Por Monica Francisco, no Jornal do Brasil
Nesta quinta-feira(26), foi lancada a Frente Antiprisional, que congrega diversas instituições entre sua lista de apoios. Instituições acadêmicas, movimentos sociais, pesquisadores, familiares, egressos, entre outros.
A questão antiprisional, bem como as questões sobre o desencarceramento, emerge, e de maneira candente, cresce na esteira dos terríveis acontecimentos envolvendo a população carcerária.
População essa que se configura de jovens, homens, com menos de 29 anos em sua maioria, pretos ou pardos e primários.
O que nos provoca a todos, dentre tantas outras marcas, esta singularidade da população carcerária brasileira, a nos despirmos de nossas pré-concebidas opiniões e dar espaço a esse diálogo tão delicado.
Um dos depoimentos mais contundentes da noite de apresentação e lançamento da frente partiu de um jovem egresso, que ao apontar questões importantes para a reflexão da sociedade, do ponto de vista de quem viveu a realidade da privação de liberdade, resume o que, a meu ver, é um dos maiores problemas.
Sua afirmação de que, para a sociedade brasileira, a categoria “preso” é uma abstração nos convida ao enfrentamento da pauta.
De fato, a sociedade brasileira precisa encarar esse debate. Não é possível que a situação dramática a qual chegamos possa ser desprezada ou minimizada pelas instituições e por uma quase totalidade da sociedade.
A sanha punitivista não pode cegar a razão, sabendo que “abstrair” a categoria preso, desumanizar e objetificar estas pessoas (homens e mulheres), incorre em um erro, que pode levar a perigosas consequências.
A conveniente cegueira da sociedade brasileira, o racismo institucional, a crueldade do Estado brasileiro, impetrada preferencialmente em sua população de pele mais escura, moradora dos lugares determinados aos mais vulnerabilizados, é no mínimo indecente e no máximo, desumano.
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*Colunista, Consultora na Ong Asplande, Pesquisadora e Membro da Rede de Instituições do Borel.