Chuvas no Recife desmascaram racismo ambiental como verdadeiro problema, diz Rosa Amorim

Deputada estadual, Rosa defende a reforma urbana e a entrada da população periférica e dos morros no orçamento dos governos

Por Renato Santana, no GGN

As chuvas mais uma vez castigam o Recife, mas para a deputada estadual Rosa Amorim (PT) também desmascaram problemas que acentuam diferenças sociais entre os bairros da cidade com relação ao esgoto, ruas asfaltadas, calçamento, coleta de lixo. Para ela, a chuva não é o verdadeiro problema, senão o racismo ambiental.

Os casos graves estão nos morros, nas palafitas e nas periferias, onde as enchentes tomam as casas, o barro e a lama correm morro abaixo levando o que há pela frente e trabalhadores e trabalhadoras perdem o pouco que conquistaram, mal conseguindo se locomover para os empregos.

Rosa lembra que esta época do ano traz “uma grande apreensão para as famílias pernambucanas, principalmente para as famílias pobres, periféricas, que vivem nos morros. Toda barreira que desliza destrói casas, famílias, sonhos”. No ano passado, “vivenciamos a maior tragédia do século, milhares de vítimas”.

Em meio às fortes chuvas, entre maio e julho de 2022, 130 pessoas morreram devido aos resultados de desabamentos de encostas e alagamentos. A tragédia provocou ações emergenciais, que evitaram a repetição das centenas de mortes, mas são medidas paliativas. O problema persiste.

“Vivemos um momento de mudanças climáticas, mudanças ambientais sem precedentes, que provocam mudanças como a intensificação das chuvas. O problema é como o Poder Público lida com a população que vive em áreas vulneráveis. A questão da moradia é central”, aponta.

Segundo o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), Recife é a 16ª cidade mais ameaçada pelas mudanças do clima em todo o planeta.

Noites em claro

Na Assembleia Legislativa, a deputada constata que “ao longo desse último ano pouco foi feito para essas áreas”. Ela entende que há um completo abandono das famílias e os relatos que chegam são de noites em claro e desespero quando o inverno chega e as chuvas se intensificam.

Para “cada mega investimento imobiliário, há um vultuoso investimento público por trás, fornecendo a infraestrutura necessária para que a especulação imobiliária possa enriquecer um punhado de famílias em Pernambuco”, diz.

Rosa entende que é preciso uma reforma urbana para enfrentar o problema. As políticas urbanas, como é visto também em capitais e grandes cidades espalhadas pelo país, são direcionadas aos grandes investimentos do capital imobiliário e não priorizam o bem estar da população.

Reforma urbana e reforma agrária

E é neste ponto que a atuação de Rosa como integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) converge em dois assuntos: reforma agrária e reforma urbana. Sejam os sem-terras ou as populações periféricas, os dois casos precisam entrar no orçamento do Poder Público e hoje não estão.

“O direito à terra acaba sendo o mesmo no campo e na cidade. Se no campo lutamos por espaço para plantar, na cidade se luta por espaço para moradia como direito básico de existência. Racismo ambiental está nesse debate. Quem ocupa as áreas de vulnerabilidade? A população negra”, explica.

A forma como a cidade é dividida é que vai determinar os sujeitos afetados, conforme nos explica Rosa. “As chuvas desmascaram problemas que acentuam as diferenças sociais entre os bairros com relação ao esgoto, rua calçada, coleta de lixo e a periferia urbana, morros, palafitas, ruas sem calçamento”, conclui.

Chuvas no Recife

As chuvas castigaram Recife pela madrugada, chegando a acumular 136,3 mm, e seguiram a cair no início da manhã desta sexta-feira (30), levando medo para os bairros periféricos e morros, além de alagamentos por toda a região metropolitana.

Durante todo o dia, choveu; levemente, mas de forma ininterrupta. A Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) reduziu do Estado de Alerta para o Estado de Observação, pela manhã, a Região Metropolitana do Recife e as Zonas da Mata Norte e Sul.

No entanto, devido à previsão de continuidade das chuvas para a capital pernambucana no final de semana, pouco abaixo dos 100 mm, a Prefeitura do Recife abriu, de forma preventiva, 10 abrigos, com o total de 961 vagas.

Aulas presenciais na rede municipal de ensino de toda a capital pernambucana foram suspensas pela manhã. A prefeitura recomendou a suspensão das atividades para toda a rede privada de ensino.

Houve deslizamento de terra no bairro Dois Unidos, na zona norte, mas sem vítimas. Há dois dias, um homem morreu ao tentar passar de bicicleta por um túnel alagado na zona sul do Recife.

De acordo com Andrea Ramos, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as chuvas dessa época do ano estão de acordo com os mesmos padrões de anos anteriores.

A deputada estadual Rosa Amorim (PT) na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Foto: Roberta Guimarães

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