BIfo: o colapso de Israel e o do Ocidente

O prolongado massacre promovido em Gaza e no Líbano levará Tel Aviv ao esgotamento militar, social e econômico. Mas a sua desintegração é o declínio do mundo eurocêntrico, que o instalou como um enclave em terra de “bárbaros”

Por Franco “Bifo” Berardi em Il Desertore / Outras Palavras
Tradução Glauco Faria

A desintegração de Israel

“Não é o Hamas que está desmoronando, mas Israel” é o título de um artigo publicado pelo jornal Haaretz em 9 de setembro. O autor, Yitzhak Brik, general do exército israelense, explica por que a guerra desencadeada contra o povo de Gaza, apesar de ter causado a destruição de tudo o que existia naquele território, apesar de ter matado dezenas de milhares de pessoas, está levando à derrota estratégica de Israel. Se o exército de Israel [que se intitula Forças de Defesa ou IDF, em inglês] for forço a continuar essa guerra ou a expandir diretamente a linha de frente, há o risco, na opinião de Brik, de um verdadeiro colapso. O estado psicofísico dos soldados envolvidos por quase um ano na prática de operações de extermínio, juntamente com a escassez de reservistas disponíveis, levaria ao colapso e à derrota. (mais…)

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“O pobre de direita: a vingança dos bastardos. O que explica a adesão dos ressentidos à extrema direita?”. Entrevista com Jessé Souza

IHU

O pobre de direita: a vingança dos bastardos (Civilização Brasileira) é o mais novo livro de Jessé Souza, doutor em Sociologia pela Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg (Alemanha), autor de best-sellers como A elite do atraso (Leya) e A ralé brasileira (Civilização Brasileira), e um dos mais importantes sociólogos brasileiros da atualidade. (mais…)

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A ONU não protegerá Gaza, mas pode adotar um “Pacto para o Futuro”? Por Pepe Escobar

As Nações Unidas se tornaram uma paródia de si mesmas. Enquanto os líderes mundiais se reuniam em Nova York esta semana, Gaza, Líbano e Palestina não estavam em nenhuma parte da agenda, mas um Pacto dos EUA forçado, projetado para proteger a “ordem baseada em regras”, estava bem no topo.

No The Cradle

A incapacidade – e a falta de vontade – das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança de impedir um genocídio transmitido ao vivo as desacreditou além de qualquer redenção possível. Qualquer resolução séria que inflija consequências sérias à psicopatologia mortal de Israel foi, é e será bloqueada no Conselho de Segurança da ONU. (mais…)

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Bifo: Ensaio sobre o Tecnofascismo

Relações sociais criadas nas últimas décadas remetem aos campos nazistas. Agora, explorados estão tão submetidos, material e psiquicamente, que a solidariedade torna-se quase impossível. Este inferno tragará até as classes médias do Ocidente

Por Franco ‘Bifo’ Berardi, no CTXT

“Caliban: Você me ensinou a língua
e meu benefício é que eu sei amaldiçoar.
“A peste vermelha leva você por me ensinar sua língua.”
Shakespeare: A Tempestade

Colonialismo histórico: extrativismo de recursos físicos

A história do colonialismo é uma história de depredação sistemática do território. O objeto da colonização são os locais físicos ricos em recursos de que o Ocidente colonialista necessitava para a sua acumulação. O outro objeto da colonização são as vidas de milhões de homens e mulheres explorados em condições de escravatura no território sujeito ao domínio colonial, ou deportados para o território da potência colonizadora. (mais…)

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Israel fecha escritório da Al Jazeera em Ramallah, Cisjordânia: tudo o que você precisa saber

Às 3 da manhã, soldados israelenses fortemente armados invadiram o escritório da Al Jazeera em Ramallah, expulsando a equipe.

Por Al Jazeera Staff, na Al Jaazera

Na televisão ao vivo, soldados israelenses fortemente armados invadiram o escritório ocupado da Al Jazeera na Cisjordânia, em Ramallah, e entregaram ao chefe do escritório, Walid al-Omari, um aviso para fechá-lo. Os soldados ordenaram que todos que trabalhavam no turno da noite no escritório fossem embora, dizendo que eles só poderiam levar seus pertences pessoais. (mais…)

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Quando o Estado vigia a todos e não quer ser vigiado por ninguém. Por Fausto Salvadori

Newsletter da Ponte

Do jeito que diversos policiais e seus apoiadores na extrema-direita passaram a se referir às câmeras nas fardas, parece que as bodycams viraram coisa de comunista, como as praias grátis, a Constituição e as vacinas. Por isso a reportagem da Ponte sobre o fim do programa de câmeras corporais de Santa Catarina, publicada nesta semana, pode surpreender muita gente. É que nela a repórter Jeniffer Mendonça lembra que a ideia de implantar filmadoras em gambés não veio da mente de algum professor universitário maligno vestido com camiseta de Che Guevara, mas foi uma iniciativa das próprias forças policiais.

Em 2018, quando o Tribunal de Justiça de Santa Catarina disse que havia uma grana disponível que a Polícia Militar poderia utilizar, os policiais catarinenses resolveram investir a verba extra comprando bodycams. Foi o primeiro estado a adotar o sistema em sua polícia, mas outros já estavam de olho na ideia. A PM paulista, por exemplo, já havia implantado um projeto-piloto de teste de câmeras em fardas em 2017.

Nada disso deveria ser uma surpresa. As polícias valorizam a disciplina e o controle sobre seus homens, especialmente as militares, que cultivam o dogma de que os praças precisam ser vigiados constantemente pelos oficiais por pertencerem à mesma classe social e terem a mesma cor da pele dos grupos que devem reprimir. As câmeras, assim, teriam tudo para se tornar mais um instrumento útil dessa autovigilância.

Por isso, chega a ser engraçado constatar o salto duplo twist carpado dado pela questão das câmeras no imaginário policial ao longo dos últimos anos. Em pouco tempo, o uso das bodycams passou a ser tão atacado por policiais, parlamentares das bancadas da bala e outros políticos da extrema-direita que começou a ser abandonado. Governada pelo bolsonarista Jorginho Mello (PL), Santa Catarina anunciou nesta semana que vai acabar com as câmeras nas fardas. Em São Paulo, o também bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) vai pelo mesmo caminho: atacou em diversas vezes o instrumento, dizendo não querer “um policial vigiado”, e aparentemente trabalha para adotar um sistema em que os policiais poderão desligar suas câmeras quando quiserem.

O que aconteceu? Por que uma ferramenta que os próprios policiais haviam escolhido adotar virou, em pouco tempo, sinônimo de intromissão e desrespeito? Sobre isso, a reportagem da Jeniffer traz a declaração de um PM anônimo que é preciosa para entender o que se passou nessas cabeças fardadas: “A esquerda e ONGs têm papel fundamental nesse triste desfecho, quando focaram somente na letalidade policial, deixando praticamente de lado outros aspectos relevantes, como a produção de provas”.

Em tempo: para entender o que um policial militar chama de “esquerda”, é preciso levar em conta que estamos falando de uma corporação que até hoje guarda orgulho das atrocidades da ditadura militar e na qual a maioria dos seus membros apoia o bolsonarismo e odeia ouvir falar em pautas LGBTQIAPN+ (como apontou uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública). Então, é provável que para um PM um termo como “esquerda” sirva para definir simplesmente todo mundo que duvide da existência de uma conspiração do Foro de São Paulo com o PT para introduzir mamadeiras de piroca na educação infantil.

O que as polícias não previram — e não gostaram quando aconteceu — é que, com a implantação das câmeras corporais, a sociedade civil e mesmo alguns governos passaram a ver nelas uma ferramenta útil para conter a violência policial. Em São Paulo, já havia algo dessa ideia quando João Doria deu sinal verde para a PM paulista implantar o sistema: era uma época em que o governador tucano buscava tirar o pé da letalidade estatal, após a repercussão ruim do massacre de nove jovens numa ação policial em Paraisópolis. O fato é que, especialmente em São Paulo, as câmeras se mostraram bastante eficazes para reduzir tanto a quantidade de policiais que matavam como a dos que morriam.

Em vez de comemorar, porém, a polícia e seus apoiadores reagiram, passando atacar as câmeras como se pudessem se tornar uma forma de a sociedade civil controlar o seu trabalho. E tudo que policiais e militares no Brasil não querem é terem de se submeter ao poder civil e às regras democráticas. A briga com as câmeras, aliás, faz parte de um movimento mais amplo em que os policiais aproveitaram a ascensão ao poder da extrema-direita para tentar afrouxar ainda mais os poucos controles que ainda têm sobre si, como quando buscaram, por exemplo, com o pacote anticrime do então ministro Sergio Moro, ampliar as situações em que poderiam matar com impunidade garantida. Isso eles não conseguiram, mas o tal pacote criou uma série de entraves para a investigação das mortes cometidas por policiais que continuam até hoje.

O que leva a gente a notar, com pouca surpresa, que as forças policiais e os governos que rejeitaram a filmagem das ações policiais são as que estão fortalecendo mais e mais os sistemas que permitem às forças policiais filmar todo o restante da população que não veste fardas, como Tarcísio de Freitas faz em São Paulo com o Muralha Paulista. Enfim, estão conseguindo o que queriam: um Estado que vigia a todos, mas que não pode ser vigiado por ninguém. Isso tem um nome: Estado policial.

Ilustração: Junião

 

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O silêncio da esquerda ecoa no abismo político que vivemos – Parte II. Entrevista especial com Célio Turino

Para o professor e pesquisador, o crescimento da direita tem a ver também com a falta de coragem da esquerda de dizer a que veio e de pensar alternativas que rompam com o círculo de giz da cisão entre cultura e natureza, como o caso de princípios como o do Bem-viver

Por: IHU e Baleia Comunicação

Os manuais políticos transformaram-se numa espécie de receituário coach em que, para todos os males civilizacionais, há um imperativo panecéico sintetizado em palavras de ordem como inovação, empreendedorismo, desenvolvimentismo, etc. Isso permeia não somente os âmbitos políticos formais, mas também as instâncias micropolíticas que vão da educação à gestão pública. Nada disso, porém, nos tira das encruzilhadas do Antropoceno, mas talvez olhar para trás, para a ancestralidade, pode ser uma saída. (mais…)

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