Comunidades rurais não confiam em sistema de alerta de barragem de rejeitos da mineradora Anglo-American

“Não queremos ser mais uma Bento Rodrigues” e “queremos dormir sem precisar sair correndo sem rumo” foi a resposta dos moradores da comunidade de São José do Jassém, município de Alvorada de Minas, à proposta de um sistema de segurança para uma barragem de rejeitos da mineradora Anglo American na reunião ocorrida dia 27 de julho de 2016. O plano visa a instalação de uma sirene e rotas de fuga para facilitar o resgate dos moradores rurais localizados abaixo do empreendimento. O volume desta barragem será de 380 milhões de metros cúbicos, seis vezes maior do que a da Fundão da SAMARCO (VALE, BHP Billiton) no município Mariana, Minas Gerais, que rompeu em novembro de 2015, retirando 19 vidas, deixando centenas famílias desabrigadas e um lastro de destruição ao longo de mais de 600 km no Vale do Rio Doce.

Um agravante no caso da barragem da Anglo American é o fato que existem, além da Comunidade de Jassém, os povoados Água Quente e Passa Sete, município de Conceição do Mato Dentro,  na área de risco imediato do empreendimento. Desde 2008, com o início da instalação do empreendimento minerário, estas comunidades sofrem com a degradação e poluição que impossibilitou o consumo da água do Córrego Passa Sete e tornou a comunidade dependente do caminhão pipa. Já em 2014 – antes de finalizado licenciamento ambiental – o vazamento de produtos químicos da barragem de rejeitos provocou a morte de alguns bezerros que tomaram da água contaminada e de todos os peixes do Córrego Passa Sete que atravessa os povoados.

Na reunião, os moradores também denunciaram outras violações das quais são vítimas nos últimos anos, tais como a intimidação através de seguranças da empresa mineradora que procura criminalizá-los pela retirada de lenha nas imediações do distrito do Jassém e outros usos tradicionais do rio que jamais configuraram uma ameaça ao ecossistema como as atividades devastadoras da mineradora.

Em relação à instalação da sirene pretendida pela Anglo American os representantes da comunidade Jassém criticam a política de informação e a relação com a comunidade adotada pela empresa, já que a mineradora tentou impedir que as outras comunidades supracitadas fossem  convidadas para a reunião ocorrida no dia 27 de julho. Além disso, a comunidade manifestou o seu interesse em conhecer os estudos que indicam o tempo de deslocamento da lama desde a barragem até cada uma das comunidades, em caso de rompimento, dados não informados pela empresa. A ineficiência da instalação da sirene para garantir a segurança da comunidade que possui distribuição dispersa das moradias e dos estabelecimentos rurais, a presença de escolas, assim como o grande número de idosos e crianças, que, freqüentemente, ficam sozinhas nas suas casas foi apenas um dos argumentos utilizados pela população para repudiar a medida proposta pela mineradora. Indignados, os moradores exclamaram frases como  “sirene não é alternativa de segurança”, “sirene é para bandido” e “não queremos ser tratados como ratos de laboratório”. O único meio para evitar a exposição ao risco de uma catástrofe ainda maior do que em Mariana será o reassentamento da comunidade. Entretanto, esta alternativa foi prontamente rechaçada pela mineradora sob a justificativa vaga de “que esta hipótese não está prevista pela empresa”.

A postura da Anglo American mostra, de acordo com os moradores e seus apoiadores, que as mineradoras ainda não estão dispostas a aprender a lição do desastre tecnológico causado pela SAMARCO, que configura um cenário de crime ambiental e homicídio doloso causado pela negligência calculada na busca de diminuição de custos. Trata-se de uma forma de racismo ambiental em que os lucros dos acionistas valem mais do que as vidas das populações rurais tradicionais. Cabe lembrar que o caso da SAMARCO é apenas o mais grave de uma série de oito rompimentos de barragens em Minas Gerais, causando inúmeros danos ambientais e vítimas fatais.

REAJA- REDE DE ARTICULAÇÃO E JUSTIÇA AMBIENTAL DOS ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO DA ANGLO AMERICAN

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Andréa Zhouri.

Comments (1)

  1. Sério mesmo isso que acabo de ler!

    Entendo os pontos levantados por ambas partes. A mineradora deve seguir a legislação vigente e garantir que as estruturas sejam competentes para garantir a segurança da comunidade, o que não difere da construção de um prédio ou uma ponte, já que, em todos os casos, existe todo um estudo de engenharia.

    Mas não dá para simplesmente bravejar que não existem garantias de segurança para se conseguir o reassentamento. esta decisão deve ser também pautada pela legislação.

    Espero, sinceramente, que os dois lados estejam sendo coerentes, e não agindo apenas como capitalistas aproveitadores de oportunidades.

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