A guerra civil escapuliu da periferia. E agora?

Por Carlos Alberto Dayrell

Os últimos eventos de radicalização da direita fascista frente à ousadia das forças vinculadas diretamente a Lula ao pôr os pés nos campos do Sul, por ser tão próximo, nos deixa difícil para avaliar até onde podem ir os desdobramentos da luta de classes que vem reverberando sob a insígnia daquilo que muitos já denominam como “lulismo”.

A complexidade das forças que promoveram o golpe judiciário-parlamentar-midiático-colonialista e que, a partir do mês de fevereiro, explicita também a perspectiva militarista, nos leva a antever a possibilidade de estarmos vivenciando, de fato, um período já muito próximo de uma guerra civil. 

Na verdade, a guerra civil já está a pleno vapor nas periferias, não apenas dos grandes centros urbanos, nas inúmeras favelas e ocupações urbanas, como também nas extensas áreas rurais onde os embates com os setores do socioambientalismo, da luta indígena, quilombola, dos que se afirmam como povos e comunidades tradicionais em associação com os “sem-terra”. 

A luta pelo direito de viver em um ambiente sadio associada à luta pelos direitos dos modos de vida tradicionais trazem, como trunfo, o assassinato de dezenas de lideranças rurais, ambientalistas e de defensores dos direitos humanos, a degradação e contaminação impune dos extensos vales que se alargam deste o do rio Doce até ao do Amazonas. Por estas bandas do Brasil, aqui tudo pode, aqui tudo vale. 

O assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes infelizmente entra nesta conta do aqui tudo pode, tudo vale. A mesma conta que moveu o engravatadinho do Aécio Neves ao dar início à contestação da eleição que perdeu. Quem diria, naquela época, que o Brasil viveria o pesadelo por eles meticulosamente construídos? Quem diria, naquela época, que a “lava-jato” tinha como uma de suas garras a destruição ou subjugação da economia brasileira, mesmo que já internacionalizada, aos interesses geopolíticos da “América do Norte”? 

Pois é, a Guerra Civil no Brasil já está em andamento, pode-se ver nas últimas declarações fascistas expressas nas palavras da senadora Ana Amélia, do atual governador de São Paulo Geraldo Alckimin, do fascistoide João Dória, do atualmente calado Bolsonaro.

Mas, não se iludam, esta guerra civil não vai ficar incrustada, como muitos a querem, nas periferias. Pois pouco importa, aos interesses do capital, ela aí ficar incrustada. Pelo contrário, a lucratividade do capital aumenta quando ela se expande países a fora, como aconteceu com o Iraque, Afeganistão, Síria, Líbia, Venezuela. Estamos caminhando a passos largos, a despeito do que pensam os engravatadinhos, nossos juízes muito bem pagos, a classe média dos batedores de panela. A guerra civil, vai pegar todos estes, mesmo que a grande mídia, ao se saber como devedora, alardeie convicções ultrapassadas daquilo que considera como liberdade de imprensa. Vai ser tarde. O primeiro tiro já foi dado e atingiu o ônibus da “Caravana Lula”.

Foto: Bruno Itan. Fotógrafo e morador do Complexo do Alemão

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