Por Irpaa
A Caatinga possui um pasto nativo de grande valor nutritivo para a criação de caprinos e ovinos. No entanto, para evitar o superpastoreio, que prejudica o desenvolvimento da vegetação local, é necessário verificar o quanto de animais a área de Caatinga pode suportar. Reconhecendo a importância desta análise, a comunidade tradicional de Fundo de Pasto Pau Preto, em Juazeiro, recebeu na última quinta-feira (12), uma formação sobre Capacidade de Suporte da Caatinga realizada pelo projeto Bahia Produtiva, executado na comunidade pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa).
A verificação da capacidade de suporte da Caatinga é feita através de cálculos. Para isso, é necessário coletar folhas verdes numa área de 25m² (área coletiva aberta), apenas o que estiver ao alcance das pessoas, simulando a forma como os animais se alimentam. E posteriormente, numa área de 1m² coletar as folhas secas que estiverem caídas no chão, a chamada serrapilheira, camada formada pela deposição de restos de plantas. Assim, através dessa amostragem, é possível verificar quantos animais a Caatinga consegue alimentar em determinado período do ano.
A comunidade de Pau Preto realizou a coleta das folhas e conheceu como é feito o cálculo de suporte da Caatinga. O colaborador do Irpaa, André Luiz, ressalta a necessidade de realizar esta análise pelo menos duas vezes ao ano, uma durante a estiagem e uma no período chuvoso, para saber quantos animais a Caatinga consegue alimentar em cada período do ano na região.
“Isso é importante por dois fatores: saber quando a gente começa a suplementar a alimentação desses animais para eles serem produtivos todo o ano, com feno e silo produzidos na própria comunidade. E quando esse número de animais começa a ser prejudicial à Caatinga não permitindo que plantas nasçam e cresçam, porque assim que brotam são logo consumidas”, frisa André.
Na análise de capacidade de suporte da Caatinga realizada na comunidade Pau Preto, foi observado que a Caatinga está boa e consegue suprir as necessidades nutricionais dos animais que pastam na localidade. Sobre este resultado, a moradora Silvana da Silva fala que “foi muito bom a aprendizagem, a troca de experiência (…) Importante também que a gente ficou sabendo pelos cálculos, que a gente tem uma quantidade de comida a mais do que a quantidade de animais (…) A gente fica com a mente tranquila sabendo que tem essa quantidade de alimento no Fundo de Pasto”.
A moradora Marielía da Rocha concorda com Silvana e diz que achou o momento “muito produtivo, porque os animais da gente precisam muito desse alimento no Fundo de Pasto (…) Agora, no verde, tem muita comida para os animais, mas na seca é bom fazer os cálculos de novo para ver como vai ficar”.
A comunidade de Pau Preto demonstrou uma realidade da Caatinga que difere de outras comunidades que, geralmente, não suportam a quantidade de animais que utilizam a área. André Luiz destaca alguns possíveis motivos que influenciaram no resultado da análise. “O período do ano que a gente está fazendo esse estudo, no qual ainda tem muito verde, segundo relato dos moradores tem áreas que os animais ainda nem entraram para comer, e o ano já ter superado a média pluviométrica da região que já passou os 500 milímetros de chuva. Então, é um ano que está fora da curva dos últimos 10 anos. A gente pretende vim reproduzir [a análise] daqui dois ou três meses para ver como está a situação da Caatinga na comunidade”, explica.
Também é necessário ressaltar que, a boa condição atual da Caatinga na comunidade de Pau Preto, não pode gerar comodismo, é preciso que as/os moradoras/es a conservem no sentido de evitar o superpastoreio, que degrada o solo e a reprodução da vegetação. Também é fundamental proteger a área da ação de grileiros, que invadem terras públicas e particulares, desmatando e explorando o território de forma ilegal e depois reivindicam a área como patrimônio privado.
Reconhecendo a importância de entender sobre a capacidade de suporte da Caatinga, as comunidades assessoradas pelo projeto Ater Agroecologia, executado pelo Irpaa, também receberão a formação. A atividade na comunidade Pau Preto, em Juazeiro, foi realizada pelo projeto Bahia Produtiva, financiado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), com recursos do Governo do Estado da Bahia, através de um acordo de empréstimo com o Banco Mundial.
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Foto: Nelson Freire/Fundaj.