Grande evento organizado por rede global de movimentos chega à América Latina em momento crucial para a luta pelo acesso à Saúde. Em debate, a necessidade de lutar contra o avanço da saúde de mercado e das medidas de “austeridade”
por Peoples Health Dispatch, em Outra Saúde*
Ativistas de saúde da América Latina se reuniram na Universidade Nacional da Colômbia, em Bogotá, em 30 de abril, para lançar as mobilizações preparatórias para a 5ª Assembleia Mundial pela Saúde dos Povos. A assembleia será realizada na cidade colombiana de Cali de 4 a 8 de dezembro. Sua realização será acompanhada da inauguração de um Tribunal Popular de Saúde sobre Violações do Direito à Saúde por Corporações Transnacionais. A última Assembleia Mundial pela Saúde dos Povos foi realizada em Savar, Bangladesh, em 2018.
Durante a Assembleia, os debates giraram em torno das lutas pelo acesso à saúde, bem como de suas ameaças. A programação está estruturada em cinco eixos temáticos: 1) Rumo à transformação dos sistemas de saúde; 2) Justiça de gênero na saúde; 3) Saúde do ecossistema: alimentos, energia, clima’; 4) Resistindo à migração forçada e à guerra; e 5) Saberes e práticas ancestrais e populares.
A Assembleia Mundial pela Saúde dos Povos é um dos principais programas globais do Movimento pela Saúde dos Povos (MSP). De acordo com Hani Serag, co-presidente do MSP: “Na primeira Assembleia em Bangladesh, em 2000, reafirmamos a importância de alcançar a Saúde para Todos e uma Nova Ordem Econômica Internacional. Mais de 20 anos depois, ativistas da saúde se reunirão na Colômbia para dizer que continuamos prontos para lutar por esses objetivos e não vamos deixar a saúde à mercê do mercado e das medidas de ‘austeridade’”.
O fato de que a 5ª Assembleia será realizada na Colômbia é de particular importância regional, considerando o contexto político atual. Os movimentos de saúde na América Latina, incluindo na Colômbia, estão liderando campanhas por grandes reformas na saúde. Algumas das mudanças legislativas anunciadas recentemente podem de fato representar um passo em direção a um melhor acesso à saúde – em especial para aqueles que ficaram à mercê de provedores de saúde privados e planos de saúde por décadas, em países sem um sistema público.
Carmen Baez, coordenadora da região do Cone Sul do MSP, destacou que a Assembleia acontecerá em um momento em que as pessoas na América Latina firmam sua oposição ao neoliberalismo. Os movimentos de mulheres e jovens seguem em frente em suas lutas, assim como o povo que luta contra a privatização da saúde, contra o extrativismo e pela soberania alimentar.
“Ao nos mobilizarmos rumo à 5ª Assembleia, somos guiados pela convicção de que se não lutarmos pela proteção da Mãe Terra, contra as hegemonias existentes, não conseguiremos o mundo melhor com o qual sonhamos. Nossos ancestrais e sua sabedoria são uma luz que nos guia neste contexto, que nos permitirá alcançar uma nova ordem econômica mundial”, disse Baez.
Ela também destacou que o evento que acontece em dezembro será uma oportunidade de apoiar os movimentos locais e aprender com eles. “Os jovens que estão organizando a Assembleia já lutaram nas ruas contra reformas nocivas, inclusive à saúde. Lutando nas ruas, eles aprenderam como fazer mobilização popular, sobre saúde na comunidade e agora continuam lutando por um sistema de saúde mais justo e inclusivo”, disse Baez.
A cidade de Cali foi escolhida para sediar a Assembleia devido à forte história da cidade com movimentos sociais, e por manter um espírito de resistência, força e luta. Ennue Fajardo, ativista da saúde e membro do comitê organizador da Assembleia, disse: “A possibilidade de mudança na Colômbia está representada na rebelião negra e alegre de Cali, na saúde crítica e transformadora vinda dos bairros, das comunidades rurais e da alternativa social que estamos tecendo. A realização da Assembleia aqui permitirá construir coletivamente, fortalecendo a força mobilizadora.”
Paralelamente ao anúncio formal da 5ª Assembleia, ativistas do MSP da América Latina realizaram uma reunião onde firmaram uma declaração conjunta reafirmando o direito universal à Saúde. Mais uma vez, os ativistas se posicionaram contra o modelo de conglomerados empresariais da saúde na Colômbia e além. Na declaração, eles exigem, entre outras coisas, Atenção Primária à Saúde integral, o reconhecimento da pluralidade dos povos indígenas e dos saberes ancestrais e condições dignas de trabalho no setor da saúde.
Partindo das lutas locais e regionais, o evento será “uma Assembleia para a troca de experiências, a construção de caminhos de solidariedade e tecido coletivo, a reivindicação dos direitos a partir do ajuntamento, mobilização social e popular”, concluiu a declaração.
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Foto: Ati Quigua/Peoples Health Dispatch
*Tradução: Gabriela Leite