“Bolsonaro tentou transformar Forças Armadas em sua milícia”, diz Bruno Paes Manso

Jornalista e pesquisador de segurança pública da USP é o convidado desta semana no BdF Entrevista

por José Eduardo Bernardes, em Brasil de Fato

O poder e a influência que as igrejas evangélicas, as milícias e os CACs alcançaram durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) ainda pode ter consequências para o país e desencadear uma onda de violência armada sem precedentes. É o que aponta Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP).

“É um discurso de guerra para se apropriar do Estado em defesa daqueles que leem a Bíblia de forma fundamentalista e que, a partir daí, ganham dinheiro e vão ter poder, como os garimpeiros, os grileiros, os milicianos, os Brasões da vida, os que vendem madeira para fora, parte do agro”, explica Paes Manso.

O jornalista é o convidado desta semana no BdF Entrevista e analisa a sua publicação mais recente, A Fé e o Fuzil: Crime e Religião no Brasil o Século XXI. Este é o sexto livro sobre segurança pública de Paes Manso.

“É uma leitura de Estado miliciana, fundamentalista de alguma forma. O Estado deixa de ser um representante de um projeto coletivo e das diferenças. Ele passa a ser uma milícia em defesa dos aliados dessa milícia”, explica o jornalista.

“A gente vê o que o bolsonarismo tentou fazer com o Exército, tentou transformar as Forças Armadas numa milícia do bolsonarismo, os CACs, as polícias militares. Isso poderia, em algum momento, ter acontecido? Pode, em algum momento, acontecer? Essa ideologia fundamentalista, guerreira, de extrema direita, olavista, está fazendo a cabeça dessa galera a ponto deles estarem dispostos a ir para algum tipo de confronto?”

As histórias que compõem o livro foram colhidas pelo jornalista ao longo de 20 anos, enquanto se debruçava sobre a questão da segurança pública no Brasil.

“É um livro que vem desses 20 anos de apuração, em decorrência das entrevistas que eu fazia para saber sobre a violência, sobre os homicídios com o ex-bandidos, ex-matadores, que tinham se convertido, se transformado, e que eu passei a colecionar essas histórias. Para mim, eram histórias fascinantes da igreja abrindo janelas para outros caminhos, para pessoas que estavam mergulhadas no crime e profundamente arrependidas de viver uma vida vazia de mortes e homicídios, correndo para lá e para cá.”

Confira a entrevista na íntegra no vídeo acima (abaixo, confira alguns trechos da conversa).

A entrevista é de José Eduardo Bernardes e a edição de Thalita Pires, publicada por Brasil de Fato, 08-05-2024.

Eis a entrevista.

No final do ano passado você lançou o livro A Fé e o Fuzil: Crime e Religião no Brasil do Século XXI, é o teu sexto livro sobre segurança pública e acho que não é exagero nenhum colocar você como um dos principais pesquisadores do tema no Brasil. Foi na tua época de jornalista que se aproximou do tema da segurança pública?

Foi na minha época de jornalista, quando eu trabalhava na Veja e eu cobria uma editoria nacional e uma série de questões mais ligadas à política daqui de São Paulo, não próximo de Brasília. Mas a gente também tratava de questões de comportamentos, de sociedade, eu sempre gostei muito desse tema ligado ao comportamento urbano. Para mim, sempre foi muito fascinante.

E aí tinha os casos de chacinas. São Paulo era muito violenta, as periferias eram muito violentas aqui em São Paulo. Tinha mais de 50 homicídios por 100.000 habitantes, e a cidade de São Paulo estava no ápice da violência. A curva de homicídios nunca foi tão elevada como em 1999, quando eu fui fazer essa primeira reportagem. Eu fui entrevistar autores de chacinas, tive a possibilidade de fazer uma série de entrevistas e o material para mim foi muito impactante do ponto de vista pessoal, profissional.

Porque eu conheci uma outra cidade, uma outra cena que me levaria a ficar mais de 20 anos pesquisando o tema. Então, a partir dessas entrevistas, elas me provocaram tanto que num primeiro momento eu falei: “eu não consigo mais pensar em outra coisa”. Deixei a redação, fui fazer um mestrado e o doutorado, e voltei para as redações depois que eu tinha feito os créditos do doutorado.

E aí, nas redações, eu voltei à rua, ao campo, porque redação te dava essa possibilidade de você estar sempre na rua. E continuei minhas pesquisas junto com o trabalho de jornalismo.

Essa violência que você comenta, dos anos 1990, ela já era ligada ao tráfico de drogas ou ela tinha muito a ver ainda com justiceiros? Quem eram esses matadores que aumentaram esse número de homicídios em São Paulo?

Eu costumo mostrar na minha pesquisa um gráfico de 100 anos de homicídios em São Paulo, que tem início no começo do século 20 até os dias de hoje. E é curioso que de 1900 até 1960 nunca passa dos 10 homicídios por 100 mil habitantes, fica entre cinco e sete homicídios por 100 mil habitantes, numa relativa constante.

Era uma cidade violenta, mas era uma cidade ainda concentrada em torno do centro, que as mortes quase sempre giravam em torno do núcleo familiar. Muitos maridos matando a mulher, você tinha o feminicídio já muito presente por causa da cultura machista da época, que enxergava a mulher como posse e qualquer deslize, muitas vezes, gerava o feminicídio, que se chamava na época crime passional.

Mas tinham também as revanches, brigas de comércio, dívidas de dinheiro, mas muito ligado a um problema que levava o homicida à prisão, que era visto muitas vezes como um cara que não segurava a sua onda, que tinha um baixo controle, muitas vezes esse crime era associado à bebida, a perda de autocontrole por causa do uso de exagerado de bebida.

Esse perfil de homicídio começa a mudar depois dos anos 1960. Os homicídios começam a crescer numa curva ascendente que, ao longo de 40 anos, vão crescer mais de 900%. E o que começa a acontecer nesse processo? As periferias começam a crescer, começam a adensar os centros urbanos e os bairros no entorno de São Paulo também.

Num primeiro momento, nos anos 1960 e 1970 era relativamente tranquilo. Eu lembro de um comerciante de Diadema que distribuía leite nos anos 1970, e ele fala que deixava os leites às 4 da manhã na porta das pessoas, tinha uma relação de proximidade. Algo começa a acontecer nos anos 1980, que a coisa começa a degringolar.

E o que que começa a acontecer e também faz parte desse processo, é que você passa a ter uma polícia, nos anos 1970, muito vinculada à proteção das áreas centrais de São Paulo, contra os bairros vistos como perigosos, que eram as periferias, atuando nas populações vistas como suspeitas e perigosas. Você tem a Rota [Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, primeiro Batalhão de Polícia de Choque] começando a matar, você tem muitos homicídios sendo feitos e a violência passa a ser vista como um instrumento de produção de ordem.

Também como um desdobramento da violência da ditadura, né?

Vem do desdobramento da ditadura militar, mas se passa a usar a violência para ensinar a periferia, como se a violência fosse capaz de ensinar a periferia a obedecer e, ao mesmo tempo, para exterminar e tirar as pessoas perigosas do convívio. Se imaginava que a violência podia ter algo de positivo, um instrumento da produção de ordem, ao contrário do que existia até então nos anos 1960, que a violência era vista como perda de autocontrole, como loucura, como crime passional, irracionalidade. Nos anos 1960, a violência passa a ser usada como um instrumento de produção de ordem. Vai pela polícia, mas vai também pelos justiceiros.

Porque você tem as pessoas que vivem em São Paulo, os migrantes vindo das zonas rurais, que começam a trabalhar nas indústrias e começam a fazer o processo de autoconstrução, produzir seus bairros, criar seus bairros, com a luta dos movimentos sociais. Os filhos, os netos, os descendentes desses migrantes, eles nascem na cidade meio que menosprezando a cultura rural dos pais, que eles enxergam como anacrônica, como ignorância.

E o uso da violência e da cultura do consumo passa a ser usada por essa geração, que precisa construir uma identidade urbana numa cidade violenta e que nega a identidade dos pais. O crime passa a ser uma das identidades possíveis, porque a identidade masculina do jovem que não abaixa a cabeça para o sistema, que não aceita ser desrespeitado, que compra, que tem mulher, que tem respeito, que consome, é uma das identidades possíveis que entra em choque com a cultura dos pais.

E muitos desses justiceiros são nordestinos que passam a usar também a violência para tentar promover a ordem nas periferias. Só que ao contrário.

Neste período, sem associações criminosas?

Não, sem associações criminosas, muitos deles bancados pelos comerciantes que têm seus comércios locais e passam a ser assaltados com recorrência a partir dos anos 1980 por essas novas gerações, que vivem uma crise de emprego muito grande e uma crise econômica profunda.

E essa suposta ordem imposta pela violência produz reações violentas, círculos de vingança, respostas violentas a esses que tentavam produzir ordem pela violência. Ela produz vingança, produz reação, uma corrida armamentista, produz respostas violentas e muito mais desordem, que vai chegar explodindo no final dos anos 1990 transformando São Paulo em uma das capitais mais violentas do Brasil.

E de onde veio a ideia de escrever esse teu novo livro, onde você narra, a partir de encontros com ex-matadores e criminosos que se converteram em religiosos, a história dessa simbiose do crime e a religião no Brasil?

Eu tinha escrito um livro pela Record sobre os matadores, que é o Homem X, e essa fala deles no começo dessas minhas entrevistas, dizendo que “todo mundo que eu matei merecia morrer. Eu nunca matei nenhum inocente”, era uma convicção muito perturbadora e eu conto um pouco dela no livro. E sobre os círculos de vingança, sobre como cada homicídio produzia respostas, e às vezes mais de 200 homicídios em decorrência de um único homicídio.

No segundo livro eu já escrevo sobre o PCC, que é uma reconstrução de um discurso que fala: “gente, a vingança está sendo autodestrutiva. Ladrão precisa parar de matar ladrão, a gente tem que bater de frente com o sistema, o nosso inimigo é a polícia”. Então, você tem um novo discurso que desconstrói a vingança e produz um novo tipo de comportamento a partir de uma nova mentalidade criminal que o PCC começa a formar e que faz o crime ir para as fronteiras da América do Sul, ganhar muito dinheiro em dólar e tudo mais.

Aí vem o bolsonarismo, o Rio se torna o foco e eu escrevi sobre as milícias. Esse livro da fé e do fuzil é um livro que vem desses 20 anos de apuração, em decorrência das entrevistas que eu fazia para saber sobre a violência, sobre os homicídios com o ex-bandidos, ex-matadores, que tinham se convertido, se transformado, e que eu passei a colecionar essas histórias.

Para mim, eram histórias fascinantes da igreja abrindo janelas para outros caminhos, para pessoas que estavam mergulhadas no crime e profundamente arrependidas de viver uma vida vazia de mortes e homicídios, correndo para lá e para cá, desligados da mãe, da irmã.

Essas histórias eu vinha colecionando, mas eu não sabia o que fazer com elas, porque eram histórias muito ligadas a experiências místicas, a epifanias, a “metanoias” como eles diziam, de conversões místicas, de sonhos e visões e tudo mais. Mas como jornalista, eu falava: “como é que eu vou contar essas histórias? São histórias muito pessoais. Vou falar da crença na umbanda, do candomblé, do evangélico, do espírita? Eu vou entrar numa seara que não é a do jornalismo. Eu, um agnóstico, como é que eu vou entrar nessa cena?”.

Só que aí, cobrindo as milícias, eu fui no Complexo de Israel e acompanhei a história da comunidade, que são duas favelas, Vigário Geral e Parada de Lucas, que passam a ser controladas por um traficante, que era um traficante pastor e que se diz ungido, que disse ter sonhado com Deus, que passou para ele uma missão de conquistar outras favelas nos arredores. Ele monta o Complexo de Israel a partir dessa mensagem dada por Deus durante um sonho.

E para mim isso era muito surpreendente, porque ele passa a fazer uma nova gestão. Ele coloca uma Estrela de Davi neon em cima da caixa d’água, ele proíbe o uso do crack, passa a pintar “Jesus é Dono do Lugar” em vários muros – a Viviane Costa escreve muito bem no livro dela Traficantes Evangélicos sobre essa cena – constrói pontes, presta contas de quanto custou a ponte, é uma coisa assim, impressionante.

Mas ainda mantêm a estrutura baseada no tráfico?

No tráfico, só que ele só vende maconha hidropônica. Não vende mais crack e só passa a vender maconha. Mas com esse discurso religioso, o que que era novidade para mim. Esse cara estava usando o discurso e a religiosidade, todo esse discurso místico, para produzir uma autoridade, para gerar poder, para produzir obediência.

É uma metáfora do bolsonarismo, que também chega com muita força, de um presidente que se enxerga como um ungido, como representante da luta do bem contra o mal, que se vê como um messias, ainda mais depois que ele sobrevive a um atentado e passa a usar a Bíblia como um fundamento para o seu poder, numa batalha espiritual onde a esquerda representa o mal e ele representa o bem. Aí eu pensei, bom, passou da hora de eu escrever esse livro.

Você acha que o poder das igrejas evangélicas neopentecostais que se espalharam pelas periferias e viraram referências nas quebradas de São Paulo, por exemplo, para o assistencialismo, elas aparecem em um vácuo do Estado?

Eu acho que sim, é um vácuo do Estado, mas é um vácuo existencial também, porque eu senti isso escrevendo esse livro. Eu comecei a fazer um curso de pastor, um curso online, comecei a participar de todos esses debates, fazer leituras bíblicas de hermenêuticas. Eu digo que eu tinha feito o doutorado e não entendia direito o que era hermenêutica.

Eu entendi o que era hermenêutica, de fato, conversando com os evangélicos, que me explicaram a questão da interpretação da Bíblia, a exegese, a busca para você entender o exato sentido da palavra original em aramaico, em hebraico, em grego. Eu tive aula de grego com um cara de quebrada. Eu fiquei passado, o cara dando aula online de grego, com didática.

Toda essa cena era muito impressionante. Os debates que eles faziam… eu ouvia podcasts, via vídeos, YouTube, você entra nessa cena. E me lembrava muito os debates de mesa redonda de futebol que a gente via: “foi pênalti ou não foi pênalti?”. E neste programa os pastores discutiam se o Espírito Santo pode derrubar alguém no chão ou não pode? Um dizia que pode, o outro que não pode e ficavam uma hora discutindo isso.

E tinha uma questão de fundo que era a questão existencial, de qual o sentido da vida. E a gente acaba esquecendo essa questão, mas é uma questão fundamental para a gente. Porque a vida é muito difícil, não tem tempo para nada, correndo atrás de dinheiro. E chega um momento que a gente se pergunta: “para que todo esse sofrimento?”. E eles estão enfrentando isso, eles tentam responder todas essas questões metafísicas e buscam responder a essas questões existenciais com toda racionalidade.

Então, essa questão existencial eu achei interessante ver como eles trabalhavam, oferecendo um propósito de vida, oferecendo um sentido para a vida, um caminho. “Você acredita no que eu estou te falando? Acredito. Então você vai se comportar dessa forma e a sua luta vai ser essa e você vai amar Deus, e Deus vai te amar, e você vai se amar. Você vai ter amor próprio e as pessoas que pensam como você vão fazer parte da sua rede e vocês vão ganhar dinheiro. Todo mundo vai se ajudar, vai ser empresário”.

A relação entre a religiosidade e as facções criminosas já é uma realidade, mas o quanto essa influência já se espalhou para as milícias também?

Tem esse caso do Complexo de Israel, tem o caso do Fernandinho Guarabu, que era sócio do braço direito do Adriano Magalhães da Nóbrega, no Morro do Dendê. Ao mesmo tempo, a gente tem o bolsonarismo, o próprio Silas Malafaia e essa religiosidade guerreira.

É um discurso de guerra, para se apropriar do Estado, em defesa daqueles que leem a bíblia de forma fundamentalista e que, a partir daí, ganham dinheiro e vão ter poder, como os garimpeiros, os grileiros, os milicianos, os Brazões da vida, os que vendem madeira para fora, parte do agro.

Eles veem o Estado como um facilitador para ganhar dinheiro e associar dinheiro com poder, e esse poder legitimado em defesa do bem, dos valores fundamentalistas bíblicos. Então, de alguma forma, você transforma a política numa guerra e o Estado e todos essas figuras armadas que vão cada vez mais se armar num exército em defesa dos seus aliados.

Então, é uma leitura de Estado miliciana, fundamentalista de alguma forma. Porque o que é o Estado moderno? O Estado moderno é aquele que vai exercer o monopólio legítimo da força, democrático, com seus representantes sendo eleitos por aqueles que votam de forma consciente, para um projeto coletivo que beneficia a maioria. O Estado age em defesa da maioria, defende o direito, inclusive das minorias e permite que as diferenças convivam.

Esse é o objetivo de um Estado moderno, e a luta política deveria ser capaz de produzir uma sociedade mais justa e menos desigual. Essa era a nossa utopia da política e essa é a nossa utopia política. Mas os evangélicos, o bolsonarismo e a extrema direita enxergam a política de uma outra forma.

“É uma luta contra os nossos inimigos que são comunistas, feministas, que querem acabar com a família, defensores dos direitos LGBT, que querem acabar com os valores da família, globalistas que participam de conspirações mundiais. E a gente está nessa guerra do bem contra o mal. E a gente vai vencer essa guerra, tomar o Estado para que só os nossos aliados se beneficiem do Estado”.

O Estado deixa de ser um representante de um projeto coletivo e das diferenças. Ele passa a ser uma milícia em defesa dos aliados dessa milícia. A gente vê o que o bolsonarismo tentou fazer com o Exército, tentou transformar as Forças Armadas numa milícia do bolsonarismo.

E que, de certa maneira, conseguiu. Teve resistências importantes que impediram, por exemplo, um golpe de Estado.

A gente evitou o golpe de Estado, mas era um objetivo de transformar a política em um cenário de guerra.

Quem acompanhava as Forças Armadas, por exemplo, dizia que cabos e outras patentes tinham muita proximidade com os ideais bolsonaristas…

E os CACs, as polícias militares… isso poderia, em algum momento, ter acontecido? Pode, em algum momento, acontecer? Essa ideologia fundamentalista, guerreira, de extrema direita, olavista, está fazendo a cabeça dessa galera a ponto deles estarem dispostos a ir para algum tipo de confronto?

Em algum momento a gente fala: “caramba, será que isso realmente vai acontecer?”. Esses caras parecem acreditar nisso. E como é que a gente desconstrói essa visão de guerra? Não é entrando na guerra, a gente não pode entrar na guerra. A gente precisa desconstruir a guerra e trazer a política de volta. Vamos nos armar e lutar um contra o outro? Não vai dar para acontecer isso.

São momentos difíceis, momentos tensos, mas é uma leitura de Estado diferente do que a gente tinha com a modernidade, e da forma como a gente discutia a política. A extrema direita está chegando com uma outra cena, com uma outra leitura da coisa, disposta a transformar a política na guerra. Esse é o nosso temor.

Aí chega o Tarcísio [de Freitas] cooptando a Polícia Militar, colocando um monte de gente da Rota no comando, os amigos do [capitão] Derrite, aqueles que defendem e aplaudem o extermínio de 80 pessoas na Baixada [Santista], como se isso fosse uma vitória e não sinal de incompetência e de crime. Enquanto eles aplaudem isso, a gente vê essas coisas acontecerem, tentando imaginar como é que a gente segura e reduz os danos dessa nova leitura da política?

Edição: Thalita Pires

O jornalista e pesquisador Bruno Paes Manso – Divulgação

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