Um ano após Operação Ouvidos Moucos, UFSC recebe professor afastado

Na UFSC

O professor Marcos Dalmau, do Departamento de Administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), recebeu, na manhã desta sexta-feira, 14 de setembro, das mãos do reitor Ubaldo Cesar Balthazar o ofício do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que dá ciência à Universidade da liberação do professor para retornar às atividades de docente. Há um ano, em 14 de setembro de 2017, Dalmau e outros seis professores, incluindo o ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, foram presos pela Polícia Federal na Operação ‘Ouvidos Moucos’, liberados no dia seguinte, mas permaneceram impedidos de retornar à Universidade.

A entrega do documento ocorreu em um ato no Gabinete da Reitoria, reunindo, além do reitor, o chefe de Gabinete Aureo Mafra de Moraes; o irmão do ex-reitor Cancellier, Acioli de Olivo; o chefe do Departamento de Administração, Pedro Antônio de Melo; o diretor do Centro Socioeconômico, Irineu Manoel de Souza e a vice-diretora Maria Denize Henrique Casagrande; pró-reitores, secretários e demais membros da Administração Central da UFSC.

Nos olhares e nas falas havia um misto de alegria e tristeza, comoção e indignação. Dalmau foi abraçado por cada pessoa com tapas nas costas e afirmações de encorajamento e de boas-vindas. Dispostos em um círculo no gabinete do reitor, cada um dos presentes foi estimulado a dizer algumas palavras de acolhimento ao professor.

“Parece que o universo conspirou para que as coisas acontecessem justamente hoje. Me emociono de ver o retorno do professor Dalmau. Um ano atrás eu não tinha a menor ideia de que estaria aqui substituindo o nosso reitor Cancellier. É complicado, conflitante, fica atravessado na garganta. Eu sou reitor, e isso me dá muita satisfação, mas eu não gostaria de ser reitor como consequência de tudo o que aconteceu”, salientou Ubaldo Balthazar.As falas ecoaram o que acontecia na UFSC um ano antes, quando foi deflagrada a operação que trouxe uma série de desdobramentos para a instituição. Foram sete prisões temporárias e cinco conduções coercitivas; o afastamento do reitor e dos professores Marcos Dalmau, Marcio Santos, Rogerio Nunes, Gilberto Moritz e Eduardo Lobo; a morte do reitor Cancellier; a gestão pro tempore e eleição do reitor Ubaldo; os protestos, a denúncia do Ministério Público Federal contra o reitor Ubaldo e o chefe de Gabinete Aureo Moraes, depois rejeitada pela justiça, e, na última terça-feira, dia 11, a decisão do TRF-4 de liberar o professor do afastamento da Universidade.

“É uma alegria, ainda que não seja uma alegria muito alegre. É um momento simbólico, há exatamente um ano a nossa vida foi transformada. É um gesto de abraço, de acolhimento, de recepção, de boas-vindas e de crença que a Universidade é maior que tudo isso”, ressaltou Aureo Moraes.

Dalmau agradeceu o apoio e relatou um pouco do que viveu nesse último ano e as consequências em sua vida familiar e profissional. Traumas, angústias e dificuldades que afirmou “não desejo nem para o pior potencial inimigo”. “Estou há 25 anos na UFSC, mais da metade da minha vida. Tenho certeza que me dediquei para esta instituição, trabalhei muito pela UFSC. Tenho total tranquilidade e cabeça erguida. Voltar hoje me dá novas energias, mas tenho receios. Quando estamos afastados, o sentimento de impotência é muito grande. Sem poder conversar com colegas, amigos de trabalho, o sentimento é pior ainda. Eu gostaria muito que eles [os outros professores afastados] estivessem aqui”, desabafou. A partir de terça-feira, dia 18, Dalmau volta a lecionar no Departamento de Administração.

Desdobramentos do processo

Na quinta-feira, 13 de setembro, o reitor e o assessor institucional, Gelson de Albuquerque, estiveram no Ministério da Segurança Pública, em Brasília, em audiência com o ministro Raul Jungmann para apresentar um memorial. A reunião foi solicitada pelo ministro para ouvir, do ponto de vista da Universidade, o que houve após a operação policial. “Entregamos um relatório sobre tudo o que aconteceu, as contradições do processo, os equívocos cometidos. O ministro está encaminhando nosso memorial para a Procuradoria Especial do Ministério da Segurança Pública para apurar as responsabilidades, ele nos garantiu”, afirmou o reitor Ubaldo.

Declarações

Durante o ato no Gabinete da Reitoria muitos se pronunciaram. Confira alguns trechos:

“Neste ano, dores, traumas, contratempos, humilhação. Este gesto de integração é importante e simbólico, pode ser um primeiro ato de uma resignificação, aquela que vai trazer de volta não a vida do Cau [Luiz Carlos Cancellier de Olivo] e o que foi feito na vida de vocês, mas a honra.”

Acioli de Olivo, irmão do ex-reitor

“O professor Dalmau nunca poderia ter sido tirado do seio desta Universidade. Eu o conheço, sei que é uma fênix, é forte, vai enfrentar todas essas dificuldades com cabeça erguida e com olhar no futuro.”

Pedro Antônio de Melo, chefe do Departamento de Administração

“O que aconteceu nesta Universidade foi muito prejudicial a toda a comunidade. Jamais deveria ter acontecido. Fere a autonomia universitária sem uma motivação jurídica forte, comprovada por fatos. O Centro Socioeconômico está aguardando a chegada desses professores que foram indevidamente afastados. O professor Dalmau sempre foi elogiado e homenageado nas formaturas, tenho certeza que vai demonstrar que ocorreu uma injustiça, de fato.”

Irineu Manoel de Souza, diretor do Centro Socioeconômico (CSE)

“Aconteça o que acontecer, com quem quer que seja, a Universidade como local do conhecimento, da dignidade, do respeito, da valorização do ser humano, vai permanecer.”

Cristiane Derani, pró-reitora de Pós-Graduação

“Tive o prazer de ser professor do Dalmau em 1995. Ele é uma pessoa que sempre se dedicou à Universidade. Reconheço sua perseverança, porque não é fácil o que vocês viveram e que os outros professores ainda vivem.”

Vladimir Arthur Fey, pró-reitor de Administração

“Um ano atrás, neste horário, de manhã, foi a última vez que eu falei com o professor Cancellier. E ele me disse ‘fique tranquilo, força, e mostre que a Universidade é séria.’ Hoje estou conseguindo fechar mais uma cicatriz desse dia, algumas jamais vou conseguir fechar.”

Rogério Cid Bastos, pró-reitor de Extensão

Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC

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