Inicialmente, quero clarificar os conceitos de cidadania que uso e seu sentido. Em democracia políticas reais sempre acaba sendo estabelecido, em suas constituições, um conceito político de cidadania, como sua única força instituinte e constituinte, base legal e jurídica dos direitos políticos iguais, em especial o de votar e com isto definir mandatos temporários para chefes de governos e legisladores, como seus representantes no Congresso. Fundamental, sem dúvida, mas insuficiente. Sempre é possível ter cidadania legítima clamando por democracia, sem ter nenhum reconhecimento constitucional/legal, como é o caso predominante de quem luta contra ditaduras e fascismos. E sempre haverá cidadania política para além do voto legalmente definido em democracias de qualquer tipo, das meramente eleitoreiras até aquelas de alta intensidade, de mais e mais democracia. Aliás, nunca podemos esquecer que o que diferencia democracias transformadoras de democracias de baixa intensidade é a cidadania ativa e se ela está em ação para buscar mais direitos iguais na diversidade, contra negações, exclusões, violações e invisibilidades existentes, assim como para não abdicar de seu direito intransferível de força instituinte e constituinte de votar e lutar por direitos e por políticas públicas voltadas aos direitos. (mais…)
luta de classes
Boaventura de Sousa Santos: derrota da nova Constituição no Chile é alerta para democratas de todo mundo
Sociólogo português associa campanha no Chile e atentado na Argentina a movimentação de setores da elites incomodados com avanços da democracia e do enfrentamento às desigualdades
Por Paulo Donizetti de Souza, da RBA
O processo eleitoral que levou à rejeição da nova Constituição do Chile é exemplo extremo de manipulação da opinião pública para induzir seu voto. A avaliação é do jurista e sociólogo Boaventura de Sousa Santos, em artigo no site A Terra é Plana. Em seu texto, o professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra faz um alerta. Os instrumentos mobilizados para “intoxicar a opinião pública” chilena com falsidades merecem atenção dos democratas do mundo todo. “E muito especialmente dos latino-americanos”, ressalta, Boaventura. (mais…)
O supremacismo branco, segundo bell hooks
Pensadora vê nesta ideologia a síntese das opressões de raça, gênero e classe. E provoca, em livro recém-lançado no Brasil: antirracismo e feminismo podem ser capturados se, mais que transformar o mundo, buscarem ser reconhecidos*
Por bell hooks, no Outras Palavras
Nos últimos anos, meu trabalho tem se debruçado sobre o papel do amor no combate à dominação. Contemplar os fatores que levam as pessoas a lutar por justiça e a se empenhar em construir uma comunidade me instigou a pensar criticamente sobre o lugar do amor. Não importa se a questão é acabar com o racismo, o machismo, a homofobia ou o elitismo de classe — quando entrevisto pessoas sobre o que as leva a superar o pensamento e a ação dominadores, elas invariavelmente falam de amor, de aprender a aceitar as diferenças em alguém com quem se importam. Falam do enorme desafio de desejar a conexão e a união com alguém radicalmente diferente ou que tenha convicções e opiniões tão distintas que represente uma fonte de estranhamento e conflito, a tal ponto que apenas uma contínua vigilância crítica e cuidadosa pode garantir o contato duradouro. Para muitos desses indivíduos, o que os tem impulsionado na direção do pensamento crítico e da mudança é o envolvimento ativo com movimentos que lutam pelo fim da dominação.
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Nazifascismo: a radicalização burguesa contra a classe trabalhadora
O fascismo, nas suas variadas vertentes, incluindo a nazista, envidencia a guerra existente entre as classes sociais
Articulação Judaica de Esquerda, no Brasil de Fato
Ainda que muitos tentem negá-la ou evitar reconhecê-la, a luta de classes continua sendo o motor da história, por uma questão óbvia: as classes continuam existindo. Não por outra razão, os corpos pobres, em sua maioria negros, jovens da classe trabalhadora, continuam se acumulando sem vida em avenidas e vielas.
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A força contra a razão. Por Valério Arcary
Ninguém lutou mais pela democracia no Brasil do que a esquerda
“Coube sempre o melhor quinhão, a quem mais força teve, e não razão” (Sabedoria popular portuguesa).
A disputa eleitoral de 2022 já começou na mídia comercial expressando uma fração da classe dominante que se posiciona pela defesa de uma terceira via, anti-Lula e anti-Bolsonaro, seja lá quem for. Os principais meios de comunicação atuam, escandalosamente, como um “partido acima dos partidos”. O pretexto, desta vez, para a manipulação dos incautos, foram as recentes eleições na Nicarágua, em que Daniel Ortega foi reeleito para um quarto mandato. Outras incontáveis vezes, nos últimos anos, estes liberais de araque se calaram, em indisfarçável conivência, quando as hordas exasperadas da extrema-direita se lançaram às ruas gritando: “O Brasil não será uma Venezuela” e “Vai para Cuba”.
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O pensamento político do agronegócio. Por Tarso Genro
Os empresários reclamam da ausência de “um projeto de país” quando seus interesses negociais não estão sendo bem tratados pelo sistema de poder que eles mesmos montaram
Alguns dizem que a luta entre as classes se torna supérflua para compreender a história, numa época em que existe a possibilidade de ser manipulado o patrimônio genético da humanidade, convertendo-o em matéria prima para o desenvolvimento do capitalismo. Outros – os mais cansados – dizem que o fim da história já está situado nesta “conversão” do patrimônio biológico em patrimônio capitalista, e que o nosso limite está dado pela própria possibilidade de converter a democracia liberal em democracia “dialógica”, com quem vai controlar aquele capital biológico. Como sou um historicista incorrigível aposto que a política pode tanto socorrer uma ou outra alternativa, bem como direcioná-las para sentidos humanistas e libertários ainda não engendrados.
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(De)formação da consciência no sistema do capital. Por Gilvander Moreira[1]
“Cada passo do movimento real é mais importante do que uma dúzia de programas” (MARX [1875], 2012, p. 22, em carta a Wilhelm Bracke). Na sociedade do capital, “mundo antagônico ao humano e à vida” (IASI, 2011, p. 9), e especificamente no capitalismo, sistema histórico atual da sociedade em que vivemos, a sociabilidade é organizada em classes – a dos proprietários dos meios de produção (terra, indústria, fábrica etc.) e do capital financeiro, a dos trabalhadores expropriados da propriedade dos meios de produção – classe trabalhadora e campesinato -, uma pequena burguesia, eufemisticamente chamada de ‘classe média’, classes com interesses antagônicos inconciliáveis. A classe dominante, ao dominar, espolia e superexplora cada vez mais a classe trabalhadora e o campesinato. Acontece assim opressão de classe, o que suscita indignação e desencadeia rebeliões fazendo eclodir a luta de classes, que na sua dinâmica articula os aspectos objetivos e subjetivos que podem caminhar para a formação dos trabalhadores enquanto classe proletariada, não apenas como uma classe explorada da sociedade do capital, mas uma classe que se opõe ao capital e pode se tornar portadora de novas relações sociais para além do capital, em um novo tipo de sociabilidade humana emancipada.
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