Meu senhor de engenho favorito. Por Nêggo Tom

No Brasil 247

Está rolando nas redes sociais, uma foto do candidato a presidência da república pelo PRB, o empresário Flávio Rocha, dono da rede de lojas Riachuelo, sendo carregado nas costas por um homem preto. Que o postulante ao cargo de chefe maior do país, é um apreciador do escravagismo, já era sabido e comprovado. No início de 2016, o grupo Riachuelo foi condenado por praticar trabalho escravo. Uma costureira que trabalhava para o grupo relatou uma série de abusos físicos e psicológicos. As funcionárias não bebiam água e quase não faziam necessidades fisiológicas por conta das limitações de trabalho impostas. Mas, nem o mais descrente dos cidadãos imaginaria que ele fosse capaz de apresentar à sociedade, de forma tão descarada e sorridente, o seu lado senhor de engenho. 

Também por  irregularidades em fábricas terceirizadas para a produção da rede Riachuelo, o candidato foi denunciado pelo MPF, por crime contra a honra da Procuradora do trabalho responsável pelo caso. Na ocasião ele postou em seu twitter, ofensas contra a Procuradora, chamando-a de “louca” e a acusando de perseguição. As acusações contra o empresário eram das mais diversas, desde condições precárias de trabalho para os funcionários, ao não pagamento de direitos trabalhistas aos mesmos. Vale lembrar que Flávio Rocha é um dos patrocinadores do MBL e também um dos financiadores do golpe contra Dilma Roussef. O “liberal convicto”, como ele se apresenta, também foi um dos incentivadores da Intervenção Federal no Rio de Janeiro.

Mas, apesar desses pequenos percalços na sua trajetória empresarial, ele costuma erguer sua bandeira em defesa da família, da moral e dos bons costumes. Nada que se sustente após uma busca mais detalhada no Google, onde é possível descobrir que o nobre candidato já sonhava com a presidência da república em 1994, quando seria o candidato do PL (atualmente PR) ao planalto. Segundo matéria (AQUI) de 11 de junho de 1994, publicada na Folha de São Paulo, a sua campanha a época continha algumas irregularidades, fato que fez com que o partido desistisse de lançá-lo candidato. Um dos motivos da desistência, foi que em apenas dois meses de campanha presidencial, ele já tinha gasto 200 mil dólares.

Na ocasião, quando questionado sobre vultuosos depósitos feitos em sua conta, se defendeu dizendo que “Financeiramente, sou dependente do meu pai. São transferências regulares para minha conta.” Em 1994, Flavio Rocha – que já foi deputado federal por duas vezes, pelo Rio Grande do Norte – tinha 36 anos de idade, mas sabemos que é comum pais sustentarem filhos dessa faixa etária. Quem nunca recebeu mesada do pai até os 40 anos, não vai entender como funciona a meritocracia para os neoliberais e para os defensores do estado mínimo. Também, com um papai desses quem é que vai precisar do estado, não é verdade?

A imagem de Flávio Rocha sendo carregado nas costas, é carregada de simbolismo e cheia de intertextualidade. Ela remete ao período escravocrata e se atualiza na moderna ideologia escravagista, que permeia o discurso dos neoliberalistas adoradores do pato amarelo. Mas, o que mais me incomoda na foto, é ver um homem preto que desconhece ou ignora a  história e a luta de seu povo, por igualdade e justiça racial, e se submete ao ridículo de fazer o “mucamo” e carregar sobre os ombros um senhor de engenho da nova era. Minha querida avó – que Deus a tenha – diria: “Esse crioulo merece uma surra” e eu, como nunca discordei dela, assino em baixo.

Os candidatos da direita ainda irão nos brindar com muitas cenas iguais a essa, até o dia das eleições. Momentos que irão desde a mordida com “nojinho” no pastel da feira, até o abraço caloroso no pobre, cuja promiscuidade do contato é esterilizada com álcool gel momentos depois. Infelizmente, ainda vemos muitos irmãos honrados em serem os capitães do mato de um sinhozinho qualquer, pois falta-lhes consciência. E assim, o opressor continua ganhando força, contando com a cumplicidade dos próprios oprimidos, que ao invés de se indignarem com a opressão imposta, optam por escolher o seu senhor de engenho favorito. Aquele, por quem até “vale a pena”, ser açoitado em seus direitos e em sua liberdade.

Seja na perseguição do segurança preto, ao preto que acabou de entrar no shopping, no mal atendimento prestado pela atendente preta, á cliente preta que entra na loja na qual ela trabalha ou na abordagem do policial preto, ao cidadão preto que ele julga suspeito de alguma coisa. Até quando veremos as mazelas do nosso racismo estrutural e institucionalizado, sendo absorvidas com naturalidade por suas próprias vítimas? Hoje, ele aceita carregar o conveniente peso do opressor sobre os ombros, mal sabendo, que, amanhã, ele carregará para sempre o insustentável peso de uma consciência que viveu adormecida.

Invoquemos a resistência…

 

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