Comitiva da Campanha Contra a Violência no Campo visita comunidade em conflito na região da Mata Sul de Pernambuco

A “Campanha Contra a Violência no Campo: em defesa dos povos do campo, das águas e das florestas” deu um passo importante para avançar no seu enraizamento junto às comunidades camponesas que enfrentam conflitos agrários no Brasil. Nesse domingo, 13, a coordenação nacional da campanha realizou visita à comunidade de Fervedouro, situada no município de Jaqueira, Mata Sul de Pernambuco. Essa foi a primeira agenda de base da Campanha lançada em agosto deste ano. A expectativa é que, a partir de agora, comunidades e povos vítimas de violência no campo em todo o país possam se integrar e se articular em torno da iniciativa.

por Renata Costa, em CPT NE2

Compuseram a comitiva Dom José Ionilton, bispo de Itacoatiara (AM) e presidente da CPT, Andreia Silvério e Carlos Lima, da coordenação nacional da CPT, além de agentes pastorais que atuam na localidade e representes da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape) e do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf). Na ocasião, além das famílias agricultoras de Fervedouro, representantes de outras comunidades do entorno também estiveram presentes para relatar a extensa lista de violações de direitos humanos ocorridas na região.

Diversos casos de violências foram expostos aos representantes da campanha, como ameaças de morte, intimidações, tentativas de assassinato, ameaças de despejo, destruição de lavouras e pertences. Os agricultores e agricultoras ainda relataram o uso de agrotóxico como arma química, sendo essa uma das estratégias mais recentes utilizadas por empresários da região. O agricultor Antônio Cicero, 48, da comunidade de Barro Branco, em Jaqueira, explica que “a gente vivia pacificamente, mas hoje não sabemos o que fazer. A gente sofreu ataques de todas as maneiras, com homens armados, com cães de guarda, com ameaças de morte, ameaças de expulsão, com vigília por drones. Ultimamente, estamos vivendo uma guerra química, pois estão aplicando veneno com drones em nossas lavouras. Estão matando sítio por sítio. A gente pede que as autoridades competentes tomem uma providência porque, da maneira que vai, a população rural da cidade Jaqueira vai ser extinta”, alertou.

Após a escuta, a comitiva Campanha reafirmou o compromisso de fortalecer a luta das comunidades afetadas, com estratégias nacionais que contribuam para a efetivação dos seus direitos. “Nós ficamos muito sensibilizados com tudo o que escutamos das pessoas, mas saímos contentes por perceber que as comunidades estão unidas, e lideranças locais, do poder executivo e legislativo estão somando força com as comunidades. Nós nos comprometemos, enquanto CPT e enquanto campanha, de somar forças com lideranças locais para tornar essa causa vitoriosa para o povo que vive aqui”, destacou Dom José Ionilton.

Conflitos agrários na Mata Sul de Pernambuco – Nos últimos cinco anos, conflitos agrários eclodiram na região da Mata Sul do estado em razão de transformações em sua matriz produtiva. Com a falência e desativação de usinas de cana-de-açúcar, as terras passaram a ser exploradas economicamente por empreendimentos imobiliários e por empresas de criação de gado. Essas últimas estão sendo denunciadas sob a acusação de invasão de terras e de promover práticas violentas contra as centenas de famílias camponesas posseiras que moram na região há décadas, sendo muitas credoras das usinas falidas. A Comissão Pastoral da Terra aponta que cerca de 1.500 famílias estejam sofrendo os impactos das ameaças e violência na localidade. Ainda de acordo com dados da CPT, em 2021, mais Pernambuco foi, pelo segundo ano consecutivo, o segundo estado do Brasil com o maior número de camponeses e camponesas ameaçados de morte. O estado registrou 22 pessoas vítimas desse tipo de violência, sendo 18 agricultores/as posseiros/as da região da Mata Sul.

Imagem: Setor de Comunicação da CPT NE2 – Renata Costa

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