Luan Guilherme Correia, Folha de Boa Vista
Criado em 2010 com o objetivo de avaliar o potencial para a geração de energia eólica na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, localizada na região Nordeste de Roraima, o Projeto Cruviana ganhou recentemente o aval do Governo Federal para levar fonte de energia limpa e renovável para as comunidades indígenas.
O trabalho é feito em parceria entre o Conselho Indígena de Roraima (CIR), o Instituto Socioambiental (ISA) e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e vem sendo realizado nas localidades conhecidas como Região das Serras, onde vivem 12 mil pessoas em aproximadamente 100 comunidades.
O projeto tem a finalidade de estimar a quantidade de energia que precisa ser gerada para atender as famílias e as atividades produtivas, e também das distâncias envolvidas na distribuição dessa energia.
Para isso, uma equipe com 19 pesquisadores indígenas percorre a região, desde 2013, fazendo o mapeamento com GPS e aplicando questionários de casa em casa. Os dados do GPS são enviados ao Núcleo de Geoprocessamento do ISA e os questionários sobre demanda energética são enviados para análise do Núcleo de Energias Alternativas da UFMA.
Três torres meteorológicas foram instaladas em fevereiro de 2013, em locais escolhidos pelas lideranças e aprovados em assembleia regional. Nas comunidades do Tamanduá e do Maturuca, os sensores de vento foram instalados em altitude de aproximadamente 950 metros, e na comunidade da Pedra Branca, a 480 metros de altitude.
Três pesquisadores indígenas foram treinados para realizar a coleta e o armazenamento dos dados, que são encaminhados para a sede do ISA em Boa Vista e posteriormente enviados para o laboratório do NEA, no Maranhão. Os pesquisadores também estão encarregados de monitorar e fazer a manutenção das torres.
Segundo o Atlas Brasileiro do Potencial Eólico, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol é um dos locais com os ventos mais fortes do País. O Atlas indica que Roraima abriga a maior parte do potencial eólico da Região Norte, estimado em 12,4 GW.
Para o coordenador do projeto pelo ISA, Ciro Campos, o lavrado de Roraima é o único local da Amazônia com ventos suficientes para gerar energia eólica. “Montamos as torres e fizemos os estudos, que concluíram que a região tem potencial eólico. Até então, o Governo Federal tinha feito estudos baseados em imagens de satélite de modelagem de computador. O nosso foi feito por torres em campo”, destacou.
Conforme ele, após a confirmação do potencial de produção de energia, um projeto técnico foi elaborado para apresentar ao Governo Federal. “Depois de muitas análises, o governo concluiu a viabilidade econômica do projeto, que pode resultar numa geração de energia suficiente para atender as comunidades indígenas”, disse.
O coordenador afirmou que a região tem potencial de ventos semelhantes aos Estados do Nordeste. “Isso ocorre inclusive em períodos de pouco vento, entre junho e agosto. Pensando nisso, montamos as torres no alto das serras, onde tanto o sol quanto o vento são mais fortes”, explicou.
Até o momento, o projeto deverá ser implantado para atender somente as comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol. “A possibilidade de explorar o vento em escala maior para atender o Estado é algo que não foi aprovado pelas lideranças indígenas e será objeto de conversas futuras. Não é algo a ser descartado, mas, no momento, o abastecimento será apenas para estas comunidades”, frisou.
Para a execução do projeto Cruviana deverão ser investidos cerca de R$ 3 milhões. Caso a Companhia Energética de Roraima (CERR) não tenha condições de ser parceira na implantação, a Eletrobrás Roraima poderá assumir esse papel.
CRUVIANA – Na língua indígena, Cruviana é o nome dado aos ventos frios e fortes que sopram durante a madrugada, antes do amanhecer. Por esse motivo, o projeto passou a ser chamado por esse nome.