Os indígenas Dagoberto Azevedo, 37 anos, e Gabriel Maia, 45 anos, falam língua Tukano, originária dos territórios margeados pelos rios Uaupés, Tiquié e Papuri, afluentes do Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Estado do Amazonas, na fronteira com a Colômbia. É nesta língua, e não no português, que eles vão escrever suas dissertações de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), uma iniciativa considerada um marco no sistema educacional do ensino superior do país.
“Estamos fazendo algo novo. Não queremos ser apenas informantes (de outros pesquisadores). Também queremos escrever, mas na nossa língua”, diz Dagoberto Azevedo à Amazônia Real.
A facilidade de se expressar em sua própria língua nativa e a necessidade de corrigir distorções de conceitos e palavras são algumas das razões que levaram os dois estudantes de mestrado a optarem em escrever suas dissertações em Tukano.
“Muitas palavras possuem conceitos distorcidos em pesquisas já feitas. Foram interpretadas no equívoco”, diz Gabriel Maia.
Ele cita como exemplo Miriãpora, uma palavra Tukano que se refere aos instrumentos musicais sagrados usados em festas tradicionais, como o Dabucuri, e em rituais de iniciação. No imaginário ocidental, a mesma palavra foi chamada de “jurupari”, que não existe na língua Tukano. Ela é originária do Nheengatu, uma língua geral criada por missionários a partir de termos tupi-guarani. Na tradução elaborada pelos missionários, “jurupari” seria o mesmo que “demônio”, o ente bíblico maligno. “Ou seja, essa palavra e outras estão sendo explicadas melhor no texto da minha dissertação”, diz Maia.
Dagoberto Azevedo (cujo nome em Tukano é Suegu, pessoa que canta e dança nas festas e rituais) nasceu na comunidade Pirarara, no rio Tiquié. Fez todo seu ensino fundamental e médio na comunidade. Graduou-se em em Filosofia.
Nascido na comunidade Pato Cachoeira, no rio Papuri, Distrito de Iauaretê, Gabriel Maia tem o nome indígena de Akʉto Ye’pa-mahsʉ (sem uma tradução literal). Ele estudou em escolas das comunidades indígenas do Alto Rio Negro. Foi soldado do Exército e seminarista salesiano. Também estudou Pedagogia Intercultural no ensino superior. Ingressou no mestrado em 2014.
No último dia 16 de fevereiro, a pró-reitoria de pós-graduação da Ufam deu parecer favorável ao ofício de Dagoberto Azevedo e Gabriel Maia para que eles possam escrever suas dissertações integralmente na língua Tukano. Seus respectivos orientadores, Carlos Machado Dias e Gilton Mendes, já haviam concordado. No último dia 23, o colegiado do PPGAS aprovou o pedido.
“A língua Tukano é mais livre, mais libertária e mais coerente para eles poderem expressar suas ideias. Eles deixam uma língua estrangeira e passam a escrever na sua língua”, afirmou Gilton Mendes, professor de mestrado em Antropologia Social e orientador de Maia, em entrevista à Amazônia Real.
O ofício foi encaminhado ao pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Gilton Monteiro, no dia 09 de dezembro de 2015. Entre as considerações, Dagoberto Azevedo e Gabriel Maia afirmam que possuem como primeira língua o Tukano e se expressam melhor, por meio dela, ideias e argumentos, tanto na forma falada como escrita. Eles dizem no ofício:
“Vimos solicitar dessa pró-reitoria a garantia dos nossos direitos, como membros de uma sociedade indígena, de elaborar nossas dissertações acadêmicas, para conclusão do Mestrado, na língua materna – e, se for de interesse do Programa ou da Universidade, que seja feita a tradução dessa produção acadêmica para a língua Portuguesa. Uma vez que não somos apenas indivíduos, mas pessoas coletivas que ocupam um lugar na estrutura social do sistema de descendência Tukano, tal iniciativa garante também a nossos grupos étnicos o direito de ler essa produção sobre nosso conhecimento em sua própria língua”.
A aprovação do uso da língua nativa na Pós-Graduação em Antropologia Social da Ufam ocorre quase dois meses depois que a presidente Dilma Rousseff vetou o Projeto de Lei de autoria do senador Cristovam Buarque (então no PDT-DF, agora no PPS) que permitiria que línguas indígenas fossem usadas nos ensinos médio, profissionalizante e superior, e não apenas no ensino fundamental. O projeto havia sido aprovado no Senado no final de 2015, mas a presidente vetou no dia 29 de dezembro (leia mais aqui).
Antes do parecer favorável, os dois já vinham escrevendo o esboço do que virá a ser suas futuras dissertações em português. Com a aprovação no Colegiado do PPGAS, o português será uma língua coadjuvante.
Dagoberto pretende prestar a qualificação (etapa que antecede a defesa) em março. Gabriel ainda não tem data. Haverá uma versão em português, ainda não decidida se integralmente ou apenas um resumo, para ser apresentada no dia da defesa. A apresentação, contudo, será toda em Tukano. Os professores terão acesso a uma versão em português.
Por que escrever em sua própria língua? Para Dagoberto e Gabriel, os verdadeiros detentores do conhecimento indígena (conhecidos como kumuã), além de outros parentes, precisam e têm direito de saber o que eles vão pesquisar e escrever. Eles também querem que as dissertações sejam adotadas nas escolas indígenas.
Mestrandos identificaram erros de tradução
Há também outro fator motivador: os erros identificados nos conceitos ao longo de pesquisas já produzidas na região do Alto Rio Negro. Outro argumento também forte é simples: se há dissertações e teses escritas em inglês em universidades brasileiras, por que não uma língua nativa?
Eles dizem que, como não sabiam falar português, durante décadas, muitos conhecedores a etnia Tukano, sobretudo os mais velhos, desconheciam o que outros pesquisadores escreviam sobre sua cosmologia, sua cultura, seu cotidiano, suas narrativas míticas. Muito menos sabiam se o que estava sendo escrito era correto ou se se aproximava do que realmente eles falavam.
Por isso que o problema dos erros de tradução (conceitos, palavras) também fundamentou a intenção dos dois mestrandos em escrever na língua Tukano. “Quem pode mudar os conceitos indígenas só pode ser nós mesmo. Esse foi um dos fatores desse pedido”, diz Gabriel Maia.
“Tem alguns conceitos que são impossíveis de traduzir. Os nossos tradutores anteriores fizeram um pouco equivocado, os antropólogos não indígenas ou outros pesquisadores que passaram anteriormente. Às vezes, não chega (as pesquisas) a ser conforme a gente pensa, nossos conhecimentos mais tradicionais clássicos”, observa Dagoberto Azevedo.
Atuando como “tradutores” do conhecimento indígena com olhar de dentro (desconstruindo a prática “de olhar para o outro” que sempre marcou os ditames da antropologia e da etnografia), os dois mestrandos afirmam que podem contribuir criando, organizando e sistematizando conceitos do povo Tukano.
Gabriel e Dagoberto entraram no mestrado por meio de vagas complementares (cotas) criadas pelo próprio programa de pós-graduação em Antropologia Social. Mas eles queriam ir além de uma política de inclusão social e afirmativa. Queriam diálogo, troca de conhecimento entre o saber tradicional e o saber ocidental, científico, acadêmico.
“Concluímos: essa é uma oportunidade para escrever nossos conhecimentos, ou conceituar, ou categorizar nossos pensamentos. E se é mais fácil nos expressar na nossa língua, vamos escrever na nossa língua”, diz Azevedo.
Diálogo e troca de conhecimento
No PPGAS, Gabriel Maia e Dagoberto Azevedo entraram para o Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI), espaço que “abriu diálogo entre os acadêmicos indígenas e demais interessados”, segundo suas palavras. “Isso nos auxiliou para tecer um novo parâmetro, sobretudo o tripé conceitual tukano”, diz Maia.
Ele se refere aos seguintes conceitos: Ukũse (conjunto de narrativas míticas que versam sobre os enredos sociais vivenciados pelos demiurgos responsáveis pela origem do mundo, dos seres e das coisas), Bahsesse (quando o Ukũse é utilizado pelos especialistas para comunicação e interação com o Wai-Mahsã, os chamados ‘espíritos’, e habilidades de evocar elementos curativos encontrados nos diferentes tipos de vegetais e animais) e Bahsamori (quando o Ukũse é acessado para composição musical durante as festas, que envolve os cantos, danças e instrumentos musicais). Esse três conceitos formam o Kahtirokãse nise, que em português pode traduzido como “Conhecimento Tukano”, uma teoria que está sendo formulada por um grupo de estudantes de mestrado e doutorado indígenas do Alto Rio Negro, incluindo Dagoberto e Gabriel.
“Esse diálogo é fundamental. E temos nossos professores e orientadores empenhados nessa questão dos conhecimentos indígenas. Isso facilita a redescobrir e motivar como os conhecimentos indígenas são pertinentes no viés antropológico. O meu orientador é o professor Gilton Mendes. Ele está na vanguarda dos torcedores para que dê tudo certo, tanto agora e depois. Foi ele que motivou para acontecer esta solicitação (na pró-reitoria), junto com o professor Carlos Dias”, diz Gabriel Maia.
A influência ocidental na escrita
Ao entrar no mestrado em 2013, Dagoberto Azevedo estava com a “cabeça ocidentalizada”, como ele próprio diz. Antes de entrar, conversou bastante com outros indígenas que já haviam passado pelo programa de pós-graduação em Antropologia.
“Quando cheguei no mestrado e depois no NEAI comecei a discutir nossos próprios conhecimentos. Mas eu só queria saber de conhecimento e conteúdo já feitos pelo não indígena, isso estava enraizado na minha cabeça. Com o tempo, com nossas discussões e nossas reflexões, conversando dialogando com meus orientadores, eu fui mudando a maneira de ser. Tive um novo olhar, novas lentes, novos rumos. Com ferramentas que consegui, fiquei fortalecido para olhar e trabalhar nossos próprios conhecimentos”, afirma ele, que já marcou a data da qualificação com seu orientador, Carlos Dias.
Epistemologia e pensamento cultural
Os indígenas também querem transformar vertentes antropológicas e filosóficas consolidadas e mostrar que existe uma epistemologia indígena. É o que defende o doutorando João Paulo Barreto, também do povo Tukano. Para ele, não basta que a instituição de ensino superior adote uma política de inclusão social que contemple a diversidade. É preciso que a academia aprenda a aceitar o conhecimento dos povos indígenas. João Paulo Barreto fez sua graduação em Filosofia e mestrado no PPGAS da Ufam. Ele também é orientando de Gilton Mendes e é um dos principais incentivadores de seus colegas para que eles escrevam em Tukano. Sua dissertação foi em português.
“Temos nosso próprio modo de ver e de nos relacionarmos com o mundo. Temos nossa própria epistemologia, nossa cosmologia e modo de conviver com a natureza. A política afirmativa é apenas inclusão social. Nós indígenas não pensamos apenas com inclusão social, mas como uma forma de dialogar o conhecimento. Por mais que estejamos lançando mão do sistema vigente, podemos problematizar as coisas a partir da nossa compreensão do mundo, do pensamento indígena”, disse Barreto, que é colunista da Amazônia Real.
A epistemologia indígena, segundo Barreto, estuda a cultura a partir das teorias ocidentais, mas é formulada com base no pensamento da etnia a qual o detentor do conhecimento possui. “Precisamos pensar e sistematizar sobre nosso conhecimento. Descobrir qual nossa lógica, para além das narrativas míticas. Já temos grandes avanços”, diz.
Para o doutorando muitas áreas e disciplinas ainda não estão preparadas para lidar com este novo momento.
“Muitas áreas acham que vão ensinar o indígena para ser apenas um profissional, um técnico, mas não um pensador, não como aquela pessoa que vai se esforçar para dialogar com um conhecimento construído, criar conceitos. O que se ainda fala muito é em dar capacitação e oficina”, diz.
O pioneirismo e aprendizado
Gilton Mendes, orientador de Gabriel Maia e de João Paulo Barreto, afirma que a presença dos indígenas na academia, nas aulas do mestrado e nas discussões em grupos de pesquisa, tem um significado importante, que é a contribuição que eles podem dar pelo fato de serem de contextos diferentes, culturais e linguísticos.
Mendes defende que os alunos indígenas não sejam obrigados a passar por complexos processos de ingresso na universidade que, segundo ele, acabam sendo obstáculos para quem não está habituado com a engrenagem rigorosa de uma seleção, com leitura de uma disciplina já criada. E isso inclui um processo que vá além de exames diferenciados.
“No PPGAS conseguimos fazer isso (cotas). Ok, entrou e agora? Entrou, o processo é igual, a finalização do curso é igual. Faz as disciplinas, faz as leituras dos autores do mesmo jeito, exige-se que façam provas, trabalhos, que escrevam tese. Isso começou a me angustiar. Não basta fazer um processo diferenciado, mas manter todo o resto. Foi a partir que comecei a conversar com eles. Sobretudo conversando com o João Paulo, que foi minha primeira experiência de orientação com indígena, de como poderíamos fazer as coisas diferentes. Comecei a tentar como poderia ser a entrada, o miolo e o final”, diz Mendes.
Mas foi dado um passo adiante justamente na fase final, com a defesa da dissertação em Tukano. O primeiro “experimento”, segundo Mendes, foi a inclusão do pai de João Paulo Barreto, Ovídio Barreto (especialista indígena), como co-orientador, e de um indígena Tukano (Domingos Barreto) presente na defesa de dissertação.
“Já naquela época conversava com o João Paulo sobre a escrita na língua. Mas agora, com o Gabriel e com o Dagoberto, a gente vê o sofrimento deles, a dificuldade desses meninos de escrever com uma forma textual em português. Quando perguntei se eles pensavam e se se expressavam melhor em português ou Tukano e eles responderam ‘em Tukano’, vimos que iríamos batalhar por isso.
Baseados na Constituição Federal e no fato do Tukano ser reconhecido como uma língua co-oficial no país, professores e alunos deram entrada no pedido na reitoria da Ufam com a expectativa de terem êxito.
“É difícil falar em outra língua sobre coisas filosóficas, abstratas, epistemológicas, antropológicas. Falar sobre esquemas de pensamento. Quando vejo esses meninos falando em Tukano, eles mostram uma riqueza impressionante. Têm uma memória, uma vivência, um pensamento extraordinário. Quando eles falam na língua conseguem flanar, voar como um pássaro. Mas quando falam português, numa linguagem rígida da academia, travam. Quando vão escrever, pior, porque a escrita tem uma exigência não só do ponto de vista da ordem, da expressão gramatical, ortográfica, mas da lógica do pensamento”, afirmou Gilton Mendes.
Graduado em Agronomia e com mestrado e doutorado em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP) e há dez anos atuando como professor na Ufam, Gilton Mendes disse que a experiência que está tendo com os alunos indígenas – que ele chama de “meninos” – é um aprendizado permanente.
“Esses meninos mudaram a minha cabeça. Acho que essa antropologia só pode ser oxigenada a partir da participação dos indígenas. Eu aprendo muito com eles. Eu não sou estudioso dos Tukano, mas o que eu sei por esses meninos, tenho aprendido sobre eles, e aprendido muito sobre a metodologia antropológica. Como trabalhar com a participação do outro. Essa experiência de orientação, de debate, de ampliar tem sido muito por causa deles”, afirma.
Diferente do que pode parecer, Mendes acha que as dissertações na língua nativa terão mais leitores do que se fossem escritas em português. “Tratei com eles: ‘vocês acham legal escrever em Tukano? Não seria um público muito restrito? ’. Para a minha surpresa eles disseram: ‘tem muita gente que lê em Tukano’. Vão ler mais do que se fosse em português’. Todos os alunos e professores sabem ler em tukano. Ou seja, ao invés de restringir, pode aumentar. Isso pode gerar um debate uma circulação das ideias muito do que em português”, afirma. Quem é esse público? A própria comunidade do povo Tukano, no Alto Rio Negro.
Entusiasmado com o pioneirismo, Gilton Mendes acha que a decisão de escrever na língua nativa uma dissertação vai revolucionar o ensino de pós-graduação. “Acho que se efetivando isso vamos ter um ganho nacional e internacional. Vamos estimular outros programas”.
Reconhecimento oficial da língua indígena
A língua Tukano foi reconhecida como co-oficial no país por uma lei municipal de São Gabriel da Cacheira em 2002. Ela foi regulamentada em 2006. Outras duas línguas indígenas – Baniwa e Nheengatu – também foram co-oficializadas.
São Gabriel da Gabriel é um município amazonense onde 90% de sua população é indígena. É também o município com maior diversidade étnica – 23 povos. No município há cinco troncos linguísticos: Tukano Oriental (do qual faz parte o Tukano), Aruak, Nadahup, Yanomami e Tupi-Guarani, de onde surgiu o Nheengatu ou Língua Geral (saiba mais aqui).
Assim como tantos outros nomes de etnias indígenas do país, o termo “Tukano” foi criado pelo colonizador europeu. Mas os índios Tukano se identificam com o nome de “Yepá-Mahsã”, cuja tradução é complexa. Ao pé da letra, segundo Gabriel Maia, a palavra significa “seres vindos da terra”. Mas a mesma palavra recebeu adaptações metafísicas e pode ser também compreendida como “seres invisíveis” ou “guardiães do espaço”. Ou seja, não há uma única tradução para o termo e seus significados são bastante distintos.
Ufam cria nova política de cotas na pós-graduação
O sistema de cotas no qual os dois alunos indígenas entraram foi implementado durante seis anos no PPGAS, mas não era regulamentado pela reitoria da Ufam. Cada programa mantinha sua própria normatização. Alguns cursos, porém, se recusavam a adotar. Em 2014, ele foi suspenso pela reitoria, decisão que teve uma repercussão negativa na instituição (leia sobre a repercussão).
No último dia 16, no mesmo dia em que os indígenas Tukano foram comunicados oficialmente pela pró-reitoria de que seu pedido havia recebido parecer favorável, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) da Ufam aprovou a Resolução nº 010 de 2016 que dispõe sobre a política de ações afirmativas para pretos, pardos e indígenas na Pós-graduação Stricto sensu na instituição. A Resolução já foi assinada pela reitora Márcia Perales e será publicada nos próximos dias.
Em respostas às perguntas da agência Amazônia Real, a assessoria de imprensa da Ufam, disse que trabalhará em seus programas de pós-graduação com vagas suplementares, aquelas criadas além das vagas regulares, para serem ocupadas pelos cotistas e extintas no final do certame, caso não sejam preenchidas.
“O número de vagas oferecidas em cada processo seletivo será fixado em edital, observando-se, em qualquer caso, que serão vagas suplementares de no mínimo 20% (vinte por cento) e no máximo 50% (cinquenta por cento) em relação às vagas regulares”, disse nota da assessoria de imprensa da Ufam.
A assessoria disse que as cotas já foram praticadas nos cursos de pós-graduação, mas sem a devida institucionalização. “Para institucionalizar as ações afirmativas, a Universidade estabeleceu um diálogo amplo com os programas de pós-graduação, a comunidade indígena e os demais segmentos da Ufam. Dessa forma, a Universidade construiu, coletivamente, uma proposta que permitisse ao público-alvo da Resolução a garantia de acesso a todos os 41 programas de pós-graduação da Instituição”, disse.
Na nota, a reitoria disse que “as ações afirmativas são medidas compensatórias temporárias e que a Ufam, como instituição pública de ensino superior, defende a educação como bem público e mola propulsora para a construção de uma sociedade mais justa. Diante disso, a adoção de medidas que contribuam para alcançar esse objetivo, como é o caso da política de cotas, torna-se um importante recurso a ser implementado”.
Conforme a nota, a Ufam “reconhece sua responsabilidade em nível local, regional e nacional para o desenvolvimento da sociedade não apenas no âmbito econômico, mas também, nos aspectos profissional, social e cultural, nos quais a política de cotas irá impactar positivamente, mudando o perfil da universidade pública brasileira e contribuindo na busca reiterada pela excelência acadêmica com compromisso social”.
A Ufam diz ainda que “possui na graduação 3.507 estudantes cotistas que ingressaram por meio da reserva de vagas instituída pela Lei nº 12.711 de 2012” , mas que “não possui números precisos sobre quantos estudantes pretos, pardos e indígenas existem nos programas de Pós-graduação, pois, antes da política de Ações Afirmativas, esta distinção não existia para efeito de registro”.
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Destaque: foto de Alberto César Araújo/AmReal.
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Elaíze Farias.