Lei de Segurança Nacional: MPF e outras 10 instituições contestam urgência em projeto de lei

GT de Defesa da Cidadania vê risco de mudanças legislativas para defesa de direitos fundamentais

Ministério Público Federal na 2ª Região (RJ/ES)

O Grupo de Trabalho (GT) de Defesa da Cidadania, composto por 11 instituições civis e do sistema de justiça e coordenado pelo Ministério Público Federal (MPF), emitiu uma nota técnica contra o regime de urgência em discussão para votar o substitutivo ao Projeto de Lei 6764/2002, voltado a fixar crimes contra o Estado Democrático de Direito e revogar a Lei de Segurança Nacional (Lei 7170/1983). Na avaliação do GT, a retirada da urgência permite o debate mais amplo do projeto e evitaria riscos de agravamento da criminalização de defensores de direitos humanos, com efeitos sobre a democracia.

“O atual cenário nos demanda cautela nas ações, e especialmente se impõe assegurar que as medidas adotadas contem com ampla participação social, especialmente daqueles e daquelas que potencialmente podem sofrer criminalizações a partir do atual PL 6764/02, de modo a assegurar que não se torne mais grave o desrespeito a direitos humanos no país”, frisam as instituições nessa nota.

Outro trecho do documento destacada que,“É essencial a participação plena da sociedade sobre a construção de uma norma de tamanha relevância, dependendo para tal da realização não apenas de audiências públicas, mas de debates em uma conjuntura adequada, cuja pandemia não esteja impactando a população como no atual momento, preferencialmente após garantida a vacinação (esta, sim, uma medida de urgência a ser resguardada com a atuação imediata e efetiva do parlamento), assegurando assim a presença de todos os setores da sociedade de modo seguro e presencial.”

Para as instituições do GT, o atual PL incorre no risco severo de ter efeito inverso ao desejado, além da criminalização de defensores de direitos humanos. Entre os riscos detectados pelos especialistas, estão o desvio na caracterização do terrorismo, fomentando eventuais perseguições políticas e gerando o efeito bumerangue de ter na nova lei um dispositivo apto a fragilizar o Estado de direito.

Os signatários da nota destacam que a Lei de Segurança Nacional tem conteúdos abertos que levam ao atual uso contra o direito legítimo de expressão e manifestação. Contudo, alterações nesse marco legal exigiriam uma revisão cuja participação social seria dificultada pelo regime de urgência. Para o GT, o uso recente da lei de 1983 tem fundamentações fragilizadas e que revelam intenções contrárias ao livre exercício da liberdade de expressão e manifestação – o grupo cita casos de inquéritos abertos para criminalizar condutas do youtuber Felipe Neto, dos jornalistas Ruy Castro e Ricardo Noblat e de professores da UFRPE e UFPel.

GT – O GT Interinstitucional de Defesa da Cidadania recebe, acompanha e remete casos de violações de direitos humanos por agentes de segurança pública atuantes no Rio de Janeiro. Ligado à Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional (7CCR) do MPF, reúne ainda integrantes de Defensorias Públicas (DPU e DPE/RJ), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ), Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro, Centro de Assessoria Popular Mariana Criola, Fórum Grita Baixada, Frente Estadual pelo Desencarceramento do Rio de Janeiro, Maré 0800 – Movimento de Favelas do Rio de Janeiro, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência e Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial/Baixada-Fluminense.

Veja a íntegra da Nota Técnica.

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