Após 17 anos, acusados de matar Marcos Veron têm novo julgamento

Desde ontem acontece em Dourados audiência para depoimento de vítimas e testemunhas da ação contra 24 pessoas acusadas, entre elas um policial militar e o dono da fazenda onde Veron foi morto

Por Helio de Freitas, de Dourados, no Campo Grande News

A Justiça Federal retomou o julgamento de réus ligados ao ataque ao acampamento indígena que culminou no assassinato, em 2003, de um dos maiores líderes do povo guarani, o cacique Marcos Veron. Desde ontem, acontece na 1ª Vara Federal em Dourados, a 233 km de Campo Grande, audiência para depoimento de testemunhas de acusação e defesa na ação instaurada contra 24 pessoas, acusadas pelo MPF (Ministério Público Federal) de organizar e colocar em prática o ataque contra os índios.

Essa é uma nova ação penal, iniciada após a denúncia ajuizada em 2008 e recebida em 2010 pela Justiça Federal. Entre os 24 réus estão um policial militar e o dono da fazenda Brasília do Sul, Jacintho Onório da Silva Filho, atualmente com 101 anos de idade. Outros acusados pelo assassinato do cacique foram julgados em 2011.

Fazendeiro

Segundo o MPF, o fazendeiro Jacintho Onório foi identificado como o mentor intelectual e financeiro dos crimes, responsável pela contratação de pessoas, fornecimento de veículos, alimentação, armas e munições, além de planejar os ataques aos indígenas acampados na fazenda Brasília do Sul, nos dias 12 e 13 de janeiro de 2003.

O fazendeiro responde por homicídio duplamente qualificado, tentativa de homicídio qualificado (7 vezes), tortura, sequestro (7 vezes), formação de quadrilha armada e dano qualificado.

Audiência

Desde ontem, ocorre na 1ª Vara Federal em Dourados a primeira audiência desse segundo processo, presididas pelo juiz federal Moisés Anderson Costa Rodrigues da Silva. Testemunhas de acusação estão sendo ouvidas desde ontem e na quinta-feira serão ouvidas as testemunhas de defesa.

Estão presentes nas audiências os réus Claudemir Francisco Bertune, Geraldo Sebastião de Oliveira, Nivaldo Alves de Oliveira, Alex Alexandre de Oliveira, Claudio Rosenes, Jair Sebastião de Oliveira e Valdomiro Gazola. Nivaldo passou 12 anos foragido e se apresentou em 2015.

Estão representados por advogados os réus Jacinto Honório da Silva Filho, Francisco Ferreira Lima Filho, Antonio Batista Rodrigues, José Aparecido de Oliveira, Edson Soares Damasceno, Odirley Rodrigues Fontes, Julio Cesar Ferreira de Lima, Ademir Ricardo da Costa, Orlando Paulo Mariano (dispensado), Vilmar Jacques dos Santos e Florisvaldo de Oliveira dos Santos.

Das sete vítimas do ataque, apenas duas estão presentes – Ládio Veron Cavalheiro e Adélcia Martins Veron. Cipriana Martins, Ernesto Veron e Valdecir Cavalheiro não foram localizados. Mario Turibio da Silva e Valmir Veron já estão mortos.

Adélcia passou mal na audiência de ontem e teve que ser socorrida pelo Samu (Serviço Móvel de Urgência). A audiência foi retomada às 13h de hoje.

Já condenados

Em março de 2011, Jorge Insabralde, Carlos Roberto dos Santos e Estevão Romero foram condenados a 12 anos e 3 meses de prisão em regime fechado por sequestro, tortura e lesão corporal a seis indígenas, além de formação de quadrilha armada e fraude processual. O julgamento ocorreu em São Paulo e durou cinco dias.

Mesmo reconhecido como coautor do crime – teria imobilizado o cacique para que Nivaldo Alves de Oliveira desferisse as coronhadas fatais – Carlos foi absolvido da participação direta no assassinato. Em 2015, o TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região acatou o pedido do MPF e Carlos será submetido a um novo julgamento. Nivaldo também espera para ser julgado pelo assassinato de Marcos Veron.

Ataque e morte

Segundo o MPF, na madrugada de 13 de janeiro 2003, os agressores atacaram o acampamento a tiros. Sete índios foram sequestrados, amarrados na carroceria de uma camionete e levados para local distante da fazenda, onde passaram por sessão de tortura.

Um dos filhos de Veron, Ládio, quase foi queimado vivo. A filha dele, Geisabel, grávida de sete meses, foi arrastada pelos cabelos e espancada. Marcos Veron, à época com 73 anos, foi agredido com socos, pontapés e coronhadas de espingarda na cabeça. Morreu com traumatismo craniano.

Foto de Marcos Veron em frente à aldeia de sua tribo, em Juti. Foto: Divulgação.

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