Seminário da Fiocruz debate emergência da crise ecológica e climática

Suzane Durães (VPAAPS/Fiocruz)

Começou na terça-feira (15/7), na Fiocruz Ceará, o 5º Seminário de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade – Fiocruz Frente à Crise Ecológica e Climática. O evento, que prossegue até sexta-feira, reúne representantes do governo e dos movimentos sociais para debater uma agenda institucional frente a essa emergência planetária. Acesse o canal da Fiocruz no YouTube para assistir ao primeiro dia do evento.

Na abertura do seminário, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, destacou o papel da ciência, das populações tradicionais e das comunidades vulnerabilizadas, além da necessidade de fortalecer políticas públicas como o Sistema Único de Saúde (SUS). Rangel lembrou do debate realizado pela Câmara Técnica de Saúde e Ambiente (CTSA), na qual a questão climática, a questão demográfica e a Agenda 2030 estiveram fortemente presentes. Segundo ele, na ocasião “foi indicado que a Fiocruz deveria envidar esforços no sentido de colocar a pauta ambiental no centro das preocupações da pesquisa, da educação, da inovação, da saúde global, da vigilância em saúde e da gestão da instituição, de forma integrada”. O evento é coordenado pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz).

Para Emma Rawson Te-Patu, mulher indígena maori da Nova Zelândia que se tornou a primeira presidente da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA), o conhecimento indígena é a chave para uma sociedade planetária mais sustentável. Ela destacou elementos para uma vida saudável, como a autodeterminação dos indivíduos e das comunidades; a equidade; a liberdade religiosa e espiritual, incluindo a preservação da língua e da cultura.

O representante do Grupo da Terra, Anderson Amaro, destacou a crise civilizatória que desdobra em outras, como ambiental, política, alimentar, sanitária e energética e que, segundo ele, exige ações em diversas frentes. Para Amaro, a solução está na agroecologia e na aliança dos povos e da cidade. “A luta por saúde também é a luta por terra e por alimentos sem veneno. Seguimos nessa luta, com força e organização popular”, disse.

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Mariângela Simão, lembrou que em 13 de novembro será celebrado o Dia da Saúde, na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30. Na ocasião será apresentado o Plano de Ação de Saúde de Belém, uma proposta para fortalecer a resiliência dos sistemas de saúde para a crise climática.

Na avaliação da representante da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Akemi Kmurura, além das questões relacionadas às mudanças climáticas, é fundamental que também se pense na geração de evidências, na participação social, nas parcerias e no fortalecimento dos conhecimentos tradicionais e comunitários. A coordenadora da Fiocruz Ceará, Carla Celedônio, enfatizou que a sustentabilidade do planeta é uma responsabilidade coletiva que exige a colaboração de todas as pessoas. Também participaram da mesa de abertura a representante do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Maristela da Silva; o deputado estadual e presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Ceará, Renato Roseno; e o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc), Paulo Garrido.

Responsabilidade coletiva

A vereadora, marisqueira e quilombola da Ilha da Maré, em Salvador, Eliete Paraguassu, abordou a questão climática e a trajetória das mulheres da sua comunidade na preservação ambiental. “A nossa produção de alimentos está em risco, a segurança alimentar diariamente está em perigo e a gente não enxerga um outro parceiro além da Fiocruz nesses territórios. Enquanto guardiãs de lugares sagrados e ancestrais, que alimentam e trazem vida, sabemos que a participação de vocês é muito importante”. Ela ressaltou a necessidade do cuidado com as pessoas que preservam o meio ambiente.

O primeiro dia do evento foi encerrado com o painel O ambiente na práxis da saúde coletiva. Participaram da atividade Emma Rawson; o representante da Associação Latino-Americana de Medicina Social (Alames), César Celis; o presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Rômulo Paes; e a vice-presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), Lenaura Lobato.

Segundo Lenaura, “falar de saúde e ambiente hoje, talvez implique em pensarmos um projeto político unitário para enfrentar as consequências decorrentes da crise climática e do modelo capitalista radicalizado”. Para ela, “o componente político, que exprime a noção em si de práxis, precisa ser ampliado e fortalecido. Além disso, precisa encontrar unidade capaz de transformar iniciativas fragmentadas de defesa da sustentabilidade em um projeto coletivo, que unifique sujeitos e aspirações de uma vida sustentável para todos”.

O painel foi coordenado por Guilherme Franco Netto, da Coordenação de Saúde e Ambiente da VPAAPS e do 5º Seminário, que destacou a importância do evento para suscitar o debate sobre como têm sido trabalhados o campo da saúde e ambiente no contexto da saúde pública. “Existem várias perspectivas e apontamentos colocados aqui; essa é uma agenda que ainda está em andamento e precisa avançar. Nosso seminário busca justamente cumprir esse propósito, apontando teses e diretrizes para o X Congresso Interno da Fiocruz”, disse.

Imagem: O evento reúne representantes de movimentos sociais, do governo e pesquisadores da Fiocruz (Foto: Suzane Durães)

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