Newsletter da Marco Zero, por Sérgio Miguel Buarque*
As redes sociais são um excelente termômetro para medir a temperatura do bolsonarismo. Desde muito cedo, a extrema-direita aprendeu a usar o mundo virtual para espalhar suas ideias, semear desinformação, alimentar o discurso de ódio e intimidar adversários. Aparentemente caótica e tosca, as redes bolsonaristas são coordenadas, hierarquizadas e com forte indícios de que existe uma centralização na produção dos conteúdos. Basta um comando e a mensagem desejada se espalha de forma rápida e eficiente. Em um piscar de olhos hashtags sobem e as narrativas são amarradas. Do presidente da República aos tios do pavê (“ou pra comer?”) dos grupos de WhatsApp, os discursos são os mesmos dentro da gigantesca “bolha”. Ou eram.
Nos últimos meses, a “bolha” bolsonarista tem encolhido à medida que a popularidade do “PR”, como eles chamam Bolsonaro nas suas postagens, vai erodindo. E, do Sete de Setembro pra cá, depois da frustração com as mobilizações fascistas e da postura do PR nos dias seguintes, passaram a bater cabeça. Tem muita gente furiosa com Bolsonaro, principalmente, nos grupos mais radicais e intervencionistas. O termômetro mostra que a temperatura por lá está quente. Pegando fogo.
O estopim da fúria contra o PR foi a nota assinada por Bolsonaro, supostamente escrita por Michel Temer, negando cada bravata proferida no dia 7. Pegou mal. Houve quem tentasse justificar. Mas, o que predominou foram palavras como “covarde”, “frouxo”, “fraco”, “mentiroso” e, claro, “corno”. Coisas do tipo, “melhor ser corno do que comunista” rolou por lá, juntando dois temas que atormentam bastante os cidadãos de bem com camisa da CBF. Nesse ponto do debate, ilustrando o derretimento da bolha da extrema-direita, as análises mostravam uma lavagem da oposição nas redes. O placar das interações era algo em torno de 85% pró-democracia.
Bolsonaro terminou mais fraco do que quando começou a semana. Mas as ideias que ele representa não. Ficou evidente que os fascistas são poucos, mas furiosos, barulhentos e perigosos. Como escreveu Vladmir Safatle em sua coluna do dia 8, no El País, golpe não se dá com a maioria da população. Muitas vezes, a história mostra, basta uma “minoria substantiva, aguerrida, unificada e intimidadora, pois potencialmente armada”. Por isso, não se pode baixar a guarda.
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Sérgio Miguel Buarque é cofundador e coordenador executivo da Marco Zero.
Ilustração: Junião / Ponte