Por Solange Engelmann, Da Página do MST
Por meio de uma parceria com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, trabalhadoras e trabalhadores Sem Terra da brigada internacionalista do MST na Venezuela desenvolvem o projeto Pátria Grande do Sul, voltado para a produção de alimentos saudáveis em um terreno de mais de 10 mil hectares no estado Bolívar, no sul do país.
Segundo Simone Magalhães, do setor de internacionalismo do MST e coordenadora da Brigada Internacionalista Apolônio de Carvalho, o Projeto representa o esforço do governo bolivariano em aprofundar iniciativas para desenvolver uma economia para a vida no país e fortalecer a consolidação da Soberania Alimentar, garantindo o abastecimento do mercado interno.
“O Projeto do governo bolivariano em parceria com o MST representa o anseio do governo revolucionário da Venezuela em estreitar laços de cooperação bilateral com o MST, que acumulou experiência nestes temas ao longo de seus 40 anos de resistência. Sendo o MST uma organização que busca a produção de alimento saudável e a construção de uma sociedade socialista, o governo bolivariano nos convidou para contribuir no processo de ampliação da capacidade produtiva de alimentos e recuperação do meio ambiente, baseados na agroecologia, fortalecendo a soberania alimentar e o poder popular no país”, afirma Simone.
A militante explica ainda, que historicamente a Venezuela dependia principalmente da renda petroleira para importar 98% dos alimentos e produtos que se consumia no país. Realidade que aos poucos vem mudando a partir de avanços na produção de alimentos, “sobretudo num cenário das ações imperialistas que tentam estrangular a economia e as relações comerciais da Venezuela com os países, o que exigiu do país, do seu povo e do governo esforços no sentido de conseguir escapar desta dependência de abastecimento externo”, destaca.
O Projeto foi lançado no dia 23 de setembro em reunião com o presidente Maduro, que na ocasião reforço o compromisso com a produção agrícola venezuelana e a necessidade de mudança do modelo econômico, voltado para a produção da agricultura familiar. Maduro também elogiou o trabalho desenvolvido pelo MST na produção de alimentos. No início de setembro, o presidente realizou a doação de um terreno de mais de 10 mil hectares para viabilizar a experiência modelo, com foco na produção de alimentos agroecológicos no país.
O MST está presente no país há mais de 17 anos contribuindo na Revolução Bolivariana na Venezuela, através da Brigada Apolônio de Carvalho, com militantes que atuam em parceria com as comunas venezuelanas e contribuem em projetos nas áreas de produção agroeológica, soberania alimentar, produção de sementes, trabalho cooperativo e formação política, além de manter intercâmbio de estudantes em medicina.
O Projeto Pátria Grande do Sul irá funcionar a partir da articulação com campesinas e campesinos, organizados em comunas e conselhos comunais, que desejam participar, a partir de seus lotes e sítios, em que já produzem para a sua subsistência, mas que também desejam ampliar ou beneficiar a sua produção. Ao mesmo tempo, organizações do poder popular como os conselhos comunais, comunas entre outros grupos farão parte dos esforços na organização do trabalho associativo.
O papel do MST no projeto será de socializar suas experiências desenvolvidas na área da produção de alimentos, promover intercâmbio formativo-produtivo, com seus institutos e escolas de agroecológicas, bem como na formação teórico-prática com os seus técnicos-militantes, com base no no programa de Reforma Agrária Popular, explica Simone. Por se tratar de um espaço de produção agrícola e organização social do trabalho, esse será um processo de médio largo prazo, em que alguns resultados poderão ser identificados a partir dos primeiros 12 meses.
Simone ressalta que o projeto de Reforma Agrária Popular do MST também é anticapitalista e antiimperialista em todas as dimensões da vida social. Nesse sentido fortalecer a luta do povo venezuelano também representa uma tarefa tanto para o MST, como para os movimentos e organizações populares de luta do mundo.
“A ofensiva do capital sobre a agricultura e bens naturais, especialmente sobre a terra, tem acelerado o processo de concentração de riqueza, produção de desigualdades, além da crise climática sem precedentes que coloca em risco a própria existência dos seres humanos. Pensar com a Venezuela e seu povo organizado, alternativas para a produção de alimentos que rompam com o modelo do monocultivo e da mercantilização da agricultura e dos bens naturais é uma oportunidade de fortalecer as nossas experiências em agroecologia e na busca de um modelo de produção que tenha como centralidade a vida e o direito popular a produzir alimentos, preservando a biodiversidade e os bens naturais”, conclui.
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Imagem: Acervo Projeto Pátria Grande do Sul