Thamyra Thâmara de Araujo – Revista DR
Na noite em que a Mari partiu, choveu.
Não tinha chuva anunciada na meteorologia da cidade, mas choveu. Não o suficiente para ocupar os jornais do dia seguinte com histórias de casas que caíram e famílias que ficaram sem nada. Mas choveu o suficiente para gente se perguntar por que aquela água estava ali.
A chuva veio acompanhada de um vento tão forte que balançou as árvores, bateu nas janelas aqui de casa e entrou no quarto fazendo um zunido grande. Era um vento tão imponente que parecia reivindicar seu lugar. Parecia irado. Depois senti que o vento tocava a gente com paz, quase como se falasse que tudo seria resolvido. Nessa noite, eu e ele dormimos de mãos dadas na cama, embalados pelo barulho do vento. De manhã vi uma borboleta laranjada com marrom na porta: percebi que era sagrado. (mais…)