Governo exonera coordenador-geral que chefiou megaexpedição de contato com indígenas em isolamento voluntário

Bruno Pereira é servidor da Funai desde 2010 e ocupava o cargo de coordenador-geral de Índios Isolados e Recém Contatados

Por Matheus Leitão,em seu blog

O coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém Contatados da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira, foi exonerado nesta sexta-feira (4) do cargo. O indigenista, chefe da maior expedição para contato com índios isolados dos últimos 20 anos, agora voltará a sua lotação de origem, nas bases da Amazônia.

Bruno Pereira permaneceu 14 meses na coordenação-geral da área considerada uma das mais técnicas da Funai. A exoneração foi publicada em portaria do “Diário Oficial da União” desta sexta-feira (4). Nela, o secretario-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Luiz Pontel de Souza, dispensa o coordenador das atividades.

Segundo informado ao blog por servidores do órgão, havia uma pressão de setores ruralistas ligados ao governo para que Bruno Pereira deixasse a coordenação de índios isolados. Procurado pelo blog, o indigenista não quis se manifestar. A reportagem também procurou a própria Funai e aguarda resposta.

Bruno Pereira é concursado desde 2010 e ocupava uma das áreas mais técnicas da Fundação devido ao seu profundo conhecimento sobre temas relacionados a índios isolados. Foram nove anos atuando nessa área específica. Oito anos atuando no Vale do Javari, além de outros 14 meses na sede da Funai, em Brasília.

Índios Isolados

Em março deste ano, o blog revelou detalhes da maior expedição que teve o objetivo de fazer contato com um grupo de índios isolados da região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas.

A missão tinha como objetivo principal evitar conflitos entre os Korubo do Coari (isolados) e outra etnia indígena da região, os Matis (já contatados). Bruno foi responsável por todo planejamento estratégico da missão.

A Funai evitou ao máximo o contato com esses índios isolados seguindo a política da fundação consolidada a partir de 1987. Nesta época, se iniciou a ideia de “zero encontro”, na tentativa de garantir, assim, a autonomia dos índios isolados.

A política é de nunca tomar a iniciativa de aproximação para preservar a decisão deles de se isolar. O órgão abriu uma exceção com o intuito de evitar o confronto entre os dois grupos indígenas, com histórico de violência entre eles.

No mês de maio, também sob a chefia de Bruno Pereira, uma equipe composta por servidores da Funai, índios e profissionais de saúde fez uma nova expedição para manter a relação e monitorar a saúde dos Korubo, atualmente no médio curso do rio Coari, na Terra Indígena Vale do Javari.

Nas últimas duas semanas, Bruno Pereira articulou de Brasília sua última ação, que desmantelou garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em parte do estado de Roraima. A operação abordou 30 focos de garimpo e retirou invasores.

O indigenista Bruno Pereira (ao centro) em missão realizada pela Funai. Foto: Funai

Para entender melhor:

Ação destrói garimpos em RR, retira invasores e apreende até helicóptero na maior terra indígena do país

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