Chanceler de Temer disse à imprensa que Venezuela não irá liderar Mercosul; sobre situação com Uruguai, afirmou que questão foi ‘esclarecida’
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O chanceler do governo interino de Michel Temer, José Serra, afirmou, durante pronunciamento à imprensa realizado nesta quarta-feira (17/08), que a Venezuela “entrou no Mercosul a partir de um golpe”.
A declaração foi feita após um encontro entre Serra e o deputado venezuelano Luís Florido, presidente da Comissão Permanente de Relações Exteriores, Soberania e Integração da Assembleia Nacional da Venezuela; Carlos Vecchio, coordenador político do partido opositor Vontade Popular; e Lilian Tintori, esposa do opositor venezuelano Leopoldo López, condenado a 13 anos de prisão por incitação à violência que deixou mortos e feridos durante protestos antigoverno em 2014 pelo país.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, a entrada do governo venezuelano no bloco foi “um golpe” porque se deu graças à suspensão temporária do Paraguai, comandado na época por Federico Franco, único opositor no Mercosul à entrada de Caracas.
Em 2012, Hugo Chávez, então presidente da Venezuela, solicitou a adesão ao bloco. O pedido foi aceito por Brasil, Argentina e Uruguai. O Congresso paraguaio, porém, bloqueava o pedido. Assim, quando a nação foi suspensa do bloco devido a um golpe parlamentar contra o presidente Fernando Lugo, os outros países-membros aprovaram a entrada venezuelana.
Serra voltou a afirmar que a Venezuela não cumpriu os pré-requisitos necessários para a adesão ao bloco – afirmação negada pela chancelaria venezuelana na última segunda-feira (15/08). “Foram dados quatro anos para que cumprisse e não cumpriu [os pré-requisitos de adesão]. A Venezuela não tem condições de assumir a Presidência pró-tempore. A Venezuela não vai assumir o Mercosul”, disse.
Para o ministro brasileiro, outro fator que impediria a Venezuela de ocupar o cargo temporariamente seria seu governo, o qual classificou de “regime autoritário”.
“A Venezuela é um regime autoritário. Tem presos políticos. A Venezuela está sem rumo neste momento. Nós reiteramos nossa preocupação com essa situação e desejamos ardentemente que seja realizado um referendo revogatório do presidente Nicolás Maduro. Todos os países devem pressionar a Venezuela a realizar o referendo o mais breve possível”, afirmou Serra.
Defendendo que o mecanismo constitucional do referendo revogatório foi criado pelo governo de Hugo Chávez, Serra disse que “nós estamos, melhor, eles estão [os opositores de Maduro] lutando dentro das regras que o próprio chavismo estabeleceu”.
“Desfeito esse governo autoritário e restaurada a democracia, a Venezuela pode contar com o Brasil para se reconstruir”, disse ele.
O Brasil, junto da Argentina e do Paraguai, não reconhece o país de Maduro à frente do Mercosul por acreditar que a nação passa por problemas econômicos e políticos, não cumprindo com os requisitos necessários para liderar.
Os três sugerem, assim, um governo coletivo comandado por um conselho de embaixadores até o fim de dezembro, entregando a Presidência do bloco à Argentina em 1º de janeiro.
Apenas o Uruguai defende o direito de a Venezuela assumir, afirmando que “não há argumentos jurídicos” que impeçam a transferência da Presidência ao país e que “não está prevista em nenhum lugar uma Presidência coletiva”.
Incidente com o Uruguai
Durante a coletiva desta quarta, Serra também comentou a situação de tensão com o Uruguai. O chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, havia dito que Serra teria tentado “comprar o voto do Uruguai” para que este se opusesse à transferência da Presidência do Mercosul à Venezuela.
Serra afirmou que Novoa lhe telefonou hoje para “esclarecer a questão”. “Não há mais nenhum problema em nosso trabalho conjunto. Foi um mal entendido”, disse o ministro que, entretanto, não quis dar detalhes à imprensa do que foi dito durante a conversa.
Opera Mundi tentou entrar em contato com a chancelaria uruguaia, mas devido ao horário de funcionamento da Embaixada do Uruguai em Brasília, não foi possível confirmar se o telefonema de Novoa para Serra foi de fato realizado.