MS – Estudantes reivindicam manutenção do curso de Licenciatura Indígena na UFGD

Manifestação ocorreu nesta sexta-feira, 08/04, em frente à reitoria da universidade

Jornalismo ACS/UFGD

Estudantes do curso de Licenciatura Intercultural Indígena – Teko Arandu fizeram uma manifestação em frente à Reitoria da UFGD na manhã desta sexta-feira, 08 de abril. Os acadêmicos vieram reivindicar recursos para a próxima etapa presencial do seu curso, que acontece no próximo semestre. Eles também demandaram o aumento do número de bolsas ofertadas pelo Ministério da Educação pelo programa Bolsa Permanência e a construção de uma Casa de Alternância.

Oito representantes dos estudantes foram recebidos pelo reitor pro tempore, professor Lino Sanabria. Fábio Turibo, que vem de Caarapó para estudar na UFGD, apresentou as demandas dos alunos, que se mostraram preocupados com a possibilidade de não ter aulas no próximo semestre, por falta de recursos.

Lino informou que esteve em Brasília em 28 de março, em agenda no Ministério da Educação, para solicitar recursos para os cursos de Licenciatura do Campo e Licenciatura Intercultural Indígena, ambos da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND/UFGD). O reitor foi informado que não há possibilidade de financiamento para estes cursos nos moldes em que são ofertados. Há apenas a possibilidade de o MEC financiar mais uma turma da Licenciatura indigena, por meio de um edital semelhante ao que possibilitou a criação do curso. No entanto, para o curso de Licenciatura do Campo não há previsão de nenhum projeto ou recurso.

Com relação ao Programa Bolsa Permanência, que chegou a beneficiar a totalidade dos estudantes indígenas da UFGD em anos anteriores, o professor Lino informou que a Reitoria mandou ofício para o Ministério da Educação solicitando a ampliação do número de bolsas. “Nós argumentamos que em Dourados temos a maior reserva indígena em território urbano no Brasil, e além disso atendemos estudantes de todo o Estado que vêm pra UFGD estudar. No entanto, depois que mandamos o ofício, conseguimos somente sete ou oito bolsas a mais”, falou Lino. No dia de hoje a Reitoria recebeu a notícia de que haverá um suplemento de bolsas, mas não atenderá a todos os alunos.

HISTÓRICO

Tanto a Licenciatura Intercultural Indígena como a Licenciatura em Educação do Campo foram criados a partir de programas especiais do Ministério da Educação. Em 2005, o Ministério da Educação criou o Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais indígenas (PROLIND), por meio do qual foram publicados editais em 2005, 2008 e 2009, fornecendo recursos para formação de algumas turmas, sem nunca ter se tornado uma política de apoio permanente.

No caso da Licenciatura em Educação do Campo, curso criado na UFGD em 2013, o fomento veio do edital publicado em 2012 do Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (Procampo), inserido no Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo), criado em 2010.

“Para o Ministério da Educação, os cursos da FAIND deveriam ter sido temporários, para atender uma demanda específica enquanto esses programas estavam vigentes. A UFGD manteve a oferta dos cursos sem  fazer a inclusão dos mesmos na matriz orçamentária. Ou seja, a universidade não recebe recursos do Ministério da Educação para manter esses cursos. Hoje estamos em uma situação crítica, em que não temos dinheiro para garantir as próximas etapas de aulas presenciais do Teko Arandu e da Licenciatura do Campo. Nós estamos estudando como outras universidades, a UNIR é uma delas, conseguiram incorporar esses cursos de tal forma que passaram a ser incluídos na matriz orçamentária junto do MEC. Como essas mudanças só terão efeito para novas turmas, o financiamento das atuais não têm previsão orçamentária, logo precisamos recorrer aos representantes políticos do Estado do Mato Grosso do Sul, para que nos ajudem a encontrar outro meio para manter a FAIND”, explicou Lino aos estudantes.

Curso Teko Arandu

O curso de Licenciatura Intercultural Indígena “Teko Arandu” é um curso de licenciatura voltado para a formação de professores indígenas das etnias Guarani e Kaiowá. Os professores escolhem uma das quatro áreas do conhecimento: Ciências Humanas, Linguagens, Matemática e Ciências da Natureza. A primeira turma do Teko Arandu foi formada em 2011. Os egressos do curso vêm atuando nas comunidades do Estado, melhorando o ensino nas escolas das reservas indígenas, pois estão capacitados a articular os saberes da cultura tradicional e do conhecimento científico no processo de aprendizagem de crianças e adolescentes.

“A Constituição nos garante o direito à educação indígena. Nós temos direito de estudar. Não é essa dificuldade, essa muralha que estão criando, que vai parar a juventude Guarani Kaiowá. Estamos aqui para pedir os nossos direitos. E por mais difícil que seja, seguiremos resistindo porque o povo guarani kaiowá é resistente. Confiamos que Nhanderu sabe o dia de amanhã e vai nos ajudar a superar e conquistar o que é nosso direito”, falou Luzineida Brites, aluna que vem de Paranhos para estudar na UFGD.

O estudante Eladio Benites, também de Paranhos, afirmou ao reitor Lino que a FAIND transformou a vida dos estudantes que lá se formaram e também das suas comunidades. “Sem falar que após a implantação da FAIND mais estudantes indígenas se sentiram encorajados a entrar nos outros cursos da UFGD. Então tem muitos indígenas hoje na faculdade, e nós precisamos de apoio para seguir estudando. Nós não podemos desistir, não podemos deixar que os cursos da FAIND fechem. Nenhum governo nunca deu nada de mão beijada para nós indígenas, nós sempre tivemos que conquistar tudo com muita luta, por isso nós estamos aqui hoje nessa manifestação”, explicou Eladio.

O acadêmico Jorge Sanches, que é de Dourados, salientou que a institucionalização da FAIND foi uma conquista de muitos anos de luta e organização do movimento indígena. Os mesmos movimentos estão hoje articulados para somar forças e reivindicar que a FAIND continue existindo. Witor Rocha, que é morador de Coronel Sapucaia, explicou que a manifestação que ocorreu em frente a UFGD está em consonância com o movimento nacional Terra Livre, que ocorre em Brasília nesta semana. “Agora mesmo, enquanto estamos aqui conversando com o reitor, temos parentes nossos em Brasília, cobrando no Ministério da Educação, para que os nossos cursos de Licenciatura Indígena e Licenciatura do Campo recebam verbas e não acabem. Esses cursos são muito importantes para nós indígenas e para nossas comunidades”, disse Witor.

Em resposta, o professor Lino afirmou que nos próximos dias fará uma reunião com os professores da FAIND para apresentar aos servidores a situação e discutir algumas propostas de encaminhamento. Após essa reunião, será feita divulgação das tratativas. Por fim, o reitor salientou que está comprometido a buscar a solução para que os estudantes indígenas continuem tendo acesso à universidade.

Foto de Ricardo Zanella

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