Prefeitura de Fortaleza corta radicalmente orçamento de 2016 para crianças e adolescentes: “Isso é um Escândalo!”

Por Ângela Pinheiro*, no Combate Racismo Ambiental

De olhos arregalados e semblante atônito, foi assim que reagiu um amigo, quando lhe fiz um relato do processo que estamos vivendo, integrantes do Fórum DCA, no último mês, em relação ao trâmite do PLOA 2016 – mais conhecido como Orçamento Anual, da Prefeitura Municipal de Fortaleza.

O pasmo tem razões de sobra, das quais seleciono algumas, agora, pelos limites de espaço deste texto:

– a PMF impôs cortes da ordem de mais de R$ 16 milhões de reais para programas e projetos relacionados a crianças, adolescentes e jovens. Os cortes atingem frontalmente programas como: Merenda Escolar; Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes com Direitos Violados; Atendimento Psicossocial a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Sexual; Manutenção de Conselhos Tutelares; Construção e Equipamentos de Centros de Educação Infantil; Programas Efetivados pela Rede CUCA;

– enquanto isso… só para o Gabinete do Prefeito estão previstos – pasmemo-nos novamente! – mais de R$ 183 milhões, montante superior ao total de recursos para a FUNCI; e as Secretarias de Direitos Humanos e Cidadania; de Desenvolvimento Habitacional; de Cultura; de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome; e de Esporte e Lazer (mais uma vez, pasmemo-nos);

– no último mês, estivemos por, pelo menos, dez vezes na Câmara Municipal – espaço institucional de análise, discussão, modificação e aprovação (ou não) do proposta de Orçamento encaminhada pela PMF. Apresentamos emendas para reverter os cortes inaceitáveis; fizemos contato com a Presidência; Liderança e Vice-Liderança do Governo; com integrantes da Mesa Diretora, da Comissão de Direitos Humanos, bem como de Orçamento e Legislação; conseguimos apoio às nossas propostas de 22 Vereadores dos mais diversos Partidos Políticos – da chamada base e da oposição, que subscreveram Carta Aberta, a eles por nós dirigida; procuramos, assim, respeitar os ritos institucionais e a independência dos Poderes Executivo e Legislativo;

– aguardávamos retorno às nossas reivindicações, feitas à Presidência e à Comissão de Orçamento, quando fomos surpreendidos com a notícia inaceitável de que, de mais de 400 emendas, as únicas que foram rejeitadas pela Comissão acima citada foram as 11 por nós apresentadas, referentes a crianças, adolescentes e jovens, apesar da justeza da reivindicação, e desrespeitando a vontade expressa de mais da metade dos Vereadores de Fortaleza, e a articulação de mais de 25 entidades da sociedade civil, filiadas ao Fórum DCA, que coordenou todo esse processo.

Tomados de indignação, voltamos à Casa Legislativa, no dia da votação da Redação Final do Orçamento. Das galerias e nas proximidades do Plenário e na Presidência, ainda tentamos chamar a atenção dos Vereadores – de formas as mais diversas. Alguns deles utilizaram a tribuna, denunciando o absurdo dos cortes. Com prejuízos incontestes para crianças e adolescentes, nada conseguiu quebrar a insensatez e a insensibilidade. Assim, sobram motivos para que a Prefeitura Municipal de Fortaleza seja (re)conhecida como uma gestão que desconsidera a prioridade absoluta prevista na Constituição Federal de 1988; desrespeita as recomendações mínimas do bom senso e de documentos e organismos internacionais de promoção de direitos de crianças e adolescentes; e, mais ainda, apregoa um discurso e deixa de concretizar práticas condizentes com a busca de qualidade de vida para crianças, adolescentes e jovens. Fica a vergonha para nós, habitantes de Fortaleza, por termos uma gestão municipal atual que consegue agregar tantas qualidades indesejáveis, que resultam em gastos exorbitantes com autopromoção e secundarização inadmissível, na alocação de recursos que poderiam resultar na promoção humana de sujeitos sociais com passado, e, infelizmente, com presente e futuro incertos.

Antes que eu esqueça e para como há falta de prioridade absoluta dessa gestão: é igualmente lamentável a baixíssima execução do Orçamento da PMF de 2015, com relação a crianças, adolescentes e jovens, como demonstram os dados constantes do seu Portal da Transparência.

Esmorecer diante de tamanho descaso da PMF, com a anuência da maioria dos Vereadores? Nunca! A Fortaleza que queremos, e que temos contribuído para construir, é bem diferente. Gestores são passageiros, transitórios. Nossos ideais e forças, para seguir lutando por igualdade, respeito e dignidade para todos e todas nós, vêm de há muito, e por muito tempo hão de permanecer.

* Integrante do NUCEPEC/UFC e sua representante junto ao Fórum Permanente de ONGs de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes (Fórum DCA). [email protected].

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