Novembro reforça a luta e a resistência das mulheres negras no Brasil

Os dias 20 e 25 são datas simbólicas para memória, história e luta

Por Elen Carvalho
Do Brasil de Fato / MST

Novembro é um mês importante para as mulheres negras no Brasil. O dia 20- Dia da Consciência Negra – e o dia 25 – Dia Latino-americano e Caribenho pelo fim da violência contra a mulher –são duas datas simbólicas para trazer à memória a história de luta e resistência das mulheres negras e refletir sobre as condições atuais de vida dessa população. Diante disso, diversos movimentos e coletivos feminista do Recife e Região Metropolitana realizam a Jornada Feminista em Combate ao Racismo e à Violência contra a Mulher, que iniciou no dia 11 e vai até o dia 25 desse mês com uma vasta programação.

Nathália Diórgenes, militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que as datas são importantes pois visibilizam duas problemáticas que estão vigentes na sociedade brasileira atual: o racismo e a violência contra a mulher. “O dia 20 de novembro faz um contraponto ao 13 de maio e marca a consciência negra no dia da morte de Zumbi. É, digamos, um deslocamento político do debate, já que a abolição em 1888 não significou muita coisa para a população negra, pois não tinham o entendimento de que as pessoas negras detinham também dignidade, liberdade e direitos”, explica.

Sobre o dia 25, a militante e pesquisadora afirma: “o dia 25 de novembro é emblemático da luta feminista contra a violência. O Brasil ocupa o 7° lugar do ranking de países onde acontecem mais assassinatos de mulheres. Uma em cada cinco mulheres já foi espancada pelo parceiro, de acordo com a pesquisa DataSenado sobre violência doméstica e familiar de 2015. Estamos diante de uma questão profundamente grave. Como podemos falar de democracia e civilização com cerca de metade da população feminina vivendo sob a égide da violência doméstica?”.

De acordo com o Mapa da Violência de 2015, divulgado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), de 2003 a 2013, o número de mulheres negras mortas cresceu 54%, enquanto o número de mulheres brancas mortas por violência diminuiu 10% em todo o país. “As explicações para essa situação são muitas. Uma delas é que o racismo não está sendo devidamente enfrentado dentro das instituições como um todo. Só em 2011 as empregadas domésticas tiveram os mesmos direitos que qualquer outro trabalhador. Isso tem a ver com a continuidade das relações de escravidão”, pontua Nathália.

Integrante do Grupo Espaço Mulher, Fórum de Mulheres de PE e da Rede de Mulheres Negras, Ediclea Santos, observa que essa realidade tem relação com o esquecimento da periferia pelo Poder Público também. “Infelizmente, nós que vivemos nas periferias somos esquecidas pelo Estado, não temos segurança e faltam políticas sociais. Nós estamos na luta pela sobrevivência, por isso estudamos, trabalhamos e buscamos qualificação. Mas, não estamos livres da violência doméstica e essa é a mais cruel por que ainda está invisível da sociedade”, reflete.

A dúvida que se coloca a partir da divulgação do Mapa da Violência de 2015 é sobre quais fatores colaboram para esses números. Sobre isso, Nathália comenta: “O mito da democracia racial, a fantasia de que somos um país de mestiços não de negros, ajudou a erguer um imaginários social de que racismo não existe. O que é uma verdadeira mentira. Nós negras sentimos o racismo todos os dias. Outra questão é que não temos no Brasil muitas políticas voltadas para as mulheres negras especificamente, que articulem vários saberes, vários programas, várias ações”.

Enfrentar essas questões, como as mulheres negras vem fazendo há muito tempo, requer pensar em várias ações. “Acredito que a violência contra as mulheres negras precisa ser enfrentada em sua totalidade. É preciso pensar qual a relação entre a baixa escolaridade de grande parte destas mulheres, o desemprego (que é maior entre mulheres negras) e a violência? Acredito que precisamos de uma política que unifique gênero e igualdade racial. Que discuta racismo e gênero nas escolas, capacite os agentes das políticas públicas, que enfrente a questão da autonomia econômica das mulheres negras e fortaleça as estruturas de denúncia e julgamento dos casos”, conclui Nathália.

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