Lideranças indígenas exigem diálogo com o governo para decidir sobre nova coordenação da Funai no Rio Negro

Em apoio à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), as lideranças de base de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos divulgam carta aberta denunciando os interesses de políticos e empresários do setor de mineração na escolha do novo coordenador da Funai

por FOIRN

 As últimas tacadas do governo Temer estão atingindo o município mais indígena do Brasil, São Gabriel da Cachoeira (AM), mais exatamente a Coordenação Regional da Funai no Rio Negro. Motivada pelos interesses econômicos de políticos e empresários ligados ao setor de mineração, foi feita a troca da coordenação regional sem consulta às lideranças indígenas e sua principal entidade representativa, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).

No mesmo dia que foi publicada em Diário Oficial da União (DOU), a nomeação do novo coordenador, Jackson Duarte, a Foirn enviou uma carta de manifesto à Casa Civil, Ministério da Justiça, Funai e Ministério Público Federal (MPF). O principal questionamento é a forma como foi feita essa nomeação, sem consulta e diálogo com os povos indígenas. Por conta dessa atitude autoritária e movida a interesses financeiros, as lideranças indígenas das bases da Foirn se reuniram a título de urgência na Casa dos Saberes (Maloca), em São Gabriel da Cachoeira, e redigiram uma carta de apoio à Foirn.

No documento, as lideranças afirmam que temem pela continuidade dos trabalhos relacionados a elaboração dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) das terra indígenas. “Deixamos claro que o nome indicado pela Portaria 1.130, publicada em Diário Oficial da União (DOU) no dia quatro (04) de setembro de 2018, não tem demonstrado compromisso com a pauta do movimento indígena. Devido ao seu desconhecimento sobre os importantes processos em curso no Rio Negro, como a elaboração dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental das sete terras indígenas do Médio e Alto Rio Negro, ficamos inseguros em relação à continuidade dos nossos trabalhos. Exigimos que todos os processos em andamento sejam continuados e não haja paralisação devido aos interesses políticos da nova coordenação da Funai nomeada”, ressalta a carta.

“Nossa Funai está na UTI” – Clarindo Tariano (Barcelos)

Liderança indígena de Barcelos, no Baixo Rio Negro, Clarindo Tariano ressaltou no encontro das lideranças o momento tenso que vivem os povos indígenas frente as ameaças dos ruralistas, mineradores e outros setores econômicos que não respeitam os povos indígenas. “Esse governo não tem mais diálogo com a gente porque é o dinheiro que fala mais alto. A gente não é garimpeiro e queremos outro tipo de trabalho da Funai. Nossa Funai está na UTI e estamos muito preocupados com os impactos dessa mudança na vida das nossas comunidades”, disse Clarindo.

Durante a reunião na Casa dos Saberes, as lideranças de base foram enfáticas a respeito da preocupação com as ameaças aos povos indígenas do Rio Negro. Representantes de várias calhas da Bacia expressaram sua decepção com a forma como foi nomeado o novo coordenador da Funai e como isso pode impactar a implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial nas Terras Indígenas (PNGATI).

“O coordenador da Funai não pode estar a serviço dos políticos. O processo de realização dos PGTAs (Planos de Gestão Territorial e Ambiental) pode ficar ameaçado e as pessoas precisam ter essa consciência de que a mudança na coordenação da Funai ameaça jogar fora todo esse processo”. – Carlos Nery Pira-Tapuya (Santa Isabel do Rio Negro)

“Precisamos de um coordenador da Funai que acompanhe e dialogue com o movimento indígena. E não uma pessoa que esteja programada para atender interesses de um grupo”. – Domingos Sávio Lana Tariano (Iauaretê – Alto Uaupés)

“Momento muito preocupante para nós indígenas do Rio Negro e por isso temos que nos unir e lutar pelos nossos direitos”. – Valter Baniwa (Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro ACIMRN – Santa Isabel do Rio Negro)

“Na nossa região do Içana a mineração avança e eles querem atuar assim, com esse jogo de colocar um novo coordenador da Funai a favor dos interesses deles.” – Ronaldo Baniwa (Agente Indígena de Manejo Ambiental, Aima)

“Estamos no trabalho de validação dos PGTAs e tememos sobre como vamos conduzir os trabalhos daqui para frente”. – Jaciel Prado (COIDI – Iauaretê)

“Essa nomeação foi uma surpresa e vemos isso como um jogo político. A visão dos políticos de Brasília é somente ligada aos interesses do dinheiro”, Adelina Desana (liderança do Departamento de Juventude da Foirn)

Veja a Carta de Manifesto enviada pela Foirn

Imagem: Lideranças indígenas do Rio Negro, mulheres e jovens estão preocupados com a continuidade dos trabalhos em defesa dos povos indígenas frente as ameaças de empresários e políticos ligados ao setor da mineração (foto: Juliana Radler/ISA)

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