Esposas unem Bolsonaro, Dias Toffoli e Gilmar Mendes contra Lava Jato

As três ficaram expostas em investigações e não dispõem da proteção legal dos maridos, que agora se ajudam

por André Barrocal, em CartaCapital

Em 27 de setembro, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu uma liminar a suspender investigações em curso no Rio de Janeiro contra o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente. No fim daquele dia, uma sexta-feira, o advogado de Flávio, Frederick Wassef, foi a Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Voltaria lá sábado e domingo.

Wassef havia requerido a liminar em segredo em 3 de setembro. Alegava que uma outra decisão do Supremo protetora do senador de investigações no caso Fabricio Queiroz, ex-funcionário de Flávio quando este era deputado no Rio, estava sendo descumprida. Essa decisão era uma liminar dada em julho pelo presidente do tribunal, Dias Toffoli.

Pouco após seu advogado recorrer ao STF em setembro, Flávio agiu contra a criação, no Senado, de uma CPI da Lava Toga, que mira Toffoli. Até gritou no telefone com a senadora Selma Arruda, do Mato Grosso, que apoia a CPI e deixou o PSL. Com Flávio atacado pelo bolsonarismo raiz, o guru da turma, Olavo de Carvalho, pregou na internet que “o problema no Brasil não é a corrupção”.

O que explica essa aliança entre a família Bolsonaro, Dias Toffoli e Gilmar Mendes contra o lavajatismo? Esposas encrencadas e sem as prerrogativas legais dos maridos, segundo se ouve no STF.

Michelle Bolsonaro despontou no início do caso Flávio-Queiroz, fins de 2018. Recebeu 24 mil reais em depósito de Queiroz, em algum momento entre 2016 e 2017, conforme um relatório do órgão federal de vigilância de movimentações bancárias suspeitas, o Coaf, hoje Unidade de Inteligência Financeira (UIF). O relatório consta das apurações contra Flávio no Rio, agora suspensas pelo STF. Apurações que não estão na Operação Lava Jato, mas seguem o espírito lavajatista, antipolítica.

Bolsonaro diz que a esposa recebeu a grana em nome dele, porque ele, Jair, não tinha tempo de ir ao banco (o amante das redes sociais parece que não usa internet banking). Seria a liquidação de um empréstimo de 40 mil reais feito ao amigo Queiroz, ex-PM.

Flávio e seu advogado dizem que a colaboração do ex-Coaf com o Ministério Público do Rio foi por baixo dos panos. Na liminar de julho, Toffoli afirma que essas colaborações exigem autorização judicial. Ele tomou a decisão a pedido de Wassef. Como o STF estava de férias, era Toffoli, como presidente da corte, o plantonista.

No caso da recente liminar de Mendes pró-Flávio, não: a ação caiu com o juiz no sorteio eletrônico do STF. Baita sorte dos Bolsonaros, não é mesmo?

As esposas de Toffoli, Roberta Rangel, e de Mendes, Guiomar Feitosa, também foram alvejadas graças a colaborações informais. No caso, de auditores da Receita Federal com a Lava Jato. Os auditores fizeram chegar aos investigadores da Lava Jato análises ficais preliminares realizada a respeito dos dois casais. Era do interesse dos investigadores enfraquecer juízes do Supremo.

Numa das análises, o auditor Luciano Francisco Castro diz, sobre o casal Mendes, que o foco era “corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio ou tráfico de influência”. E que “o tráfico de influência normalmente se dá pelo julgamento de ações advocatícias de escritórios ligados ao contribuinte ou seus parentes, onde o próprio magistrado ou um de seus pares facilita o julgamento. O escritório ou empresa ligada ao contribuinte também poderá estar sendo utilizada com o intuito de lavagem de dinheiro”.

Mendes é dono de empresa de ensino jurídico, o IDP, e Guiomar, sócia de banca advocatícia. Em um julgamento que derrotou a Lava Jato no plenário do Supremo em 2 de outubro, o juiz comentou que havia “gangster no comando de investigação”. Referia-se a auditores fiscais.

Naquele dia, a Polícia Federal prendeu preventivamente alguns membros do fisco no Rio, acusados de receber suborno de investigados da Lava Jato para sumir com multas.

Também naquele dia, Bolsonaro deu posse ao novo procurador-geral da República, Augusto Aras, e comentou que, para fazer cumprir a lei, o Ministério Público não pode se desviar do cumprimento dela.

Michelle Bolsonaro, Roberta Rangel e Guiomar Feitosa agradecem.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

seventeen + 8 =