A mineradora canadense Belo Sun, que pretende extrair ouro da região da Volta Grande do Xingu, adquiriu terras públicas sem consultar o Incra, denunciou servidor do órgão. A denúncia da irregularidade aconteceu durante audiência pública convocada pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPE), como atendimento a uma demanda dos atingidos pelo maior projeto de mineração de ouro a céu aberto do Brasil.
De acordo com o servidor do Incra Danilo Oliveira, a Belo Sun comprou áreas da União diretamente com posseiros, o que é ilegal. “Depois disso, enviamos três ofícios à empresa, mas ela não nos respondeu, além disso, ela não nos deu os pontos de GPS para podermos localizar as áreas que terão impactos direitos e hoje não temos clareza e nem precisão do que pode acontecer nessa área”, complementou Danilo.
A atividade aconteceu ontem (24) na Vila da Ressaca e reuniu cerca de 500 pessoas. Segundo o Dr. Ruy Lamim, do MPE, o objetivo da audiência era as famílias denunciarem os impactos nos últimos três anos após a chegada da Belo Sun na região da Volta Grande do Xingu.
O que a Belo Sun pretende fazer no Xingu
A Belo Sun, uma subsidiária de uma empresa canadense e pertencente ao grupo financeiro Forbes & Manhattan Inc, quer extrair na Volta Grande do Xingu cerca de 108 toneladas de ouro durante 17 anos. Mas para isso irá mudar completamente a paisagem e gerar uma infinidade de impactos.
Ela quer construir duas cavas gigantes a poucos metros do rio Xingu, uma com 1,1 mil metros de cumprimento por 540 metros de profundidade e a outra com 2,9 mil metros de comprimento por 400 metros de profundidade. Para isso, ela irá fazer duas pilhas gigantes de estéril, que somadas terão área de 346 hectares, com altura média de 205 m e compostas de 504 milhões de toneladas de rochas desperdiçadas, ou seja, é como se fosse duas grandes pirâmides do Egito no Xingu.
A principal preocupação dos atingidos é o tamanho do reservatório de rejeitos, pois a Belo Sun pretende construir duas barragens para conter cerca de 92 milhões de m³ de rejeitos. A título de comparação, os rejeitos liberados pela Samarco em Minas Gerais no rio Doce foram cerca de 62 milhões de m³, quantidade suficiente para matar cerca de 630 km de rio. Além desse volume grandioso de rejeitos, o que também preocupa é a grande quantidade de cianeto que a empresa irá utilizar no processo de separação do ouro do minério. Em caso de vazamento, esse material irá direto para o rio Xingu e pode atingir inclusive as estrutras da barragem de Belo Monte.
Conforme informações do site da Belo Sun, ela estima no melhor cenário ter um lucro líquido de R$ 3 Bilhões.
“Essa empresa canadense vem para o Brasil e desrespeita a legislação e o povo. A Belo sun é criminosa e não podemos deixar que esse processo de licenciamento avance, se está passando por cima até do governo imaginem o que ela irá fazer com o os atingidos”, questionou Jackson Dias, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Nos últimos três anos a Belo Sun causou muitos impactos
O morador José Lopes denuncia os prejuízos já causados: “com a paralisação do garimpo, muita gente saiu da Ressaca e com isso diminuiu a quantidade de gente na escola o que causou a demissão de vários professores por falta de turmas; além disso, as voadeiras diminuíram muito por causa da paralisação da economia”.
O morador da Ressaca e Militante do MAB, José Pereira Cunha (Pirulito), denunciou que os garimpeiros estão proibidos de trabalhar por causa da empresa. “Hoje nós vivemos oprimidos pela Belo Sun, estamos sofrendo criminalização”. Seu Francisco (Piauí) denunciou que “a empresa Belo Sun tirou os nossos empregos e agora tenta nos criminalizar falando para a polícia federal que somos um bando de velhos e alcoólatras”.
“Quem vai pagar esses últimos três anos que os garimpeiros estão sem trabalhar?”, questionou Iury Paulino, do MAB.
O agricultor Francisco Edson de Sousa denunciou que “antes eu vendia muita galinha na vila da Ressaca, mas agora não consigo vender mais nenhuma e tenho que vender cacau em Altamira para poder sobreviver”.
O agricultor Roosevelt Pereira, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, denunciou que não houve consultas públicas, e argumentou contra a Belo Sun “esse projeto não é sustentável para essas famílias, só é sustentável para o capitalismo”.
O seu Leonardo, prestador de serviço da Belo Sun, denunciou que a empresa não pagou a empresa dele pelos serviços prestados, o que deixou os trabalhadores sem salário. Segundo ele, “se a Belo Sun não paga nem os contratos que ela faz imaginem essas famílias aqui [atingidas]”.
Além de agricultores, pescadores, ribeirinhos e garimpeiros, a audiência teve a participação de indígenas, pois o projeto Volta Grande está a 10 km de duas terras indígenas. Mesmo assim, essas áreas não estão sendo consideradas no estudo de impacto ambiental da mineradora. Bel Juruna, da Aldeia Muratu, afirmou que seus ancestrais moram há mais de 300 anos na área e que houve um desrespeito por não ter a presença da FUNAI e MPF na audiência Pública para poder garantir os direitos dos indígenas. Ela falou que os indígenas da Volta Grande do Xingu estão construindo o seu próprio protocolo de consulta já que a Belo Sun não considerou essas populações como atingidas.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Vânia Carvalho.