Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil
Um ato contra a cultura do estupro reuniu pelo menos 5 mil pessoas no início da noite de ontem (1º), no centro do Rio de Janeiro. A concentração ocorreu na Igreja da Candelária e seguiu em passeata pela Avenida Presidente Vargas até a Central do Brasil. A estimativa de público é da organização do ato. A Polícia Militar (PM) ressaltou apenas que “o metro quadrado está muito denso”.
Com muitas faixas, cartazes, instrumentos musicais e gritos de ordem, as mulheres diziam: “Eu não me dou ao respeito porque ele é meu por direito”, “Meu corpo, minhas regras”, “A culpa não é da vítima”, “Não é o tamanho da nossa saia que envergonha a sociedade, mas o tamanho do seu machismo”, “O estuprador não é doente mental, ele é filho saudável do patriarcado” e “O feminismo nunca matou ninguém, o machismo mata todos os dias”, entre outros.
Integrante do coletivo Mães e Crias na Luta e uma das organizadoras do evento, Tatiani Araújo explica que vários movimentos e coletivos se uniram para combater o machismo que ainda impera na sociedade. Também militante da Nova Organização Socialista (NOS), ela lembra que o ato marca a questão da violência e do estupro coletivo que a jovem de 16 anos sofreu na semana passada, além de denunciar a violência cotidiana que as mulheres passam pelo simples fato de serem mulheres.
“A gente está denunciando esse crime perverso, uma menina vitimada por mais de 30 homens, e que a sociedade segue vitimando, quando perguntam onde é que ela estava, com quem ela estava, com que roupas, a que horas e se ela é do tráfico ou não. Nada justifica a violência, nada pode culpabilizar a vítima. A gente quer mostrar que a violência é cotidiana, ela está nas escolas, nos nossos locais de trabalho, no transporte, na falta de política que nós passamos no país. Ela [violência] está no governo golpista, que coloca uma mulher que é contra o aborto, mesmo em casos de estupro, o que vai na contramão do que nós estamos passando”, acrescentou Tatiani.
Na concentração, ocorreram várias falas e intervenções. Uma delas foi uma performance músico-teatral do coletivo artístico Mulheres de Buço, que fizeram paródias de funk, com mensagens feministas de desconstrução de posturas machistas. Integrante do grupo, Beatriz Morgana explica que o objetivo é lutar pela libertação dos corpos e pelo espaço das mulheres aonde elas quiserem.
Segundo Beatriz, “a gente está vivendo um momento muito importante de união das mulheres. A gente sempre ouviu funk, e essas mulheres que vieram com o funk – Valesca, Ludmila, MC Carol – são referências para o que a gente faz. A gente faz letras originais, e vocês nunca vão ouvir a gente cantar uma mulher contra outra, ‘ah, ela roubou meu namorado’, que ainda tem muito no funk. A gente acredita na sonoridade”.
Em outra intervenção, o coletivo Deixa Ela em Paz incentivou as participantes do ato a escreverem cartas e mensagens de apoio para a adolescente vítima de estupro coletivo, que repercute na imprensa desde a semana passada. Manuela Galindo, integrante do coletivo, diz que as mensagens estão sendo recolhidas por todo o país e chegarão às mãos da jovem.
Ela disse que o grupo faz colagem de lambe-lambe, stencil e outras formas, que são transformadas pelas mulheres em panfletos com mensagens educativas sobre assédio em transporte público, por exemplo, bem como para chamamento do grupo a discussões no Facebook. Segundo ela, o grupo participou de diversas ações desde o ano passado, quando foi criado, e “resolvemos fazer essa porque a gente percebeu que existe solidariedade das mulheres, e queríamos encontrar uma forma desse apoio e carinho chegar a ela [vítima de estupro], para que ela se sinta acolhida”.
Na passeata pela Presidente Vargas, houve chuva de papel picado em apoio ao ato, e as manifestantes gritavam palavras de ordem como “Mexeu com uma, mexeu com todas”, “Segura seu machista, a América latina vai ser toda feminista”, “Fora Temer”, “Fora Cunha” e “Fora Bolsonaro”.