OAB se mobiliza contra as mensagens de ódio aos nordestinos

Casos de xenofobia ocorreram até mesmo na própria região. No Recife, sócia de um estabelecimento do ramo alimentício publicou mensagem atacando os nordestinos

Por , no OP9

A Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB-PE) protocolou no Ministério Público Federal de Pernambuco (MPF-PE) uma notícia crime contra as mensagens de ódio direcionadas aos nordestinos que vêm se multiplicando nas redes sociais desde o final do primeiro turno das eleições, realizado no domingo passado (7). O presidente da OAB Pernambuco, Ronnie Preuss Duarte, e o secretário geral da entidade,  Fernando Ribeiro Lins, estiveram na tarde desta terça-feira (9) no MPF-PE para pedir providências sobre o caso.

Os dois se encontraram com a coordenadora criminal da Procuradoria-Geral da República em Pernambuco, Andrea Carneiro, que garantiu celeridade no encaminhamento das investigações. “É importante que as pessoas entendam que a internet não é uma terra sem lei e que, mesmo com perfis falsos, é possível identificá-las. Nosso objetivo é, cada vez mais, inibir esse tipo de postura”, disse Ronnie Duarte.

Ainda na terça, os presidentes de todas as seccionais da OAB no Nordeste emitiram uma nota de repúdio aos atos xenófobos. “É crucial, portanto, que o salutar confronto de ideias neste período eleitoral não descambe no discurso de ódio e em manifestações discriminatórias, as quais, por sua natureza, violam o princípio democrático. O crime de racismo, declarado inafiançável e imprescritível pelo Constituinte originário, deve ser repudiado e combatido por todos os cidadãos brasileiros, independentemente de suas convicções políticas e das correntes ideológicas que abracem”, diz o texto.

Casos ocorrem até mesmo no próprio Nordeste

Os nordestinos viraram alvos de ataques nas redes sociais por conta da consolidação do segundo turno na eleição presidencial de 2018. Após ter figurado no início da apuração em uma posição que o colocava perto de vencer no primeiro turno, o candidato do PSL Jair Bolsonaro viu sua porcentagem de votação cair lentamente por conta na apuração no Nordeste, o que garantiu a disputa de um novo turno com o petista Fernando Haddad. Apoiadores do candidato na internet fizeram diversas publicações ofensivas aos nascidos na região, onde Haddad teve o seu melhor desempenho.

No último dia 5, um jogo de computador em que o jogador se coloca na pele de Bolsonaro e deve derrotar negros, gays e LGBTs foi publicado na plataforma Steam. “Seja o herói que vai livrar uma nação da miséria. Esteja preparado para enfrentar os mais diferentes tipos de inimigos que pretendem instaurar uma ditadura ideológica criminosa no país”, diz a descrição do game.

Os casos ocorreram até mesmo no próprio Nordeste. No Recife, uma das donas da Casa dos Frios, estabelecimento do ramo alimentício na capital pernambucana, publicou uma mensagem que dizia “A Venezuela é aqui. Nordeste miserável”. A empresária apagou a postagem em seguida, mas o caso ganhou repercussão nas redes sociais. Ela utilizou o Facebook para se desculpar. “No calor do debate, fiz um post com um conteúdo infeliz do qual me arrependi e excluí na sequência. Gostaria de pedir desculpas e me retratar sobre esse assunto”.

A empresa também se pronunciou nas suas redes sociais através de uma nota de esclarecimento. O texto diz que o comentário não reflete a opinião da Casa dos Frios. “Acreditamos que em uma democracia todas as pessoas tem o direito de se expressar, sempre respeitando a escolha​ ​do outro. R​eforçamos que temos orgulho de ser nordestinos, onde nascemos e temos uma história de mais de 60 anos”, diz a nota

Não é a primeira vez que a Casa dos Frios se envolve em polêmicas. Em 2017 o estabelecimento foi alvo de uma denúncia de racismo envolvendo um cliente que era negro e foi confundido com um assaltante ao tentar fazer uma compra para seu patrão. A Polícia Militar foi chamada pelos funcionários. O caso foi denunciado nas redes sociais pelo empregador da vítima, que acusou a empresa de ter acionado a polícia pelo fato de seu funcionário ser um negro. Na época, o local emitiu uma nota pedindo perdão ao cliente e se desculpando “perante toda a sociedade pernambucana”.

Arte: Keops Ferraz/OP9

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