Na Ensp
Visando avaliar a exposição de trabalhadores ao asbesto em uma empresa de fibrocimento da cidade de Sapucaia do Sul, no Rio Grande do Sul, e os efeitos dessa exposição à saúde humana, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca acaba de assinar um termo de cooperação técnica com a Procuradoria Regional do Trabalho da 4ª Região para a realização de tal pesquisa. O termo foi assinado pelo diretor da ENSP, Hermano Castro, e pela procuradora do trabalho, Aline Zerwes Bottari Brasil durante o II Seminário Internacional Brasil Sem Amianto, ocorrido em São Paulo, na segunda quinzena de maio. Castro é coordenador adjunto do estudo, sendo a coordenação geral de responsabilidade da pesquisadora do Centro de Estudos do Trabalhador e Ecologia Humana, Maria Juliana Moura Corrêa.
Com a avaliação, serão estimadas medidas de morbimortalidade desses ex-trabalhadores, e também serão descritos os padrões de distribuição da doença de acordo com as características sociodemográficas, ocupacionais e ambientais. Para tanto, a metodologia utilizada no estudo baseia-se na busca ativa desses ex-trabalhadores; e análise, por meio dos sistemas de informações do setor saúde/trabalho/previdência, considerando a reconhecida subnotificação dos registros oficiais. Trata-se, portanto de uma coorte ocupacional, que tem a perspectiva de alcançar resultados para o desenvolvimento científico e subsidiar o Ministério Público do Trabalho (MPT) nas questões relacionadas à exposição ocupacional ao amianto.
Para o Cesteh, o estudo representa o reconhecimento do protagonismo, no âmbito da ENSP, para a qualificação no campo da Saúde do Trabalhador e reafirma seu espaço de excelência nacional na pesquisa e atividades relacionadas com avaliação dos impactos da exposição ao asbesto na saúde humana e no meio ambiente.
Vale ressaltar que este projeto teve início com uma ação da Procuradoria Regional do Trabalho da 4ª Região, pela representação da procuradora do trabalho Aline Zerwes Bottari Brasil, em 2007, com a instauração da peça jurídica sobre a denúncia de irregularidades no meio ambiente da empresa estudada. Considerando tratar-se de uma questão vinculada à área de saúde pública, na temática da saúde do trabalhador, foi realizada uma parceria com a ENSP/Fiocruz e a Divisão de Vigilância em Saúde do Trabalhador, da Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul (DVST/SSRS), local de guarda dos documentos e base de dados de emprego dos ex-trabalhadores da referida empresa.
O amianto ou asbesto é um produto carcinogênico e fibrogênico. Dados da organização Mundial de Saúde apontam que eles possam ser responsáveis por 25% a 33% de todos os casos de câncer ocupacional. As doenças associadas à sua exposição incluem a asbestose, o câncer de pulmão, o mesotelioma de pleura, peritônio e pericárdio e as doenças pleurais relacionadas ao amianto. Especialistas da área indicam que outras neoplasias malignas têm sido associadas à exposição ao asbesto, tais como o câncer de laringe, câncer de orofaringe, câncer de estômago, câncer colorretal, e câncer de rim.
Infelizmente, no Brasil, a perspectiva que se vislumbra não tem sido de banimento da fibra de amianto, e sim de aumento da produção, conforme avaliação realizada pelo Ministério de Minas e Energias, que projeta aumento de mais de 100% na produção, importação, exportação e consumo até o ano de 2030.
Na justificativa do projeto, Hermano Castro e Maria Juliana Corrêa afirmaram ser um equívoco cultivar um conceito reducionista e falacioso de uso controlado nos ambientes de trabalho, uma vez que não existe limite seguro para exposição ao carcinogeno, como o asbesto. Eles alertaram ainda que o problema tem de ser enfocado com uma ampla perspectiva de Saúde Pública e de proteção do Meio Ambiente.
Como conclusão da semana de debates do Seminário Internacional Brasil Sem Amianto, foi realizado o III Encontro Nacional de Familiares e Vítimas do Amianto.
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Foto: DIVULGAÇÃO/REPÓRTER BRASIL.