Cinco polêmicas de 2017 para saborear na ceia de Natal

Por Juliana Gonçalves, no The Intercept Brasil

Então é Natal, e o grupo da família vai se materializar ao vivo e em cores na ceia. Entre a pergunta sobre os namoradinhos e a discussão sobre celulite da Anitta em seu novo clipe, o assunto pode virar o homem nu no museu ou a PEC do aborto. Isso sem falar daquele primo adolescente que pediu o livro do Bolsonaro no amigo oculto e do tio que acredita que racismo não existe.

Listamos alguns assuntos que renderam muitos textões nas redes sociais em 2017 para que você possa se preparar e ter as melhores respostas para os parentes nessa data festiva.

A arte está nua

Em um curto espaço de tempo, tivemos o encerramento da exposiçãoQueermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, a polêmica sobre a performance de um artista nu no Museu de Arte Moderna de São Paulo e a discussão sobre a classificação etária da mostra “História da Sexualidade”, no Museu de Arte de São Paulo. Pedofilia e Zoofilia passaram a ser associadas à teoria Queer. E o assunto foi parar na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados ( sim, isso mesmo).

A patrulha teve patrocínio do incansável Movimento Brasil Livre – MBL. O grupo atacou a arte com o intuito de oferecer a solução ( um candidato à presidência, provavelmente ) e ditar a pauta das redes sociais enquanto os acontecimentos em Brasília seguiam em segundo plano.

Racismo

No Brasil, o único racismo reconhecido é o reverso. Quando o preto abre a boca para denunciar algum ato racista real, é taxado de vitimista e escuta logo que toda a sua argumentação não passa de mimimi. Afinal, “somos todos humanos”.

Quando Taís Araújo fala que pessoas mudam de calçada quando veem seu filho negro, o secretário de educação do Rio de Janeiro sente-se ofendido. Quando William Waack taxa algo como coisa de preto, sua competência profissional se sobrepõe a “piadinha”. Mas, quando uma jovem branca supostamente é rechaçada por uma negra por conta do uso de um turbante, os negros são muito radicais na militância. Vai ter branca de turbante sim, eles dizem.

Lembre aos parentes que o racismo apenas não é reconhecido, mas está presente nos pequenos atos deles próprios. Não pode mentir no Natal, hein? Precisamos falar umas verdades.

Aborto

O ano começou com a inconstitucionalidade do aborto sendo debatida no Supremo Tribunal Federal e terminou com a discussão da sua proibição até mesmo em casos de estupro com a PEC 181 – projeto que avança sendo debatido por homens. O lobby da bancada evangélica fez com que uma emenda à constituição sobre licença-maternidade se transformasse em um verdadeiro cavalo de Troia após uma alteração no texto original feita pelo relator e evangélico Jorge Mudalen.

Nas redes sociais, muitos acusam as mulheres de assassinas, lembram que existem métodos anticoncepcionais e que no caso do estupro a mulher pode entregar o bebê para adoção – afinal, é supertranquilo carregar o fruto de uma agressão dessas no ventre por nove meses.

Esse tema  pode surgir a qualquer momento no meio da sua confraternização familiar (acredite). Caso aconteça, diga a todos que o aborto vai continuar acontecendo de qualquer maneira, que mulheres vão continuar morrendo por conta de procedimentos inadequados e que provavelmente alguma mocinha da própria família já abortou. O climão é certo. Testado e aprovado.

Cura Gay

Em 2017, os LGBTQi puderam meter atestado no trabalho ou se acharam no direito de fazer isso. Uma ação deu permissão para que psicólogos pudessem aplicar o tratamento de reversão sexual, também conhecido como cura gay. Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde não considera a homossexualidade como patologia há 30 anos.

A autora da ação, Rozangela Alves Justino possui desde junho de 2016 um cargo no gabinete do deputado evangélico Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) na Câmara, apadrinhado pelo líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pastor Silas Malafaia. Ou seja, assim como a PEC 181, o projeto que autoriza do tratamento da “cura gay” foi mais um lobby da bancada evangélica.

Yukeeeee.

Eleições 2018

Uma das grandes polêmicas de 2017 é o que vai acontecer em 2018. Parece que foi ontem que você  bloqueou seu primo do Facebook, mas já faz quatro anos. É difícil prever o cenário político do próximo ano, mas uma coisa é certa: as brigas no grupo da família estão voltando com tudo. Então, se prepare.

Michel Temer é carta fora do baralho. Lula aguarda o julgamento do Tribunal Regional Federal, que acontece no próximo dia 24 de janeiro, para definir sua candidatura. O MBL segue em campanhaLuciano Huck preferiu não deixar o cargo de apresentador na TV Globo para engrenar na corrida pela vaga no Planalto. Enquanto isso, o cotadíssimo Jair Bolsonaro investe em tour internacional dando plenas garantias aos patrões e batendo continência à bandeira americana.

Prontos? Caso tenham sentido falta de alguma polêmica, é só enviar para a gente.

Feliz Natal e um próspero ano novo!

 –

Foto: Folhapress

Comments (2)

  1. MUDANÇAS CLIMÁTICAS – ORIGENS E EFEITOS
    O QUE A SOCIEDADE CAPIXABA PENSA SOBRE O ASSUNTO

    (3340 caracteres com espaços)

    Em pesquisa realizada – única até hoje no Estado – pelo Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental e Social / NEPAS, grupo sem fins lucrativos, acessada na íntegra via http://www.nepas.com.br , foi avaliado o perfil da percepção ambiental da sociedade na Região da Grande Vitória (Vitória, Cariacica, Serra e Vila Velha) tendo como base 960 entrevistas, com um erro associado de mais ou menos 3%.
    Apesar da temática “Mudanças Climáticas” ser do pleno interesse da sociedade, com requerimentos protocolizados junto aos Conselhos Estadual de Meio Ambiente (CONSEMA) e Estadual de Recursos Hídricos (CERH), por entidades da sociedade civil com assento nestes Conselhos (Junho de 2018 e Abril de 2019), até hoje, de forma inexplicável, nada foi feito por parte dos gestores ambientais no que se refere a convocação de reunião conjunta dos Conselhos para analisar e propor ações (corretivas e preventivas) que possam balizar a ação do Poder Público.
    Entre outros questionamentos, foi perguntado aos entrevistados se conheciam o termo “Mudanças Climáticas”, obtendo-se respostas afirmativas em percentual que oscilou entre 18 e 23%. Para “Efeito Estufa” oscilou entre 1 e 2%, “Aquecimento Global” 17 e 22% e para “Desenvolvimento Sustentável” entre 11 e 20%, o que evidência a distância entre a sociedade e os conceitos básicos do conteúdo da pesquisa.
    Foi pesquisada a causa das Mudanças Climáticas, observando-se a seguinte resposta: “devido a atividade humana” (entre 15 e 19%), questionando-se também se o Aquecimento Global (causa das Mudanças Climáticas) seria um problema sério, apenas 3 a 8% dos entrevistados confirmaram o fato.
    A ação do Poder Público foi avaliada em termos de assegurar condições para a minimização do processo de Mudanças Climáticas, sendo, por 10 a 13% dos entrevistados, considerado como uma fraca ação, e 7 e 8%, uma muito fraca.
    Questionado se as instituições de ensino superior (públicas e privadas) estão preparando adequadamente os profissionais que deixam as faculdades de modo a poder enfrentar o tema Mudanças Climáticas, apenas 4 a 8% indicaram que sim.
    Consultados se conheciam alguma organização não governamental (ONG) que atuasse na região onde mora, 21 a 23% disseram que não, além de acusar um reduzido acesso a sites ligados à temática ambiental (0,5 e 2% disseram que sim).
    Perguntados se teriam interesse em ter maiores informações sobre o tema Mudanças Climáticas, foi observado respostas entre 5 e 8%. Quanto a Aquecimento Global as respostas oscilaram entre 9 e 11% e em relação a Efeito Estufa, 4 a 5%.
    Questionados se a sociedade teria poder para exigir ações do Poder Público em relação as Mudanças Climáticas, 9 a 14% indicaram que a sociedade tem pouco poder, mas que deveria lutar para reverter esta situação.
    Visando entender como a sociedade percebe os efeitos decorrentes das Mudanças Climáticas, foram observadas as seguintes respostas: “aparecimento de efeitos climáticos extremos” (8 a 15%), “elevação do nível dos mares” (11 a 17%), “derretimento das geleiras” (12 a 19%), “redução na disponibilidade de água” (4 a 12%), “desertificação” (7 a 14%), “efeitos na agricultura” (2 a 11%) e “efeitos sobre a saúde da população” (4 a 12%), contexto que caracteriza uma visão muito limitada da problemática das Mudanças Climáticas.
    Consultados se participaram de alguma palestra / evento sobre o assunto, apenas 17 a 21% indicaram que sim.

    Roosevelt Fernandes
    Membro do CONSEMA e do CERH

  2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SÉCULO XXI – REAVALIANDO PARADIGMAS
    1.

    Roosevelt S. Fernandes ([email protected]) é coordenador do Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental e Social / NEPAS – http://www.nepas.com.br

    No seu sentido mais amplo, educação significa o meio formal (ação do Estado) e informal (ação difusa) em que os hábitos, saberes, costumes, maneiras de interagir com o ambiente e valores de uma comunidade, são transferidos de uma geração para a seguinte.
    Por sua vez, a educação ambiental é uma dimensão da educação, atividade intencional que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando a potencializar a prática social e a ética ambiental.
    Tais conceitos servem como pano de fundo para a nossa reflexão: o princípio do desenvolvimento sustentável não é mais o caminho único para enfrentar as diferentes facetas da temática ambiental. Ou seja, já passamos da fase do “desenvolvimento sustentável”; a hora agora é da “produção e consumo sustentáveis”.
    Para isso, as ações de governo e as pressões da sociedade devem ter a adequada, imediata e responsável resposta – com práticas sustentáveis – por parte do setor produtivo, sem a qual não há como levar o Brasil para padrões mais sustentáveis de produção e consumo.
    Por outro lado, nesse caso, ao analisar a posição das maiores economias mundiais, observa-se uma nítida preocupação com a crise financeira, porém, com um discurso vago e breve em relação à problemática ambiental.
    No entanto, entre o contexto limite das visões dos pesquisadores e dos políticos, persiste uma análise de idêntica importância, ainda não suficientemente abordada, voltada a saber como a sociedade está preparada para, depois de devidamente informada, pressionar por soluções proteladas, aceitar as consequências da adoção das mesmas e, sobretudo, como nossos futuros gestores, no horizonte do curto e médio prazo, estão preparados não apenas para implementar as propostas conhecidas, mas gerar novas e efetivas respostas para o cenário que a sociedade deverá enfrentar, já que o tempo, nesse novo contexto, é uma variável progressivamente mais crítica.
    No Espírito Santo (Brasil), através de Resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente / CONSEMA, de número 001 / 2016, foi definida uma metodologia básica para a estruturação de Programas de Educação Ambiental, privilegiando a consulta prévia (e não, como na maioria dos casos, a posteriori, quando da divulgação / implantação dos programas) da comunidade para a qual a proposta estará sendo direcionada.
    Tal objetivo é assegurado através da realização de pesquisa de avaliação da percepção ambiental e social do segmento visado, a disponibilidade de informações essenciais sobre como a sociedade percebe os vários pontos relacionados às temáticas ambiental e social, que deverão ser levados em conta quando da estruturação do programa.
    Como define a referida norma legal, que deveria ser visitada por todos que se dedicam a estruturação de estudos e programas de Educação Ambiental, as informações decorrentes da pesquisa prévia da sociedade, são debatidas em evento público, de modo que as informações tenham o pleno respaldo da sociedade e, sobretudo, que sejam compulsoriamente absorvidas por aqueles que estarão estruturando os programas de Educação Ambiental.
    Em síntese, uma significativa mudança de paradigmas voltada a ampliar o debate de como deve ser desenvolvida a Educação Ambiental no século XXI

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

1 + quinze =