Permissão para sonhar, por Gregorio Duvivier

Na Folha

Tive uma ideia louca. Talvez até subversiva. Sei que vocês vão dizer que não vai dar certo, mas peço a permissão para sonhar.

Imaginem um sistema político em que o povo escolhe seus representantes. Calma. Sei que parece loucura, mas nesse sistema a vontade de cada cidadão teria o mesmo peso. Podíamos chamar esse peso da vontade de cada cidadão de “voto”. É uma palavra bonita. Voto. O representante que tivesse mais votos seria o “eleito” –podíamos chamar esse processo todo de “eleições”. Aqueles que não fossem eleitos podiam esperar –vou chutar um tempo– quatro anos para tentar se eleger de novo. Se perdessem outra vez, esperavam por mais quatro anos. E daí por diante. Caso o representante cometesse um crime, seria deposto e convocaríamos novas eleições. Caso contrário, não.

Calma que o sonho não acabou. Nesse sistema louco, a Igreja seria separada do Estado. Ninguém citaria a Bíblia para justificar uma lei –até porque não haveria só cristãos no país. As funções de pastor, padre ou babalorixá não poderiam ser exercidas ao mesmo tempo em que a função pública, para não haver confusão. As igrejas, que também são empresas, pagariam impostos como qualquer empresa. Para designar esse Estado, pensei na palavra “laico” –que não rima com nada, mas é uma palavra linda.

A parte mais louca está por vir. Ninguém teria menos direitos por ser mais pobre. Ninguém precisaria pagar para ter saúde e ninguém estaria condenado a morrer por falta de dinheiro. A expectativa de vida, nesse regime louco, não seria proporcional à conta no banco. A qualidade da escola de uma criança não dependeria do salário dos seus pais. Mulheres –imagina só– ganhariam a mesma coisa que os homens e teriam os mesmo direitos sobre o próprio corpo. Claro, também haveria mulheres no poder. Sim, inclusive ministras. Por que não?

As pessoas fariam sexo com quem quisessem e usariam as substâncias que bem entendessem –o corpo seria delas, e o que esse corpo ingeriria ou penetraria não seria assunto do Estado. Chamaríamos esse conceito louco de “liberdade”. Talvez esteja indo longe demais, mas ninguém seria preso por ser negro, pobre, gay ou “trans”, e ninguém seria condenado por ser do jeito que nasceu.

Para batizar esse regime louco, uma palavra grega, que significa “o povo no poder”: democracia. Sei que não vai pegar por aqui. Mas que era lindo, era.

 

Comments (3)

  1. Importante menos o número de parágrafos, Raissa, que um fato essencial: ele nos diz qual a opinião do autor sobre determinado fato, circunstância, realidade? Se sim…

  2. Olá, eu gostaria de saber se esse texto pode ser considerado um artigo de opinião, pois gostaria de usá-lo num trabalho da escola e analisei que ele contém os 5 parágrafos precisos num artigo, e tem marcas de pessoalidade.
    Estarei aguardando a responta ansiosamente.
    Atenciosamente,
    Raissa.

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