Na BBC
O irmão mais velho de Omran Daqneesh, o garoto sírio que chocou o mundo ao ser flagrado sozinho, atônito e coberto de pó e sangue após ser resgatado, morreu em decorrência de ferimentos causados pelo bombardeio à casa da família em Aleppo, afirmam ativistas.
A rede de ativistas Syria Solidarity Campaign, baseada na Inglaterra e que apoia os rebeldes que enfrentam o regime de Bashar Al-Assad, disse que Ali, de 10 anos, “morreu hoje (sábado) por ferimentos causados pelo bombardeio de sua casa pela Rússia/Assad”.
Jatos russos e do regime sírio conduziram ataques pesados em áreas controladas pelos rebeldes em Aleppo.
Omran, de cinco anos, foi filmado coberto de pó e sangue após sua casa ser atingida.
As imagens – simbolizando o sofrimento de civis presos em meio aos combates em Aleppo – causaram revolta pelo mundo.
Uma testemunha não identificada em Aleppo citada pela agência de notícias Reuters disse que Ali Daqneesh sofreu hemorragia e danos a órgãos vitais após o bombardeio de 17 de agosto.
Pelo Twitter, o repórter Kareem Shaheen, que colabora para o jornal britânico The Guardian no Oriente Médio, disse ter confirmado a morte com o médico que atendeu Omran.
“Esse garoto sírio (Omran) sobreviveu. Seu irmão mais velho morreu. E o mundo continua a assistir, derramando lágrimas, fazendo nada”, escreveu o repórter.
Aleppo, que até o início da guerra civil era o centro comercial e industrial do país, foi praticamente dividida em duas desde 2012, com o governo controlando o oeste e os rebeldes, o leste.
Histórico
A guerra na Síria é um conflito complexo que envolve forças locais, regionais e internacionais. Já custou a vida de ao menos 250 mil pessoas e o deslocamento de milhões de moradores.
O estopim do conflito foi a reação do regime de Bashar Al-Assad contra manifestações pró-democracia iniciadas em março de 2011, na cidade de Daraa, após a prisão e tortura de adolescentes que haviam pintado slogans revolucionários no muro de uma escola.
Forças de segurança abriram fogo contra manifestantes, o que provocou mortes e alimentou a insurgência por todo o país – em julho daquele ano, centenas de milhares tomavam as ruas.
Membros da oposição eventualmente começaram a pegar em armas. A princípio, para se defender; depois, para expulsar as forças estatais de suas regiões.
O país entrou em guerra civil, com brigadas rebeldes lutando contras tropas governamentais pelo controle de cidades, povoados e zonas rurais. Em 2012, a violência chegou à capital Damasco e à segunda metrópole mais importante do país, Aleppo.
O conflito hoje é mais do que uma disputa entre grupos pró e anti Assad. Adquiriu contornos sectários, jogando a maioria sunita contra o ramo xiita alauita de Assad.
E o avanço do grupo extremista autodenominado Estado Islâmico deu uma nova dimensão à guerra. O EI se aproveitou do caos e tomou controle de grandes áreas na Síria e no Iraque, onde proclamou a criação de um “califado” em junho de 2014.
Seus integrantes estão envolvidos numa “guerra dentro da guerra” na Síria, enfrentando rebeldes e rivais jihadistas da Frente al-Nusra, ligada à Al-Qaeda, bem como o governo e forças curdas.
O conflito também mudou muito desde o início. Moderados seculares hoje são superados em número por islâmicos e jihadistas, adeptos de táticas brutais que motivam revolta pelo mundo.
E a batalha já além de ser contra ou favor de Assad – adquiriu um tom sectário, onde a maioria sunita enfrenta a ala xiita que apoia o presidente, e inclui a intervenção de países vizinhos e de potências globais.
Uma coalizão liderada pelos EUA lançou ataques aéreos na Síria em setembro de 2014 em tentativa de enfraquecer o EI. Em 2015, a Rússia lançou campanha aérea alvejando terroristas na Síria, mas ativistas da oposição dizem que os ataques têm matado civis e rebeldes apoiados pelo Ocidente.
Todas as partes em conflito já foram acusadas de crimes de guerra – como ataques a civis, tortura, estupro, desaparecimentos forçados e bloqueios que impedem fluxo de alimentos e serviços de saúde.
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Omran Daqneesh; Foto: BBC.