Portaria assinada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autoriza o emprego da Força Nacional de Segurança Pública para conter manifestações na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, como garantia de preservação da integridade física das pessoas, do patrimônio público e dos prédios da União. O prazo para validade da medida é de 33 dias a contar desta quarta-feira (17).
Por Christiane Peres, no Vermelho
Na portaria, publicada no Diário Oficial da União, Moro registra que o pedido partiu do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, comandado pelo general Augusto Heleno, que dará apoio logístico à operação. Segundo Heleno, a medida é para “desencorajar violência em atos”.
Coincidência ou não, a medida é publicada às vésperas do Abril Indígena e do início das manifestações contra a Reforma da Previdência – matéria dita prioritária para o governo Bolsonaro.
As manifestações dos indígenas fazem parte do Acampamento Terra Livre (ATL), evento que ocorre todos os anos em Brasília, onde etnias de todo o Brasil se reúnem para reivindicar seus direitos. Neste ano, o acampamento está previsto para acontecer entre os dias 24 e 26 de abril.
O acampamento foi alvo de críticas de Jair Bolsonaro (PSL) na semana passada. Durante uma transmissão ao vivo via Facebook, o presidente se referiu ao evento como “encontrão” e disse que quem iria pagar a conta seria o “contribuinte”.
Para a líder da Minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a medida de Moro é “absurda” e explicita o Estado de exceção que vive o Brasil.
“Mais de 30 dias de uso da Força Nacional de Segurança na Esplanada? Medida sem justificativa. Põe a democracia em risco ao ampliar a repressão no espaço de protesto! Isso é gravíssimo. Ato feito para impedir a liberdade de manifestação. É um Estado de exceção no Brasil. Não há argumentos. Não sei se é pelo 1ª de maio, pela manifestação dos índios, da educação. Mas não importa. Esta comissão tem que requerer informação a este governo”, criticou a parlamentar.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), diz que a medida não se justifica. Segundo ele, trata-se de uma ação contra as manifestações legítimas do povo, cassetete. “É assim que Jair Bolsonaro e Sérgio Moro querem recepcionar a marcha indígena”, afirmou.
Moro não faz referências ao governo do Distrito Federal ou a uma possível atuação conjunta com a Secretaria de Segurança do DF ou com a Polícia Militar do DF, a quem sempre coube conter manifestações na Praça dos Três Poderes e na Esplanada. O contingente empregado ainda será definido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Segundo a portaria, o prazo da intervenção poderá ser estendido se houver necessidade.
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ATL 2015. Márcio Kaingang e a Constituição de 1988, até hoje (e cada vez mais) desrespeitada. Foto: Fábio Nascimento /MNI