Universidade Federal Indígena é ‘grande conquista’ e deve iniciar atividades em 2026, diz coordenador da Apib

Proposta foi construída em diálogo com comunidades, professores e organizações indígenas ao longo de anos de mobilização

Adele Robichez E Lucas Krupacz E Nara Lacerda, Brasil de Fato

A criação da Universidade Federal Indígena (Unind), demanda histórica dos povos originários, avançou após o governo federal enviar ao Congresso Nacional o projeto de lei que institui a nova instituição. A expectativa é que a estrutura seja implementada ao longo de 2026, com início das atividades ainda no próximo ano caso a proposta seja aprovada. Para o coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Kleber Karipuna, trata-se de uma “grande conquista” construída a partir de décadas de mobilização.

O coordenador afirmou que a proposta nasce do reconhecimento de que “a universidade nasce há 525 anos”, referindo-se ao modo próprio de produção e transmissão de conhecimento dos povos indígenas. Ele destacou que a iniciativa é resultado da atuação de professores reunidos no Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNE). “A Apib buscou articular com o governo federal, o Ministério dos Povos Indígenas, o Ministério da Educação, em conjunto com o FNE, para que esse sonho pudesse ser realidade”, contou.

Segundo ele, mais de 20 seminários e encontros territoriais ajudaram a definir o modelo da Unind. “Teve um processo de diálogo direto com as bases, com professores e professoras, discutindo qual seria o melhor formato, a melhor ideia da universidade até chegar a esse modelo que foi apresentado”, apontou. O envio do projeto ao Congresso, disse, representa “uma grande vitória, uma grande conquista da luta dos povos indígenas do Brasil”.

Quebra de estereótipos

Kleber Karipuna avalia que a universidade nasce com a missão de enfrentar barreiras que historicamente afastam estudantes indígenas do ensino superior. “A universidade indígena vem para buscar quebrar esses estereótipos, paradigmas, esse racismo institucional”, declarou.

Ele lembrou que, apesar da ampliação do acesso nos últimos 20 anos, com a política de cotas, muitas instituições “não dialogam com a sua realidade, com a sua cosmovisão, com a sua forma de aprendizado”, o que leva jovens a desistirem logo no início do curso. “A Universidade Indígena vem justamente para tentar quebrar isso, ser uma universidade acolhedora”, explicou.

O coordenador também ressaltou que a proposta integra “o conhecimento tradicional agregado ao conhecimento acadêmico, científico, para que aquele aluno possa também se qualificar da melhor maneira possível”. A Unind deve ofertar cursos de graduação e pós-graduação voltados prioritariamente a indígenas, fortalecendo identidades, territórios e saberes ancestrais.

Apoio no Congresso

Sobre a tramitação no Congresso, o representante da Apib afirmou que a articulação já começou. “Logo após a cerimônia de lançamento, começamos a fazer já algumas articulações com alguns parlamentares aliados”, contou. Ele acredita que a pauta pode atrair um apoio amplo, inclusive de setores que costumam votar contra direitos indígenas. “Entendemos que parlamentares vão receber essa proposta com bons olhos porque, como eles mesmos dizem, nós queremos apoiar os povos indígenas”, projetou.

A expectativa, segundo ele, é aprovar o projeto ainda em 2026. “Vários parlamentares vão querer comprar positivamente essa agenda para garantirmos ainda ano que vem a aprovação desse projeto de lei, e termos o sonho da nossa Universidade Indígena concretizado”, concluiu.

Editado por: Nathallia Fonseca

Imagem: Em cerimônia no Palácio do Planalto, Governo Federal anuncia a primeira Universidade Indígena do Brasil| Crédito: Washington Costa

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