Laranjas venenosas. Por Janio de Freitas

A realidade vai mais longe, porque a Câmara está contaminada

Na Folha

A bancada do PSL de Bolsonaro está constituída, na Câmara, com a inclusão de beneficiários de burla eleitoral. E não só eleitoral, por se tratar de atos lesivos aos cofres públicos. Essa é a realidade.

Também não bastam investigações do Ministério Público e da Polícia Federal em Minas e em Pernambuco, estados com a burla de “laranjas” já exposta na Folha. Como o próprio Bolsonaro dirige o indicador para Gustavo Bebianno, hoje secretário-geral da Presidência e presidente do PSL no ano passado, há mais motivo para suspeitar que a burla rendosa fosse uma orientação ampla. Além disso, o já comprovado desvio de verba eleitoral, para pagamento de gráfica inexistente, atesta um método de desvios para caixa dois ou para bolsos pessoais.

Os eleitos com recursos partidários provenientes de dinheiro público, em montante aumentado por golpe, tiram a legitimidade das votações de que participem. E o provável, com isso, é que sujeitem os resultados a questionamento judicial, para anulá-los. Diante disso, e apesar de mais interessado nas boas relações com Bolsonaro, Rodrigo Maia tem obrigações próprias de presidente da Câmara, e não se justifica sua indiferença ao surgimento do caso.

Ser mais um na série diária do governo Bolsonaro não faz desse um episódio qualquer. Mas, se não houver atenção pública, dos órgãos oficiais não se deve esperar o predomínio da imparcialidade e da lei. Sob o pretexto de “pacificação” e “harmonia”, ninguém quer nada. De bom.

Lugar do perigo

Determinada pelo Judiciário, a transferência de duas dezenas do PCC para Rondônia e Rio Grande do Norte, área já conflagrada, é um teste particular de São Paulo. O acordo do então governador Cláudio Lembo com o PCC foi um gesto responsável e inteligente. Apesar de toda a crítica fácil e da negação posterior dos seus sucessores. As forças paulistas levavam uma tunda feia, atônitas e incapazes de inverter a situação que já seguia para 600 mortos.

Desde então, o acordo prevaleceu por um motivo tácito: falta de segurança para arriscar o enfrentamento com o PCC e seus aliados. Na ânsia de promover-se, João Doria festejou com a arrogância adolescente a transferência de Marcos Camacho, o Marcola, e 21 companheiros para distantes presídios federais. Mesmo recolhidos a presídios semelhantes, Fernandinho Beira-Mar e outros continuam exercendo sua condição de cabeças, em vários sentidos.

Com a transferência de Marcola, o Exército recebeu mais uma função, aliás, sem precedente: carcereiro externo de presídios. No medo extremo criado por um cabeça e 21 companheiros, os militares do governo poderiam ver o Brasil que de lá não veem.

O problema do teste é que não passará nos gabinetes de governo. Será nas ruas e nos prédios da população.

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