armas

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