O factoide trapalhão do ministro da Justiça e sua “guerra ao terror”

Por Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

O circo armado pelo ministro da Justiça Alexandre de Moraes para dar notícias acerca da captura de supostos terroristas foi resumido por ele mesmo: “Tudo leva a crer que eles jamais agiriam de maneira séria”, admitiu na coletiva bombástica. “A chance de ataques nos Jogos é mínima”.

A pergunta é óbvia: “Então para que tudo isso?” (No caso de um correspondente que se comunique em inglês: “What the fuck?”)

A duas semanas da Olimpíada, Moraes quis mostrar o que conseguiu com a Operação Hashtag, que em dez dias identificou doze pessoas, das quais dez foram em cana.

Elas estariam ligadas ao Estado Islâmico. As detenções aconteceram no Amazonas, no Ceará, na Paraíba, em Goiás, no Mato Grosso, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul.

Eram monitorados há meses pela PF. Teriam comemorado atentados cometidos em Nice, em Orlando e em Paris. Mas o que mudou a condição dos elementos foi sua passagem para “atos preparatórios”.

Eles se comunicavam, contou ele, via WhatsApp e Telegram. Bem, temos algo de estranho aí, já que os aplicativos são criptografados. Nem o FBI consegue quebrar a criptografia, mas os eleitos de Curitiba fazem milagres nesse quesito.

Moraes se saiu com uma resposta meia boca quando questionado sobre isso: “Qualquer mecanismo de investigação não deve ser falado numa entrevista coletiva para avisar um suposto terrorista sobre como se investiga. Esta pergunta atrapalha não só esta como outras investigações”.

Das duas, uma: ou temos os melhores cérebros do serviço secreto universal na Polícia Federal; ou é uma mentira deslavada. A vontade de aparecer superou o fato de que os cidadãos ainda se lembram que uma juíza determinou o bloqueio do WhatsApp exatamente porque não se havia conseguido acesso às mensagens.

O ministro encantou os presentes com seu conhecimento das táticas de recrutamento do terror. “A pessoa que faz esse juramento passa a achar que faz parte do Estado Islâmico”, disse. “Até o momento, tudo que foi investigado foi o único contato que alguns deles tiveram, o batismo. Eles não saíram aqui do país para nenhum contato pessoal.”

Era “uma célula amadora”. Os caras não tinham ”nenhum preparo”. O líder deles afirmou que “era necessário aprender artes marciais e atirar com armas” que seriam compradas pela internet. Umas bestas, enfim.

Há semanas, o interino divulgou um vídeo para tranquilizar turistas e atletas. Antes da entrevista de Moraes, os dois estiveram juntos — como sempre num encontro fora da agenda em seu gabinete — e Temer foi informado dos detalhes. Orientou-o para que falasse para mostrar que o governo “está atento e operando em cooperação com outros países”.

Em todo o mundo, há sigilo dessas operações para, entre outras coisas, não alertar os criminosos. O saldo da palhaçada serão prováveis desistências de gente que já estava ressabiada com a nossa violência, que vai muito bem sem a ajuda de fanáticos religiosos, e com a nossa bagunça institucional.

De acordo com a Associated Press, diversos chefes de estado vão dar bolo na cerimônia de abertura da Rio 2016 porque “não sabem que mão vão apertar”. Por enquanto, François Hollande é o único nome de peso.

Moraes foi secretário de segurança de São Paulo. Durante seu mandato, o PCC apenas cresceu. Moraes constava no Tribunal de Justiça como advogado da Transcooper, empresa que serviria para lavar dinheiro da organização criminosa. Ele sabe que, para comprar uma AK 47, basta o sujeito ir a uma favela.

As teorias conspiratórias já começaram a surgir: teremos o desembarque de tropas do exterior sob a alegação de combate ao terrorismo? Uma base militar dos EUA e de Israel será instalada?

A patetice ganhou o mundo e está na mídia internacional. A explicação para o show de Alexandre de Moras é mais simples e obedece ao padrão do governo do golpe: burrice, oportunismo e incompetência. Se é isso o que o Estado Islâmico procurava, agora já sabe onde encontrar.

Foto: Valter Campanato /Agência Brasil

 

 

Comments (1)

  1. Amigos, 70 anos “feitos” deram-me um pouco mais de sabedoria, moderação, frieza… Nessa questão, é melhor comentar e debater sem paixão ou açodamento – sempre a merda do partidarismo, do golpismo e não-golpismo, para interferir no pensamento. Enfim, viram o que ocorreu, semana atrás, em Nice? Aquilo me deprimiu, quase chorei. Terrorismo é uma praga – não importa as suas origens, motivaçlões e razões fanáticas, desesperadas, religiosas. O ESTADO tem o dever de reagir também com força e armamento, mortes – se preciso – EM DEFESA DOS INOCENTES. Daí, afirmo, MELHOR AGIR PREVENTIVAMENTE. Alguma injustiça poderá ser cometida? Sim, claro que pode. Muito pior é a OMISSÃO, a pena de morte equivocada com julgamento falso descoberto a posteriori. Fecho com o ocorrido em Nice para chamar a atenção para o fato de que aquele sujeito louco – pelo fanatismo religioso – era quase um amador – cumpriu o seu [dele] objetivo por uma postura omissa e infeliz do sistema de segurança naquele fatídico dia – jamais aquele caminhão poderia ter entrado na área, como entrou… Não se sabe exatamente onde termina algo como uma “brincadeira” que envolve desejo de comprar um fuzil AK-47 etc., o aluguel de uma caminhão de carga por um estrangeiro – ou quase. Por isso este velhinho aplaude a ação dos nossos agentes da PF e da Justiça. Pensem nisso. Paz e saúde para todos!

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