Vasta folha de serviços prestados ao PSDB faz imaginar Aécio, Anastasia e Aloysio Nunes rindo à toa da situação deles na Lava Jato
por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou na última quinta-feira (8) que escolheu para ser seu vice José Bonifácio Borges de Andrada, procurador com um currículo “tucaníssimo”: foram oito anos em cargos de confiança nos governos de FHC e depois mais oito anos no de Aécio, quanto este foi governador de Minas Gerais. O senador Aloysio Nunes já foi seu chefe direto.
Confira a carreira de Bonifácio junto a tucanos destacados:
De 1995 a 2000 (governo FHC): consultor jurídico do Ministério da Previdência e Assistência Social (sob comando dos ministros Reinhold Stephanes e Waldeck Ornelas, ambos do DEM);
De 2000 a 2001: subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil da Previdência da República (ministro Pedro Parente);
De 2001 a 2002 foi secretário executivo do então ministro da Justiça Aloysio Nunes. Por ter sido o número 2 da pasta, chegou a ser ministro interino, em ocasiões de ausência de Aloysio;
Em 2002, ocupou brevemente o cargo de sub-secretário da Secretaria Geral da Previdência da República (de Euclides Scalco);
De 2002 a 2003, foi advogado-geral da União, sucedendo Gilmar Mendes.;
De 2003 a 2010, escolhido pelo então governador Aécio Neves, foi advogado-geral de Minas Gerais.
O vice-PGR ainda é filho do ex-deputado federal tucano Bonifácio Andrada e irmão de outro ex-deputado estadual e agora prefeito de Barbacena, Toninho Andrada (também do PSDB), que em 2004 saiu de líder do governo Aécio na Assembleia Legislativa para ser conselheiro do Tribunal de Contas de Minas, que chegou a presidir.
Bonifácio vai substituir Ela Wiecko, que deixou o cargo na semana passada após a imprensa divulgar um vídeo em que ela aparece numa manifestação contra o impeachment. Ela Wiecko pediu dispensa do cargo e saiu dizendo que todo o processo do impeachment é golpe e que o MPF tem vários integrantes que pensam da mesma forma.
Na PGR corre a certeza de que a escolha de Janot tem um componente político. Ao substituir Ela, que tinha uma posição mais defensora da regularidade democrática, por um nome ligado ao PSDB, Janot espera construir uma ponte com Michel Temer.
Bonifácio também é um nome que tem bom trânsito com os demais subprocuradores e é próximo do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que tem feito reiteradas críticas à atuação da PGR na Operação Lava Jato.
É papel do vice assumir o comando do Ministério Público Federal durante as ausências de Janot. Ele também poderá representar a instituição em julgamentos no Supremo Tribunal Federal (STF) e sessões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Bonifácio deve herdar ainda o comando da Operação Acrônimo, que tem como alvo o atual governador de Minas, o petista Fernando Pimentel.
A questão aqui não é de questionar a competência e integridade do vice PGR escolhido mas, pra dizer o mínimo, é evidente que ele não deveria conduzir investigações sobre seus ex-chefes, amigos e compadres. Sobram argumentos para afirmar que se trata de aparelhamento tucano da instituição.
Como vice, ao assumir a PGR eventualmente, ele também responde por todos os processos de autoridades com foro privilegiado, incluindo Aécio e Aloysio, ambos com algumas ações correndo contra si na Suprema Corte.
Assim pega mal, muito mal.
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Imagem: Pegou mal: José Bonifácio de Andrada, novo vice-PGR, vai participar de investigações sobre amigos no PSDB – FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM / ABR