Tuberculose: nas vacinas, uma esperança

A doença é a mais letal e a mais antiga do mundo. Três imunizantes que podem contê-la estão em fase avançada de estudos – e um Conselho Acelerador da OMS busca direcionar investimentos e traçar estratégias para distribuí-la de forma igualitária

Por Shelly Malhotra e Mike Frick, no Health Policy Watch | Tradução: Gabriela Leite, Outra Saúde

Nesta semana, especialistas e formuladores de políticas estão reunidos na Conferência Mundial sobre Saúde Pulmonar da organização The Union para discutir a tuberculose. Trata-se da doença infecciosa mais letal e mais negligenciada do mundo. Desde o início do século 20, mais de um bilhão de pessoas morreram de tuberculose – um número de mortes maior que o de malária, varíola, HIV/aids, cólera, peste e gripe combinados.

A meta oficial da ONU de reduzir as mortes por tuberculose em 75% entre 2015 e 2025 agora está fora de alcance. E muitos acreditam que a meta de 2030, de reduzir a doença em 90%, também será difícil de ser conquistada – a menos que haja um aumento urgente nos investimentos em novas ferramentas que ajudem a controlar a curva da epidemia.

Vacina promissora

Os avanços científicos na tuberculose, nos últimos cinco anos, estão trazendo mudanças importantes na forma como a doença é tratada. Outro fator importante: também avançam as pesquisas que possibilitarão o desenvolvimento de uma vacina há muito esperada – historicamente necessária para acabar com a crise de saúde pública causada pela tuberculose.

A vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin), com mais de 100 anos, ainda é a única que ajuda a prevenir a tuberculose. Ela é administrada principalmente em bebês e crianças para prevenir formas mais graves, como a meningite tuberculosa, que afeta o cérebro. No entanto, a vacina é essencialmente ineficaz para os mais de nove milhões de adultos e adolescentes que desenvolvem a doença a cada ano.

Isso pode mudar nos próximos anos, se uma das três vacinas preventivas atualmente em fase III de testes demonstrar segurança e eficácia. São elas: a MTBVAC, financiada pela IAVI e Biofabri; a M72/AS01E, apoiada pelo Gates Medical Research Institute; e a candidata VPM1002 do Instituto Serum.

No entanto, será necessário financiamento adequado para que isso se torne realidade. Infelizmente, financiamento adequado é algo que a tuberculose nunca teve, mesmo sendo uma doença que afeta desproporcionalmente as populações mais pobres do mundo.

A ciência nos trouxe até aqui e agora é hora de concluir o trabalho – não podemos esperar outros cem anos para finalmente entregar uma vacina de ampla eficácia. Enquanto aguardamos os resultados dos ensaios clínicos, também precisamos começar a nos preparar para a sua possível distribuição.

Como evitar a desigualdade vacinal

A compreensão clara da escala da demanda por vacinas contra a tuberculose será essencial para garantir que a capacidade de produção adequada seja construída e mantida para entregar as doses necessárias – uma vez que uma nova vacina seja licenciada por agências reguladoras e recomendada por autoridades de saúde pública. Este é um novo terreno para a resposta à doença e será um empreendimento custoso, que exigirá um tempo significativo de preparação.

A resposta à covid-19 trouxe alguns ensinamentos valiosos sobre o que pode ser realizado com investimentos adequados no desenvolvimento clínico, redução de riscos na ampliação da produção e ampla distribuição de vacinas. Ao mesmo tempo, escancarou desigualdades na oferta entre países que produzem e os que não produzem vacinas – além de incentivar um movimento pela produção regional soberana.

Conselho Acelerador da Vacina contra a Tuberculose

O Conselho Acelerador da Vacina contra a Tuberculose foi anunciado no ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com ministros da Saúde de vários países onde a doença está presente, além de bancos de investimento e principais organizações filantrópicas. Ele pode ajudar a estabelecer as bases nos próximos anos para a distribuição eficaz de novas vacinas contra a tuberculose, principalmente para pessoas que vivem em países onde a prevalência da doença é mais alta. Este objetivo deve ser atingido com a urgência da resposta à covid – mas com um compromisso inabalável com a equidade que a resposta à covid não teve.

Os esforços do Conselho receberam um apoio no início deste ano, quando a Gavi, a Aliança de Vacinas, decidiu incluir as vacinas contra a tuberculose como parte de sua estratégia de investimento. O financiamento da Gavi fornecerá uma linha de suporte essencial para garantir a disponibilidade dessas vacinas nos 54 países elegíveis para seu apoio.

O apoio da Gavi será instrumental, pois poderá assegurar os recursos necessários para que esses países financiem a aquisição de vacinas. Mas também servirá para apoiar o estabelecimento de canais de distribuição para alcançar populações adultas e adolescentes. Esses públicos são fundamentais para conter o avanço de novas infecções, mas estão fora dos programas de imunização infantil rotineiros.

Desafios enfrentados pelos países onde a tuberculose é mais grave

Em paralelo, são necessárias estratégias para apoiar o acesso às vacinas contra a tuberculose em países de renda média que, tendo sido elegíveis para o apoio da Gavi ou não, enfrentam o maior número de casos da doença.

Essas estratégias devem incluir investimentos em plataformas de distribuição de vacinas e mecanismos para que os países façam compras em grupo, inclusive regionalmente, para aproveitar o volume coletivo em prol de um maior poder de negociação. Todos os que estão reunidos na Conferência da União nesta semana também devem considerar soluções políticas que indiretamente permitiriam aos países de renda média investir mais em sistemas de saúde e entrega de vacinas, incluindo perdão e alívio da dívida soberana.

Foto: Walterson Rosa/MS

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