Bolsonaro mostra que não sabe o que é desemprego ao apontar “farsa” no IBGE. Por Leonardo Sakamoto

no blog do Sakamoto

Bolsonaro chamou de ”farsa” a metodologia para cálculo do desemprego no Brasil e disse que iria alterá-la. Com isso, demonstrou profundo desconhecimento sobre o que é emprego e sobre o próprio IBGE, instituição que comandará a partir de janeiro, com reputação internacional, e é responsável pelos indicadores.

Isso seria preocupante se ele fosse o presidente eleito. E se o país contasse com uma população desocupada de 12,5 milhões frente a 92,6 milhões de ocupados, 27,3 milhões de pessoas subutilizadas e 4,8 milhões de desalentados – que desistiram de procurar emprego porque sabem que não irão encontrá-lo. Os dados são os mais recentes do IBGE.

”Quem, por exemplo, recebe Bolsa Família é tido como empregado. Quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado. Quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado. Nós temos que ter realmente uma taxa, não de desempregados, mas uma taxa de empregados no Brasil”, disse o presidente eleito. Mas quem recebe Bolsa Família, procura emprego há mais de um ano e recebe seguro-desemprego não é considerado automaticamente como empregado. E, sim, o instituto tem estatísticas para desempregados e empregados.

Melhor faria se ele gastasse seu tempo explicando como pretende gerar milhões de empregos, pois o tema foi pouco abordado em seu programa de governo.

Até agora, as principais marcas que deixou nessa área foram a frase ”o trabalhador vai ter que decidir se quer menos direitos e emprego, ou todos os direitos e desemprego” e a proposta de criação de uma categoria de trabalhadores com menos direitos que as demais.

”Criaremos uma nova carteira de trabalho verde e amarela, voluntária, para novos trabalhadores. Assim, todo jovem que ingresse no mercado de trabalho poderá escolher entre um vínculo empregatício baseado na carteira de trabalho tradicional (azul) – mantendo o ordenamento jurídico atual –, ou uma carteira de trabalho verde e amarela (onde o contrato individual prevalece sobre a CLT, mantendo todos os direitos constitucionais)”, afirma.

Ou seja, o empregador pode ser liberado do cumprimento de toda e qualquer proteção prevista em outras leis, desde que não esteja na Constituição, bastando para isso a concordância do candidato a uma vaga. Que, diante o desespero para sair da fila do desemprego, vai aceitar.

Vale lembrar que a redução na proteção à saúde e à segurança do trabalhador, representada pela introdução da Reforma Trabalhista há um ano, não levou a uma queda representativa no desemprego – ao contrário do que havia sido prometido por Michel Temer.

Governos pouco afeitos à democracia, quando colocados contra a parede, tendem a reduzir a transparência de informações às quais a sociedade tem acesso a fim de adaptar a realidade à sua narrativa.

Esperemos que, se a realidade for cabeça-dura e não atestar a redução do desemprego no ritmo que Bolsonaro espera, seu governo não torture os números até que entreguem o que ele deseja ouvir.

Foto: Clarin

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