Depois de escapar da reforma ministerial, Ricardo Salles voltou ao noticiário no final da semana em um esforço para “mostrar serviço” e, assim, aplacar as críticas à gestão desastrosa do ministério do meio ambiente (MMA). Em entrevista a Giovana Girardi no Estadão, Salles falou das conversas recentes com governos estrangeiros, em particular com o dos EUA, para destravar as negociações em torno do mercado internacional de carbono sob o Acordo de Paris e atrair recursos internacionais para o combate ao desmatamento na Amazônia.
No entanto, como diz o ditado, “o diabo está nos detalhes”: sobre o desmatamento, Salles disse que o Brasil poderá reduzir a devastação florestal em até 40% em 12 meses, mas somente se o país receber US$ 1 bilhão da comunidade internacional. Para efeito de comparação, o desmatamento amazônico aumentou quase 10% no ano passado, atingindo o maior índice de destruição desde 2008. Ou seja, o histórico recente não é dos mais animadores para aqueles que querem brincar de “quem pisca primeiro” com a Amazônia. Salles também fez uma revelação desconcertante: ele trabalha armado. “Não é fácil ser ministro, ser autoridade no Brasil”, comentou.
Para o Valor, Daniela Chiaretti conversou com um diplomata norte-americano sobre os termos da conversa entre os dois países. Segundo o diplomata, a Casa Branca quer que o Brasil se comprometa em zerar o desmatamento ilegal até 2030, a partir de “soluções novas e inteligentes” que envolvam também os governos dos estados e atores importantes no nível local, como comunidades indígenas e tradicionais.
A AFP também abordou a conversa com fontes do Departamento de Estado norte-americano ressaltando o diálogo cooperativo entre os dois países para a proteção amazônica, mas destacando também que é preciso um senso maior de urgência por parte do governo brasileiro nesse esforço.
Já a ex-ministra Izabella Teixeira pontuou à revista Época as dificuldades que o governo Bolsonaro terá para sair do isolamento político internacional causado pela política antiambiental do país. “Hoje, o Brasil saiu de moda. É um país que entrega desmatamento. Nos veem com muita desconfiança”, disse. Ela também afirmou que a cúpula climática encabeçada por Joe Biden no final deste mês será uma oportunidade importante para que o Brasil possa recuperar algum espaço nas discussões internacionais sobre meio ambiente e clima, mas que o país precisará mostrar mais serviço nos próximos meses e anos para escapar de eventuais sanções internacionais.
Em tempo: O Globo destacou as movimentações do ministro para se manter no cargo, que envolveram uma reaproximação com a ala militar do governo, com a qual ele protagonizou momentos tensos no último ano, e o fortalecimento do apoio da bancada ruralista à gestão dele no MMA.