Jovens: “Não deixem para outros o ser protagonistas da mudança”

Reunião de jovens representantes dos Regionais da CPT ocorreu nos dias 16 e 17 de maio em Goiânia (GO). Evento surge a partir de processo iniciado no IV Congresso Nacional da CPT, em Porto Velho (RO), quando a juventude foi definida como uma das luzes de atuação para a Pastoral.

por Elvis Marques, em CPT Nacional

“Nesses dois dias, partilhamos nossas experiências concretas de trabalho das e com as juventudes nos diversos Regionais que estiveram presentes”, afirmaram, em Carta, as/os agentes jovens da Pastoral da Terra, que, em sua maioria, destacaram que não há uma formação interna voltada à juventude da CPT, todavia existem diversas experiências com as/os jovens das comunidades acompanhadas pela entidade.

A exposição dessas experiências construiu o recorte da Juventude da CPT. Sobre o Mato Grosso, Welligton Douglas elencou algumas das práticas de trabalho com jovens, como o 1º Encontro da Juventude da Região Norte, que reuniu cerca de 65 jovens de sete municípios, e o Encontro com a Juventude de Ribeirão das Pedras Acima, na região de Jangada. A última Assembleia da CPT no Mato Grosso definiu o trabalho com a juventude como uma de suas prioridades.

No Regional Nordeste II da CPT, que reúne os estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco, e Rio Grande do Norte, segundo Alanna Oliveira, das 10 equipes da CPT, apenas uma não possui um trabalho específico com juventude. “Nas comunidades, a metodologia de trabalho é diversa, com a realização de acampamentos da juventude, reuniões, oficinas de comunicação, e etc. Um dos objetivos é trabalhar a formação para tornar os jovens autônomos. Fazemos formação em bíblia e política”, afirma ela. “Já começamos o trabalho com as crianças, nas cirandas, pois serão nossos jovens de amanhã”, destaca.

No Tocantins, entre o trabalho com a juventude, conforme Felipe Oliveira, são realizadas reuniões, visitas e atividades práticas que culminam nos encontros estaduais e anuais com a juventude. Neste ano de 2019, será organizado o 4º Encontro da Juventude Camponesa. Além disso, a cada dois anos, durante a Semana da Terra Padre Josimo, no Bico do Papagaio, ocorre o Acampamento da Juventude Romeira. Para o agente da CPT, esse trabalho com a juventude tem propiciado mais autoconfiança e protagonismo da juventude dentro de suas comunidades, por exemplo. Jovens, como na Gleba Tauá, têm reivindicado lotes para eles, o que mostra uma maior participação desses atores na luta pela terra.

“Talvez o grupo de jovens da Romaria de Bom Jesus da Lapa (BA), com mais de 40 anos, e que chega a reunir mil jovens, seja a ação mais antiga e duradoura voltada para jovens na Bahia”, lembrou Ruben Siqueira, integrante da CPT na Bahia e coordenador nacional da Pastoral. No estado em questão, explica Juliana Magalhães, há um curso de formação chamado Liderar, voltado para a juventude do Sub-regional Centro-norte (Bonfim e Juazeiro). A CPT também promove, há mais de 15 anos, o curso de formação voltado para novas/os agentes de pastoral. “Sempre tem gente nova e jovens. Têm de participar por dois anos”, explica Juliana.

No Piauí, há um trabalho voltado para a juventude dentro da Campanha Nacional da CPT de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo “De olho aberto para não virar escravo”, que é um dos eixos de atuação do Regional. Recentemente, no sul do estado ocorreu a IV Mostra Terra em Cena, evento de audiovisual e cultura promovido pela Juventude no Campus de Bom Jesus da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que contou com a apresentação do documentário “Manifesto da Juventude Impactada pelo Agronegócio”, “Cerrado: Rostos, Vidas e Identidades” e o lançamento da Revista Cerrados. Também neste ano será realizado o Encontro da Juventude do Cerrado Piauiense.

Sobre o Amapá, assim como no Mato Grosso, Higor Railan contou que a última Assembleia Regional da CPT decidiu pelo trabalho prioritário com dois públicos no estado: juventude e mulheres. No Mato Grosso do Sul, conforme Geovane Ferreira Santos, um trabalho formativo voltado para os/as jovens deve ser iniciado em breve com o objetivo de ampliar a presença da juventude na CPT e em seu trabalho diário. Em Goiás e em São Paulo também foram relatados o início de trabalhos com jovens, e no Maranhão há iniciativas com jovens quebradeiras de coco, que teve como objetivo debater a identidade da comunidade. Há ainda espaços na TEIA dos Povos e Comunidades Tradicionais e no Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom) voltados para as juventudes, segundo Ranieri Conceição. Já no estado do Ceará, uma ação recente voltada para a juventude é a Escola Camponesa realizada na Diocese de Sobral, em 3 módulos, com a participação de cerca de 30 jovens.

Dentre os compromissos assumidos pelos/as jovens da CPT neste primeiro encontro está a formação interna e a articulação e a motivação dos Regionais que não puderam estar representados neste momento.

Carta da articulação da juventude da CPT

Nós, representantes da juventude dos Regionais Amapá, Araguaia-Tocantins, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Nordeste II (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte), Piauí, São Paulo e da Secretaria Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), estivemos reunidos na cidade de Goiânia (GO) entre os dias 16 e 17 de maio de 2019. O objetivo foi de consolidar a articulação iniciada no último Congresso Nacional da CPT, ocorrido no ano de 2015, em Porto Velho (RO), além de refletir sobre as diversas realidades e desafios das juventudes da CPT.

Nesses dois dias, partilhamos nossas experiências concretas de trabalho das e com as juventudes nos diversos Regionais que estiveram presentes. Muitas são as experiências, as metodologias e os resultados alcançados nos últimos anos, dentre elas aqui destacamos: intercâmbios de jovens, encontros, acampamentos das juventudes, oficinas de comunicação, festivais, mostras de cinema, e etc. Essas experiências nos mostram um maior engajamento das juventudes camponesas nas lutas e maior participação nos espaços de decisão das comunidades. Dentro da CPT, identificamos vários avanços desde o Congresso de Rondônia, como a presença de jovens nos conselhos, assembleias e coordenações regionais e nacionais, assim como a maior inserção das CPT’s nas discussões das e sobre as juventudes.

Protagonismo talvez seja a palavra que melhor defina o teor dos debates e das decisões tomadas neste encontro. No entanto, para tornar esse protagonismo por inteiro, enriquecer as reflexões e a troca de experiências, sentimos falta de representantes dos demais Regionais. Sabemos das muitas dificuldades enfrentadas pelas equipes da CPT em todo o país, entretanto, entendemos que fortalecendo essa articulação da juventude, fortaleceremos também a continuidade necessária e contemporânea da CPT nesses Regionais.

Vários são os nossos desafios, sobretudo na atual conjuntura de retrocessos e fortes ataques aos direitos trabalhistas e às políticas públicas de educação, meio ambiente, saúde, reforma agrária, e etc., que atingem diretamente os povos do campo. As juventudes, neste cenário, estão sendo ainda mais impactadas, pois lhes são retirados os meios que favorecem a permanência na terra e no território, seu presente e seu futuro.

Felizes pela oportunidade deste encontro e cientes dos enormes desafios que temos pela frente, contamos com o apoio e o incentivo de todos e todas da pastoral. Contem com nosso engajamento e disposição de luta a serviço dos povos do campo, das águas e das florestas, nos caminhos da CPT.

Ousamos, todos e todas, escutar o apelo do Papa Francisco:

Por favor, não deixem para outros o ser protagonistas da mudança! Vocês são aqueles e aquelas que têm o futuro! (25.07.2013 – Jornada Mundial da Juventude)

Imagem: Mário Manzi

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