Seguranças teriam matado chefes do PCC

Gegê do Mangue e Paca estavam no Ceará desde dezembro em casas alugadas em condomínios de luxo em Aquiraz e Eusébio. Com as famílias, frequentaram parques aquáticos e praias

Por Henrique Araújo e Demitri Túlio, em O Povo

Encontrados mortos na última sexta-feira em uma reserva indígena no município de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Sousa, o Paca, chefes da facção criminosa PCC, teriam sido assassinados por seguranças da própria organização. O POVO apurou que o número 1 da facção, em liberdade, e seu comparsa usaram o Ceará a fim de encontrar os familiares por conta da facilidade de circular. O grupo teria deixado a Bolívia, onde Gegê e Paca estavam, em voo fretado direto para o Estado. Além deles, integravam a comitiva esposas e filhos dos dois traficantes.

“As motivações do crime ainda são prematuras, mas tudo indica que foi acerto de contas do próprio PCC. Gegê e Paca foram assassinados por pessoas do ‘partido’ (PCC) que faziam a segurança deles”, afirma uma fonte que acompanha as investigações do caso.

De acordo com a fonte, os chefes da facção passavam férias no Estado. “Usaram o Ceará não por uma questão de interesse geográfico, mas pela facilidade que tiveram em se deslocar. Eles têm filhos pequenos, esposas, e a única maneira de encontrar esses filhos, que estão em idade escolar, seria nas férias”, disse ao O POVO.

Aliado de Gegê, Paca teria estado no Ceará em janeiro de 2017, quando, junto com a família, visitou o Beach Park e passeou por praias como Canoa Quebrada. No litoral, teria feito fotografias e postado em redes sociais. Nessa época, ambos já estavam foragidos da Justiça paulista, acusados de duplo homicídio. Gegê foi julgado à revelia e condenado a 47 anos de prisão em fevereiro do ano passado.

“Por terem encontrado essa facilidade ano passado, devem ter resolvido fazer o mesmo itinerário agora e se deslocar para os mesmos locais”, conta a fonte. No Ceará desde dezembro de 2017, Gegê e Paca teriam alugado uma “propriedade que pudesse abrigar todos com conforto”, provavelmente em Aquiraz. O helicóptero que pousou na reserva indígena seria de uso para deslocamento dos próprios traficantes em território cearense.

O POVO apurou, ainda, que os dois amigos de organização criminosa teriam vindo da Bolívia e alugado duas casas em condomínios de luxo que existem tanto em Aquiraz quanto no município vizinho, Eusébio. Nas duas residências, Gegê do Mangue e Paca receberam as famílias e, com documentação falsa, se passaram por turistas comuns na capital cearense e em várias localidades do litoral do Estado.

Na última sexta-feira, segundo um morador do condomínio de Aquiraz ouvido pelo O POVO, um helicóptero da Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS) teria sobrevoado a área. E equipes da Polícia Civil estiveram no local colhendo informações.

Gegê e Paca foram mortos na quinta-feira, 15, e os corpos, sem identificação, encontrados no dia seguinte em um trecho de floresta da área indígena da tribo Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz. Como as famílias vinham sendo acompanhadas, a distância, pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo, a Secretaria da Segurança do Ceará foi informada de quem se tratava. Segundo Lincoln Gakiya, promotor que atua no Gaeco de Presidente Venceslau (SP), Gegê do Mangue e Paca estariam no Ceará desde dezembro do ano passado.

Investigações apontariam que as famílias dos dois foragidos teriam saído de São Paulo (Gegê) e do Rio de Janeiro (Paca) para se encontrar com eles na Bolívia. De lá, voaram para o Ceará. Os parentes ficaram aqui até a quinta-feira após o Carnaval. Horas antes dos assassinatos, deixaram o Estado. As esposas dos dois chefes do PCC voltaram ontem ao Ceará para levar os corpos em voo fretado que saiu de Sorocaba, em São Paulo. Elas, outras duas mulheres e provavelmente um advogado vieram em um avião da Locaero Locações Aeronáuticas Ltda, em aeronave modelo EMB 11OP1.

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Helicóptero já está identificado e seria patrimônio da facção

Uma fonte que atua na investigação do caso, e pediu anonimato, confirmou ao O POVO que já está identificado o helicóptero utilizado na execuçãodos chefes do PCC em Aquiraz, na área indígena dos Jenipapo-kanindés.

A aeronave seria patrimônio da própria facção e, até poucos dias antes das mortes, estava sendo usada tanto por Gegê do Mangue (Rogério Jeremias de Simone) como por Paca (Fabiano Alves de Souza). Era como os dois principais chefões em liberdade do grupo criminoso circulavam pelo Ceará – pelo menos desde dezembro do ano passado.

O prefixo é mantido como informação-chave na investigação, para tentar chegar aos executores. Apesar do detalhe da identificação, a aeronave ainda não foi localizada pelos investigadores. Operar em baixíssima altitude (a menos de 150 metros) pode ter possibilitado um voo “invisível” – o suficiente para conseguir pousá-la e escondê-la em alguma propriedade particular.

O helicóptero, modelo não informado, não seria registrado no Ceará. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), 44 dessas aeronaves têm inscrição no Estado. Aparelhos de outras unidades da federação podem ter atuação fixa no espaço aéreo cearense. Há 43 helipontos autorizados no Ceará, 20 deles na Capital.

O piloto e empresário Paulo Barros, dono da North Star Táxi Aéreo, diz que um helicóptero tem aproximadamente três horas e meia de autonomia de voo. “De Fortaleza a Natal, gasta 2h15min. Leva 3 horas para chegar a São Luís ou até Recife. E pode pousar em qualquer canto aberto para reabastecer.”

Segundo Barros, sua empresa detém as duas únicas homologações de helicópteros para locação em Fortaleza. “Eles não conseguiriam fazer um voo desses saindo do aeroporto (terminal antigo), onde tudo é fiscalizado. Não decolariam de lá com armas na aeronave”, afirma. No local, pilotos e passageiros são submetidos ao aparelho de raio-X antes da decolagem.

Ao longo do dia, por telefone, O POVO tentou contato com o suboficial Sousa Filho, coordenador do Controle de Tráfego Aéreo de Fortaleza, e com a chefia do Controle Aéreo Regional (Cindacta III), em Recife. Não houve retorno às ligações. (Cláudio Ribeiro e Demitri Túlio)

MORTES NA ALDEIA 

As indicações são de que os dois chefes do PCC foram executados na própria área indígena. Os corpos apresentavam perfurações a bala na cabeça e por faca.

 

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